Há exatamente um ano, o morador de Vila Santo Antônio, no interior de Mato Leitão, Daniel Fagundes da Silva, 35 anos, recebia o diagnóstico positivo para a Covid-19. Ele foi o primeiro caso confirmado da doença da Cidade das Orquídeas, que na quinta-feira, 6, havia chegado à marca de 696 pessoas positivadas para o coronavírus.
A história de Daniel comoveu e mobilizou não só a comunidade mato-leitoense, mas também de cidades vizinhas, em especial a de Venâncio Aires, onde ele permaneceu internado durante 79 dias no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM). A internação aconteceu no dia 5 de maio, quando ele ainda era considerado um caso suspeito da doença.
No dia 8, além do resultado positivo para coronavírus, a família foi informada de que o jovem tinha sido transferido do setor de isolamento da Covid-19 para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde ficou por 67 dias. Durante o período hospitalizado, além de lutar contra o coronavírus, ele precisou tratar uma bactéria hospitalar e um fungo e passar por uma cirurgia para remover a vesícula, que estava inflamada.
Após enfrentar todas essas adversidades, Daniel, que há cinco anos realizou um transplante de rim, comemorou, no dia 22 de julho, a alta do HSSM. Com uma carreata, familiares e amigos, que durante quase três meses se uniram em oração pela vida do jovem, celebraram a vitória dele contra a Covid-19.
Apesar de o retorno para casa ter sido algo muito esperado, ele não foi fácil. Naquele momento, Daniel iniciava uma nova batalha, que tinha como objetivo superar as limitações e as consequências que o coronavírus trouxe para a vida dele. Hoje, nove meses após a alta, ele conta que a vida ainda não voltou ao normal. “Não sei se um dia ela vai voltar”, afirma.
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Recuperação da Covid
Quando retornou para a residência localizada em Vila Santo Antônio, Daniel se locomovia com a ajuda de uma cadeira de rodas. Na época, não conseguia levantar sozinho, apenas com o auxílio de alguém. Ele relata que, por causa de um fungo, teve uma inflamação na coluna quando ainda estava internado – que trata até hoje com o uso de medicamentos – e, desde então, sente muita dor nas costas.
Essa situação o impossibilitou de conseguir deitar na cama para dormir. Desta forma, a família comprou uma poltrona, que foi usada por ele para dormir durante muitos meses. “Deitar na cama de verdade só consegui no último mês. Antes, eu só conseguia deitar umas duas ou três horas e já precisava sentar na poltrona”, recorda.
Em setembro do ano passado, Daniel começou a usar o andador, mas ainda não tinha abandonado completamente a cadeira de rodas. Em outubro, ele conseguiu dar os primeiros passos sozinho dentro de casa e, em novembro, com a ajuda de muletas, ia até o portão instalado no pátio da casa. A cadeira de rodas continuou sendo usada até o fim de 2020, porque o jovem não conseguia sentar em outro local. Ele também precisou realizar diversas sessões de fisioterapia.
Segundo Daniel, além das consequências que envolvem a mobilidade, ele ainda enfrenta problemas de falta de ar quando faz algum esforço, mesmo que pequeno. A voz ainda não voltou ao normal, principalmente por causa da traqueostomia feita durante o período de hospitalização, e também ficaram dificuldades para a compreensão que aparecem, especialmente, durante conversas com outras pessoas. Ele também não conseguiu voltar a trabalhar ainda.
Conquistas
Apesar das limitações que a Covid-19 causou e que Daniel ainda luta para superar, ao longo do último ano, o jovem teve algumas conquistas. Uma delas foi a alta hospitalar, após 79 dias de internação, e a recepção calorosa feita por amigos e familiares. Além disso, ele também cita o fato de ter voltado a caminhar, mesmo com dificuldade.
Outro ponto mencionado por ele foi ter concorrido a uma cadeira no Legislativo de Mato Leitão nas eleições municipais do ano passado. “Fiz a campanha de dentro de casa, falando com as pessoas pelo celular”, revela. As visitas nas casas dos eleitores eram feitas pela família. No primeiro pleito que participou, o morador de Vila Santo Antônio recebeu 98 votos. Não foi eleito, mas, no mês passado, teve a oportunidade de assumir como suplente. “Assumir foi algo novo”, destaca, ao ressaltar que conseguiu realizar um sonho.
A ideia de concorrer a vereador existia antes de ele ter sido diagnosticado com a Covid-19. Contudo, por causa das dificuldades impostas pela doença, Daniel pensou em desistir, principalmente porque a dificuldade em se locomover o impedia de fazer as visitas. “Nos primeiros meses eu ficava só sentado na poltrona olhando a rua pela janela”, lembra. Foi com o incentivo da família, em especial do irmão Adriano Fagundes da Silva, que já foi vereador de Mato Leitão, que o jovem não desistiu.
Pandemia em Mato Leitão
Desde o dia 8 de maio, quando confirmou o primeiro caso de Covid-19, Mato Leitão já registrou seis mortes causadas pela doença. O primeiro óbito aconteceu no dia 20 de fevereiro, quando um homem de 66 anos faleceu.
Ao longo do mês de março, quatro moradores da Cidade das Orquídeas perderam a vida em decorrência do coronavírus: uma mulher de 69 anos; um homem de 43 anos; um homem de 44 anos; e um homem de 82 anos. O último óbito do município por causa da Covid-19 foi confirmado no dia 3 de abril, quando um homem de 62 anos faleceu.
Conforme boletim divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde, o município tem 696 casos confirmados de coronavírus, sendo que 666 pessoas estão curadas. Até a quinta-feira, 6, Mato Leitão tinha 23 casos ativos da doença e um paciente internado no Setor Covid do Hospital São Sebastião Mártir (HSSM).
Até essa data, também já tinham sido aplicados 732 testes rápidos e foram feitos 674 exames PCR. O pico de casos confirmados da doença foi registrado na Cidade das Orquídeas entre os dias 21 e 27 de fevereiro, quando aconteceram 58 diagnósticos.
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