Quando a enfermeira Mônica Calazans, 54 anos, de São Paulo, recebeu a primeira dose da vacina, no Brasil, no domingo, 17, entrou para a história do país. Em Venâncio Aires, ainda não se sabe quem será o símbolo deste marco. No entanto, a expectativa é de que a vacinação comece ainda nesta terça-feira, 19. “Assim que as doses estiverem disponíveis em Santa Cruz, vamos buscar e iniciar”, afirma o prefeito de Venâncio Aires, Jarbas da Rosa. De acordo com ele, um profissional do Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) deve receber a primeira vacina.
A Secretaria Estadual da Saúde deve realizar, hoje, o envio de cerca de 170,8 mil doses para todos os municípios gaúchos para aplicação da primeira dose da vacina. Para a 13ª Coordenadoria Regional de Saúde, com sede em Santa Cruz do Sul, serão 4,4 mil doses para os 13 municípios. “É pouco para iniciarmos, por isso tentaremos fazer a melhor divisão possível”, destaca a coordenadora, Mariluci Reis.
Ainda não estão definidas as respectivas quantidades para cada município, o que deve ser encaminhado em uma reunião às 10h de hoje. Na ordem das prioridades, serão vacinados primeiro os profissionais de saúde que trabalham na linha de frente no combate à doença e, na sequência, pessoas que vivem em Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPI).
“Não vamos ter filas na rua nem nos postos de saúde nesta primeira fase. É importante que as pessoas saibam que não poderemos liberar a vacina para outros grupos, neste momento, pois é por ordem definida pelo Ministério da Saúde”, explica a coordenadora do setor de Imunizações de Venâncio Aires, Patrícia Durante.
Até o momento, não se sabe quando haverá uma nova remessa de doses. “O que sabemos é que virá de forma fracionada”, diz Patrícia. Ela observa que, como o número de vacinas em todo país ficou abaixo do esperado, inicialmente, deve haver mudanças nas fases de vacinação e nos grupos abrangidos.
A ideia original era de que, nesta primeira etapa, fossem imunizados todos os profissionais da saúde, idosos em lares de longa permanência e pessoas com mais de 75 anos. “Mas devemos receber apenas doses para 34% do grupo dos profissionais”, afirma.
Por isso, serão priorizados os profissionais da saúde que atuam diretamente com pacientes com coronavírus, como no setor Covid e na UTI no hospital, nos postos de saúde, Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Além deles, 61 idosos que residem em casas geriátricas de Venâncio serão imunizados. “Serão garantidas as duas doses da vacina para quem receber”, informa Patrícia.
Estrutura preparada e experiência à disposição
Apesar de a vacina contra a Covid-19 ser nova e se viver um período de pandemia, a experiência dos profissionais e a estrutura utilizada em outras campanhas de vacinação são ‘cartas na manga’ da equipe de imunização de Venâncio. Ao todo, são cerca de 30 vacinadores. Parte deles participou de uma capacitação na tarde de ontem, ministrada pela coordenadora do setor, Patrícia Durante.
A técnica em Enfermagem Sônia Mara de Barros, 40 anos, é uma das profissionais que fará parte da equipe. Ela, que atua desde 2010 na sala de vacinas do posto de saúde Central, já trabalhou em diversas campanhas de imunização.
Apesar da prática, ela diz que a sensação é de que, desta vez, é tudo novo. “Estamos acostumados com campanhas grandes, mas é algo diferente que estamos vivendo. Ao mesmo tempo que esperávamos muito por isso e parecia tão longe, agora, de um dia para o outro, tudo está preparado para começar. E todo mundo está curioso para saber quem será o primeiro a ser vacinado”, compartilha.
Ao todo, 13 postos com salas de vacinação estarão à disposição para aplicar as doses – o que será necessário quando a vacina ser disponibilizada para outros grupos. Novas geladeiras com geradores também são aguardadas para cada posto. Elas foram compradas ainda no ano passado e devem chegar em breve. “Como elas têm gerador de energia, é uma segurança a mais, para não se correr o risco de ficar sem energia e prejudicar a armazenagem das vacinas”, ressalta Patrícia. No momento, duas geladeiras estão tendo a temperatura controlada para receber as doses, quando chegarem. O indicado é que elas fiquem armazenadas entre 2 e 8 graus Celsius.
“Reconhecimento aos profissionais”
Diretor técnico do Hospital São Sebastião Mártir (HSSM), o médico Guilherme Fürst Neto considera que, além de estratégico, iniciar a imunização pelos profissionais da saúde é um reconhecimento.
“É uma forma de proteger os profissionais de saúde do vírus e evitar que eles adoeçam e precisem sair da linha de frente. Mas também é uma valorização, uma forma de reconhecer muitos profissionais que estão há dez meses sem folgas, trabalhando em escalas dobradas e sem tirar férias.”
GUILHERME FÜRST NETO – Diretor técnico do HSSM
Apesar da defasagem da equipe, em muitos momentos, por ter profissionais infectados e que precisaram se afastar do trabalho, Fürst comemora o fato de que não ter havido nenhum óbito entre médicos e funcionários do HSSM. “Tivemos colegas internados, mas, graças a Deus, não perdemos nenhum. A vacina será mais uma forma de defender os profissionais.”
Vacinação no país e no RS
- A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou no domingo, 17, a autorização temporária de uso emergencial da vacina CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e da vacina Covishield, produzida pela farmacêutica Serum Institute of India, em parceria com a AstraZeneca/Universidade de Oxford/Fiocruz.
- No mesmo dia, o Governo do Estado de São Paulo deu início à vacinação com as doses do Butantan. A enfermeira Mônica Calazans, 54 anos, se tornou a primeira brasileira imunizada com a vacina contra a Covid-19 no país. Mônica trabalha na UTI do Emílio Ribas, hospital de referência para casos graves de Covid. A primeira vacinadora do Brasil também é mulher e enfermeira. Jéssica Pires de Camargo, 30 anos, atua na Coordenadoria de Controle de Doenças e é mestre em Saúde Coletiva pela Santa Casa de São Paulo.
- Nessa segunda-feira, 18, começou a distribuição das vacinas para todos os estados brasileiros. O Rio Grande do Sul recebeu um lote de 341,8 mil unidades fabricadas pelo Instituto Butantan e distribuídas pelo Ministério da Saúde.
- Conforme o Governo do Estado, serão encaminhadas nesta terça, 19, 170,8 mil doses aos municípios gaúchos, aproximadamente a metade do recebido. A quantidade remanescente fica reservada para o posterior envio destinado à segunda dose desse público, prevista para aplicação entre duas e quatro semanas após a primeira aplicação.
- A divisão das doses segue critérios populacionais e contempla a Capital e as 18 Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS), entre elas, a 13ª, que deve receber nesta terça-feira, 19, 4,4 mil doses para serem distribuídas entre 13 municípios da região do Vale do Rio Pardo, o que inclui Venâncio Aires.
- Entre o público destinado para o início da campanha, 138 mil doses são destinadas aos trabalhadores da saúde, isso representa 34% estimado para esse grupo no estado. Por isso, a orientação é que sejam vacinados aqueles que lidam de forma mais direta com pessoas com a Covid-19, em hospitais, Samu e na Atenção Básica.
* Colaboraram Débora Kist e Letícia Wacholz
