Hospital São Sebastião Mártir
Hospital São Sebastião Mártir está operando no negativo e a tendência é de que esse déficit aumente (Foto: Alvaro Pegoraro)

O colapso declarado pelo Hospital São Sebastião Mártir (HSSM), na última semana, devido ao limite de estrutura para internações de pacientes com Covid-19, também confirma um crítico agravamento na saúde financeira da instituição.
Seja na oferta e demanda por leitos ou nas planilhas de receitas e despesas, as contas da principal instituição de saúde de Venâncio Aires não fecham. Enquanto os profissionais de saúde convivem com uma demanda maior do que a estrutura hospitalar, uma outra ‘linha de frente’, a contabilidade, vem tendo que administrar despesas substancialmente maiores do que as receitas. O mês de fevereiro fechou com um déficit de R$ 900 mil e, ao que tudo indica, as contas devem seguir no vermelho neste mês de março. “A pandemia inflacionou valores que não dizem respeito somente à Covid. Uma caixa de luvas, por exemplo, subiu de R$ 15 para R$ 85 e não usamos luvas somente para pacientes Covid, mas em todo hospital. Tudo está mais caro, muito mais caro”, desabafa o administrador do HSSM, Fernando Siqueira.

Oportunismo

Temendo dificuldades na compra de insumos e medicamentos e até um possível desabastecimento no mercado, Siqueira repudia o que chamou de “oportunismo dos fornecedores”. Conforme ele, antes da pandemia, empresas forneciam medicamentos com prazo de pagamento de 30, 60 ou até 90 dias, enquanto que agora estão exigindo pagamento antecipado. “Por que isso? Porque existe uma demanda muito grande por esses produtos e eles estão podendo escolher, e tudo isso impacta no nosso caixa”, lamenta. Conforme ele, além dos EPIs, outros produtos, como oxigênio e sedativos, estão na mesma situação: alto consumo e alto valor de compra.

fernando siqueira
Siqueira: “A pandemia inflacionou valores.” (Foto: Alvaro Pegoraro)

Valores

Apesar dos repasses mensais das esferas municipal, estadual e federal, os valores não são suficientes para a manutenção da estrutura atual. Diante deste cenário econômico, o hospital fez um novo empréstimo em fevereiro, junto à Unimed, no valor de R$ 600 mil, que serão pagos em dez parcelas, com o primeiro vencimento em abril. Este é o segundo montante financiado junto à cooperativa, no mesmo valor. O anterior teve a última parcela quitada em janeiro. Além disso, adiantou Siqueira, o HSSM e a Administração Municipal de Venâncio Aires estudam um aditamento do contrato de manutenção de leitos de UTI Covid e leitos clínicos para pacientes Covid, prevendo um incremento nas receitas de pouco mais de R$ 100 mil.

Na área de convênios, a situação também deixa desafios. “Estamos em meio a uma sangria que não tem como controlar. A pandemia nos impõe pacientes no Pronto Atendimento com convênio, com cuidados de UTI e a pergunta que a gente não consegue responder no momento é: eu vou conseguir cobrar como sendo paciente de UTI? Pois os custos que o hospital tem com esse paciente é de internação em UTI. Então, a gente não sabe como será o mês de março, o que a gente não pode permitir é ficar de braços cruzados”, explana.

Temendo desabastecimento, HSSM faz racionamento de EPIs

A reportagem da Folha do Mate teve acesso a um documento que circulou internamente e foi direcionado aos funcionários do Hospital São Sebastião Mártir (HSSM), no qual a administração da casa de saúde anuncia racionamento controlado de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).
No documento, o HSSM justifica que necessitará ter maior controle no uso de seus insumos para tentar evitar que em poucos dias esses materiais venham a faltar, tanto por falta de recursos financeiros, quanto por falta no mercado. “Serão implementados protocolos contendo quais EPIs serão autorizados para cada procedimento, assim como quantidades fixas a serem disponibilizadas para cada setor, como, por exemplo, luvas de procedimento, aventais, entre outros”, diz o comunicado assinado pelo administrador Fernando Siqueira.

Hospital São Sebastião Mártir
Administração e direção do hospital estão preocupadas, também, com a falta de medicamentos, especialmente os sedativos (Foto: Alvaro Pegoraro)

“Sabemos o quanto é necessário o uso dos EPIs, mas isso tem um custo, além de estar raro, estar escasso no mercado. Por isso, antes de deixar de usar por falta de recursos nossos ou por falta de material no mercado, pedimos que todos usem de maneira consciente, para que não haja desperdício”, explicou Siqueira, em entrevista à Folha do Mate. Ao defender a consciência do racionamento controlado, o administrador esclarece que essa é uma ação que não vai causar nenhum risco para o funcionário. “Quando ele tiver que usar máscara N95 ele vai usar, quando ele tiver que trocar de luva, ele vai trocar. Muitas vezes, na correria por atender um paciente, os custos são deixados de lado, mas isso não pode acontecer.” Conforme o documento, o HSSM “vem passando por um momento de consumo excessivo e exorbitante de EPIs.”
O documento ainda detalha o consumo de luvas e aventais e destaca o aumento abusivo de produtos à venda no mercado. Confira abaixo:

Consumo:
2019 – 468 caixas de luvas por mês
2021 – 611 caixas de luvas por mês (previsão de R$ 100 mil em luvas no mês de março)
2019 – 2.211 aventais por mês
2021 – 4.735 aventais por mês

Preços:
2019 – 1 caixa de luvas: R$ 15,50
2021 – 1 caixa de luvas: R$ 85,00
2019 – 1 avental: R$ 1,30
2021 – 1 avental: R$ 13,53

Fonte: Comunicado interno do HSSM

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