Venâncio Aires perde 100 hectares de erva-mate na atual safra

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No Rio Grande do Sul, segundo dados do Instituto Brasileiro de Erva-Mate (Ibramate), o segmento da erva-mate compreende aproximadamente 100 viveiros, 300 indústrias, e a estimativa de 14 mil propriedades rurais, em aproximadamente 286 municípios produtores, entre eles, Venâncio Aires.

Na Capital Nacional do Chimarrão são quatro indústrias, um viveiro, e uma expectativa de quase 500 propriedades rurais com uma produção de 800 hectares. Porém, nos últimos dois anos, uma média de 180 hectares foram perdidos. Só neste ano, foram 100 hectares, segundo o extensionista rural do escritório municipal da Emater/RS-Ascar Alex Davi Gregory.

O técnico agrícola elenca motivos que levam a queda no cultivo de erva-mate. Um dos fatores seria escassez de mão de obra e a idade avançada dos produtores. “As terras planas e altamente férteis da nossa região também estimulam os produtores a cultivar outras culturas e atividades quase totalmente mecanizadas. A alta nos cereais, como soja, arroz e milho, levam os produtores a apostarem em outras culturas”, justifica.

Apesar da queda no número de área cultivada, a Emater, em parceria com a Secretaria Municipal de Agricultura, executam, há dois anos, os editais de diversificação que visam auxiliar o produtor. Gregory comenta que foram 45 agricultores beneficiados em dois anos e quase 60 mil mudas foram distribuídas. No entanto, poucos foram para a criação de novos ervais. “Cerca de 90% das mudas foram utilizadas para replante e renovação dos ervais.”

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Segundo plano

Gregory comenta que a cultura da erva-mate ficou em segundo plano pelos produtores devido ao preço pago nos últimos anos. “Boa parte dos nossos ervais tem mais de 50 anos, são árvores antigas e poucos investem nela como cultura principal.”

Outra problema elencado pelo técnico agrícola é a falta de tratos culturais. “Precisamos ter tratos culturais, um bom manejo, qualidade do solo e um corte adequado. Isso auxilia no combate a pragas e doenças que podem atacar a erva-mate”, cita Gregory.

Um dos grandes problemas elencados pelos produtores seria o Hedypathes Betulinus (broca) que ataca a erva-mate. Antigamente esse trabalho era feito manualmente pelo produtor, hoje, existe a aplicação de um fungo entomológico que ataca uma variedade de insetos, entre eles, a broca. “É uma junção de dois fungos, Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae. A época ideal para a aplicação seria setembro e outubro na nossa região”, cita o profissional.

Quebra na produção

Em Vila Palanque, o avanço da idade já impossibilita Nestor Reis, 81 anos, a continuar e apostar no cultivo da erva-mate. Ao lado da esposa Olívia Reis, 78 anos, ele relembra que desde a infância a erva-mate é um dos carros-chefe da família. Casados há 56 anos, Reis relembra que para fazer a festa de casamento a colheita da erva foi importante. “Naquele ano a gente colheu mil arrobas e fez um festão. Se isso fosse possível ainda hoje, a gente era produtor forte, mas no ano passado só tiramos 179 arrobas”, relembra.

Hoje, ainda são 2,5 hectares com erva-mate, mas Reis conta que no passado tinham vários pedaços de terra que cultivavam a árvore. Com o passar dos anos e a desvalorização na hora da venda, a família se desanimou. “Hoje nossa lavoura está muito falhada. Alguns anos atrás a gente até replantou alguma coisa, mas agora não temos mais expectativa. Nossa meta é cuidar do que ainda tem.”

Ao lado da residência, a lavoura de erva-mate tem árvores com mais de 25 anos, outras mais de um século. “Temos algumas árvores que meu avô plantou. Depois, minha mãe herdou e cuidou, e agora é a gente”, explica Olívia.

Reis acompanhou a reportagem até a lavoura dos ervais na manhã desta quarta-feira, 7, e explicou alguns motivos que levam à quebra na produção e até ‘morte’ de algumas árvores. “É uma pena que não deu mais certo. Com o avançar da nossa idade não conseguimos mais cuidar como deveria, com isso a broca tomou conta. Como são plantas velhas, não tem mais volta”, lamenta o produtor aposentado.

Apesar da produção estar reduzindo a cada ano, Reis não está arrancando a erva-mate, porém, conforme informações do escritório local, nesta safra, inúmeros produtores realizaram a prática para o cultivo de outras culturas, principalmente a soja.

“Assim como todo negócio, a erva-mate também dá lucros e prejuízos”

Para o engenheiro agrônomo e extensionista da Emater/RS-Ascar de Passo Fundo, Ilvandro Barreto de Melo, atualmente três fatores influenciam no arranquio da erva-mate: baixa qualidade da folha, baixa produtividade e preço. “Muitos ervais estão em decadência, com uma baixíssima produtividade. A média no Brasil é uma colheita de 550 arrobas por hectare. No Rio Grande do Sul a média é 650 arroba, mas alguns produtores não chegam a 300, entretanto, no estado, alguns produtores chegam a uma produtividade maior do que a média”, explica Melo.

O engenheiro agrônomo que é o responsável técnico pelo Programa Gaúcho para a Qualidade e Valorização da Erva-Mate, ressalta que o produtor precisa de retorno na atividade. “Assim como todo negócio, a erva-mate também dá lucros e prejuízos. Mas elenco que a qualidade e produtividade da erva-mate é consequência do retorno econômico para o produtor. Hoje a tecnologia permite um bom manejo e com isso, consegue-se um maior equilíbrio na produção dos ervais”, comenta o extensionista.

Pesquisa

Para enriquecer o setor ervateiro e auxiliar produtores, os solos dos ervais estão começando a ser conhecidos no Rio Grande do Sul, revelando a sua situação nutricional. A ação faz parte da segunda fase do diagnóstico nutricional dos ervais, realizada nos cinco polos ervateiros do estado, dentro do Programa Gaúcho para a Qualidade e a Valorização da Erva-Mate. O trabalho está sendo feito em conjunto entre e o Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária, da Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (DDPA/Seapdr) e Emater/RS-Ascar.

Estudo visa auxiliar no desenvolvimento e fortalecimento do setor da erva-mate no estado (Foto: Rosana Wessling/Folha do Mate)

Informações preliminares demostram que há, por exemplo, deficiência de fósforo e de cálcio na maioria dos solos analisados, nutrientes importantes para a produção de folhas de erva-mate, segundo os pesquisadores. Um dos objetivos do trabalho é a identificação de fatores ligados à fertilidade do solo que possam estar limitando a produtividade dos ervais do estado. Outro dado levantado no diagnóstico foi a identificação de teores elevados de potássio na maior parte dos solos.

Melo salienta que a pesquisa é um método para conhecer de perto a situação real da erva-mate nos cinco polos ervateiros. “O estudo vai ajudar a corrigir o solo e vamos conhecer o estado nutricional de acordo com a necessidade da planta em cada polo ervateiro.”

O objetivo é cultivar ervais sadios, produtivos e com uma melhor matéria-prima. Assim, Melo explica que os benefícios serão para o produtor, indústria e consumidor. Venâncio Aires pertence ao polo do Vale do Taquari e conforme o cronograma, os resultados devem ser divulgados em novembro. As amostras na Capital Nacional do Chimarrão foram coletadas no ano passado.

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