Letícia Wacholz foi a rainha da 12ª Fenachim, edição que bateu recorde de público e retomou o desfile temático na rua Osvaldo Aranha. Ao lado das princesas
Juliana Böhm e Litchele Jaeger, representou a Festa Nacional do Chimarrão no ano de 2012. Determinada em realizar o sonho que a acompanhava desde criança, ela não desistiu na primeira vez que participou, em 2007, aos 17 anos. Embora, bem colocada na oportunidade, ela não se aventurou na edição seguinte. Focou na preparação e quatro anos depois se inscreveu novamente.
E foi no dia 1º de novembro de 2011, ao representar a Associação Tradicionalista Venâncio-Airense (ATVA) e o salão de beleza Pé, Mão e Cia, que veio a coroação de uma caminhada, cheia de determinação e empenho. “Lembro de cada instante, dos bastidores, e não esqueço de uma pergunta que um dos jurados fez, querendo saber porque a erva-mate não era tão valorizada quanto o tabaco no município. E o que falar da hora do resultado? Aguenta coração! Quando eles começaram a dar as dicas de quem seria a próxima rainha, minha prima, que também participou, já olhava para mim e dizia: é você ‘Tícia’. Quando anunciaram o número 13 e chamaram meu nome, minhas pernas amoleceram e fiquei de joelhos. Eu não conseguia levantar. Simplesmente, o que eu mais desejava desde criança, tinha acabado de acontecer. Eu demorei para aparecer no palco. Não sei explicar, mas quando apareci na passarela, meus braços naturalmente se ergueram e agradeci a Deus. O registro deste momento, inclusive, virou poster. Nunca vi meus pais tão felizes e realizados. Eles sonharam, como nunca comigo. Pois apostaram em mim e foram eles que me deram os valores que levei para o concurso.”
O sonho de criança, que até parece clichê, foi iniciado exatamente quando Leticia era apenas uma menina, quando corria entre os estandes da Festa, atrás das então soberanas. “Não podia deixar de citar a Janaina Lenz, que foi a soberana que sempre me inspirou e que só soube disso durante o meu reinado, quando em um encontro de soberanas, pude abraçá-la e dizer o quanto ela é especial para mim. Foi emoção pura. Lembro também da 8ª Fenachim, quando corri nos estandes para pedir aos expositores um pedaço de papel e uma caneta para conseguir um autógrafo da Francine Rabuske, Roberta e Patrícia.”
Durante a divulgação da Festa, muitas histórias e fatos aconteceram e estão guardados na memória da rainha. “Fomos a Brasília, tentar entregar o convite à presidente Dilma Rousseff. Mas as coisas não deram muito certas. Primeiro que ainda em Venâncio eu passei mal, fui para o hospital na madrugada, quando já estávamos no salão da Jeane nos arrumando. Levei três injeções. Depois que acabamos perdendo o voo, pois o despache das malas já havia acontecido. Até tentamos convencer a empresa e estávamos dispostas a segurar os vestidos e sapato na mão e ir assim mesmo. Mas tivemos que pegar outro voo.” Na Capital Federal, novas aventuras. “Lá, depois de nos vestirmos, partimos para as agendas no Senado, Câmara, Palácio. Comissão e presidente foram em um táxi e nós, soberanas, em outro. Não conhecíamos Brasília, e o motorista entendeu o local errado. Chegamos no local e nada da comissão chegar. Começamos a ficar nervosas, andando pra lá e pra cá e nenhuma de nós tinha celular para ligar para eles. Então a Litchele, a mais calma, falou para voltarmos até o hotel. Ao retornarmos o pessoal da comissão estava lá, nos aguardando, desesperados, achando que três soberanas tinham sido raptadas.”
As três mulheres simples, de famílias humildes, que se criaram no bairro e no interior e sempre tiveram um contato com a comunidade, sentiram que precisavam chegar ao lar dos venâncio-airenses. “Por iniciativa nossa [das soberanas], resolvemos cancelar algumas agendas em Porto Alegre e visitamos escolas do município, pois acreditamos que cada convite entregue aos alunos, representava uma família se sentindo convidada. Inicialmente, priorizamos as escolas que nós três estudamos. Foi emocionante voltar, por exemplo, na escola Zilda, e dizer que estudei ali e ser inspiração para aquelas crianças.”
O vestido não foi só surpresa para o trio, mas para toda a comunidade. “Nunca antes um vestido trouxe uma cor, um tom que saísse do verde, do marrom, dourado. Foi uma edição que evidenciou como nunca o tradicionalismo. E a proposta do meu vestido era, justamente, trazer a cor que representava a luta dos gaúchos, dos heróis farrapos.” O vestido vermelho da rainha, inclusive, rende um fato curioso. “Tivemos oportunidade de divulgar a festa em jogos do Grêmio e do Inter. Quando foi a vez de ir no Olímpico, não era permitida a entrada, no campo, com nenhuma roupa vermelha. Mas o meu vestido era vermelho, o traje típico tinha vermelho, a faixa – pela primeira vez feita em couro, também para fazer relação ao tradicionalismo – também era vermelha. Daí tivemos que ir no estádio tricolor de baby look, calça jeans, coroa e uma faixa nova. Sim, de um dia para o outro ganhamos faixas novas, produzidas pela Noélia, integrante da comissão social. Dai, é claro, ela era branca e verde.”
Três anos depois
Depois da Fenachim, Letícia, em parceria com o colega Alan Faleiro, iniciou a produção de um livro sobre a Festa. “Senti, durante a divulgação, que faltava um
material histórico da Festa. Então, como estudante de Jornalismo que era na época, não deixei esse desejo de lado e, ao fim do curso, tive oportunidade de iniciar esse trabalho como projeto experimental. O livro da Fenachim será a minha maior contribuição para a Festa. Uma forma de eternizar uma história construída por muitas mãos.”
A sequência e o término da faculdade, a qual havia trancado um semestre devido à Fenachim, viraram prioridade para a jovem depois da Festa. “Mas continuei representando a cidade em eventos como jurada e até dando palestra para candidatas de outras cidades”, lembra.
Sua trajetória no jornalismo começou em 2009, na Folha do Mate. Em 2013 foi promovida a editora-assistente e, em janeiro de 2015 assumiu como editora da redação do Jornal. Em março deste ano se formou em Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc).
“Acho que nunca foquei tanto em algo como a minha participação no concurso. Fui otimista, apostei em mim. Priorizei minha preparação, sobretudo em estudos, e quatro anos depois me inscrevi novamente. é como se meu sonho tivesse hora e data marcada para acontecer. ”