Ao chegar no pomar de laranjas valência do casal Edson Horn e Erica Wollschick, em Linha Cecília, você percebe nitidamente os reflexos da estiagem. Os mais de 450 pés de laranja sofreram com a falta de chuva e, conforme Erica, muitas árvores foram salvas com a irrigação. “As frutas estão pequenas, irregulares, sem vida. Esse será o segundo ano consecutivo de quebra na safra”, lamenta.
Quando a família comprou a propriedade de oito hectares, há 11 anos, as árvores já estavam plantadas em quase um hectare. “A gente ajeitou o lugar e começamos a vender as laranjas. Teve ano que vendemos 36 mil quilos. Foi uma baita safra. Ano passado o lucro foi muito pouco”, comenta Erica.
A colheita e venda devem iniciar no fim do mês de junho, início de julho e a safra se estende até outubro. Conforme Horn, a expectativa é de comercializar seis mil quilos. “Ano passado a gente colheu 15 mil quilos, mas neste ano a estimativa de perda é de 60%”, destaca o produtor.
Bergamota
Em Linha Tangerinas, o pomar de bergamotas morgote do casal Sálvio Luiz Trindade, 57 anos, e Patrícia Campos da Silva, 42 anos, também sente drasticamente os reflexos da seca. Mas, além disso, outro fator que prejudicou o desenvolvimento das bergamotas, conforme Trindade, foi o excesso de chuva. “Em outubro, o excesso de chuva na época da floração prejudicou a flor da bergamota. Muitas frutas não vingaram. Depois, com a estiagem, aquelas que tinham sobrado acabaram não se desenvolvendo.”
Na propriedade do casal são 450 árvores da morgote e 300 pés de limão taiti. “Se fosse uma safra normal, a gente ia vender oito mil quilos de bergamota. Nossa expectativa é vender apenas dois mil quilos. No limão sempre dava uns seis mil quilos, esse ano vai dar uns três só”, reforça Trindade, que comercializa citros há 20 anos.
Os citros da família Trindade são comercializados na Cooperativa dos Produtores de Venâncio Aires (Cooprova), na Ceasa e venda direta em fruteiras e comércio local. Os prejuízos na propriedade, que tem o tabaco como carro-chefe, são listados pelo produtor. “Esse ano foi bem difícil, a moranga teve quebra de 40%. Eu sempre vendia uns sete mil quilos. Com a abóbora o prejuízo é maior ainda.”
Trindade investiu no ano passado em outras variedades, participou do edital de diversificação da Prefeitura e plantou 25 pés de bergamota montenegrina, 30 da ponkan e 25 laranjas. “Daqui há dois anos vamos ter mais variedades. Mas sempre é importante seguir as dicas e recomendações da Emater. Seguir o cronograma de poda e de tratamento com as caldas. Aqui já dobramos a produção no início com esse cuidado e auxílio da entidade.”
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Suco da Cooprova
A Cooprova se articulava para lançar, neste ano, o suco de citros com marca própria, entretanto, a falta de matéria-prima fez com que o projeto não saísse do papel. Conforme a vice-presidente da Cooprova, Mônica Moraes, os reflexos da estiagem fizeram com que os sucos não fossem produzidos neste semestre. “A princípio, nesse primeiro momento, não temos matéria-prima. Estávamos tão animados, mas vamos ter de esperar”, lamenta.
Os sucos seriam embalados no município de Dois Lajeados e comercializados nas feiras da cooperativa. Mônica explica que a agroindústria fará a industrialização e envase dos sucos e os associados levarão as frutas até a Cooprova, que serão transportadas pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural até o empreendimento. O local tem grande fluxo de produção de litros por hora e conseguirá processar uma carga por dia. “Agora o projeto fica para o próximo ano, com a esperança de uma boa safra.”
Emater estima quebra superior a 50%
Além da perda na safra, o chefe do escritório local da Emater/RS-Ascar e engenheiro agrônomo, Vicente Fin, reforça que a venda dos citros vai atrasar. “Teremos um processo natural da perda de frutos para os pássaros. A seca afetou as frutas silvestres, e a procura por alimento será grande.”
“Nesta safra, o fruto está mais seco, com um menor teor de água e a consequência é uma fruta menos doce. A fruta não está 100% desenvolvida.”
VICENTE FIN – Chefe do Escritório local da Emater/RS-Ascar
No último relatório de perdas divulgado pela Emater, os prejuízos na safra dos citros – bergamota, laranja e limão – foram estimados em mais de 50%. Fin acredita que das 15 toneladas em uma safra considerada normal, neste ano será de apenas 7,5 toneladas. “Sem contar que nos últimos anos perdemos muito na área total dos citros, pois não temos uma indústria local para a comercialização das laranja, bergamotas e limões.” Conforme Fin, a safra dos citros tende a ir de junho a outubro, porém, ainda é possível encontrar as bergamotas ‘natal’, em novembro.
Hoje os pomares comerciais de Venâncio Aires vendem 70% das frutas para atravessadores que comercializam os frutos para empresas de sucos da região metropolitana e serra. “Vale ressaltar que 30% é comercializado em parceria com a Cooprova para as feiras e programas como Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).”
- Em Venâncio Aires são 74 produtores que cultivam citros para comercialização.
Editais
O engenheiro agrônomo da Emater reforça que nos últimos anos os editais de diversificação em fruticultura estão ajudando a recuperar a área cultivada de citros. Neste ano, conforme informações do secretário de Desenvolvimento Rural, Gilmar Mohr, o edital para adquirir mudas de fruticultura deve ser projetado para o segundo semestre. “A expectativa é de destinar R$ 15 mil para a fruticultura. O subsídio visa atender algumas demandas, entre elas, a necessidade do escritório municipal da Emater, pois diversos produtores estão buscando este tipo de culturas.”
Área total de citros em Venâncio
Bergamota
- Área total (incluindo pomares domésticos) 80 hectares
- Área comercial 23,2 hectares
- Expectativa de produção 12 toneladas por hectare
Laranja
- Área total (incluindo pomares domésticos) 200 hectares
- Área comercial 71,5 hectares
- Expectativa de produção 13,5 hectares por hectare
Limão
- Área total (incluindo pomares domésticos) 7 hectares
- Área comercial 5,5 toneladas
- Expectativa de produção 8,6 toneladas
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