
O dia 20 de março de 1992 deu início a um novo capítulo na história de Passo do Sobrado. Na data, o município foi reconhecido e criado, por meio da Lei Estadual nº 9.545. A data que completa 30 anos tornou-se histórica a partir da mobilização de pessoas que acreditavam que Passo do Sobrado tinha potencial para se desenvolver e merecia mais atenção e investimentos por parte de Rio Pardo, município do qual era o Segundo Distrito.
No fim da década de 1980 e no início dos anos 1990, entre uma roda de mate e outra, na casa de vizinhos e amigos, que a Comissão Pró-desenvolvimento de Passo do Sobrado, presidida por Eraldo Müller, foi tendo cada vez mais certeza: a localidade tinha condições de crescer. As demandas levadas ao município-mãe, no entanto, sequer tinham retorno. Assim, entre demandas, sonhos e perspectivas, o grupo deu origem à comissão emancipacionista.
“Era um grupo extraordinário, com muita vontade. Nosso trabalho durou em torno de 500 dias e tínhamos reunião toda semana, sem nunca falhar. Éramos 12 pessoas que depois se transformaram em mais de cem envolvidas com o trabalho da comissão”, lembra o presidente da comissão e primeiro prefeito de Passo do Sobrado, Gilberto Weber, 69 anos.
Após a vitória do ‘sim’ no plebiscito em 10 de novembro de 1991 – quando 2.304 moradores aprovaram a emancipação, contra 337 ‘nãos’ -, a indicação dele como candidato a prefeito foi algo natural. “A comissão entendia que era importante ter um candidato e que pelo sucesso do plebiscito, eu teria condições de ser essa pessoa. Mas havia outros, não fui unanimidade”, pontua. O empresário, que até então não participava de partido político, filiou-se ao PDT e foi eleito em outubro de 1992.
Trinta anos depois, ele não tem dúvidas de que o empenho da comissão emancipacionista valeu a pena. “É um grande orgulho ver o que esse grupo buscou. Provamos que precisávamos, conseguimos e conquistamos a emancipação. A sensação é ter feito a coisa certa e bem feita”, avalia. Ele também ressalta que a geração atual colhe os frutos de uma luta de muito tempo. “Meu pai sonhava com isso, eu tive a oportunidade de ser uma das mãos para que se tornasse realidade e hoje tenho três filhas que podem usufruir disso”, comenta o empresário, que é proprietário da Comercial Weber, empresa que nasceu na mesma época do município.
“Tenho um grande orgulho do trabalho que fizemos com a comissão emancipacionista. Ver o município hoje é prova de que acertamos. Precisávamos disso e conquistamos. É uma sensação muito boa de ter feito da forma correta.”
GILBERTO WEBER – Presidente da comissão emancipacionista e primeiro prefeito
Comissão de Emancipação
Gilberto Daniel Weber, Clóvis Sinval Salvagni, Luiz Fernando Moenke, José Robério Kroth, Irineo Schimidt Lopes, Abel Samuel da Rosa, Paulo Claiton Janisch, Vilmar da Silva Müller, Elto Dettenborn, Ney Jacobsen, Leonor Armando Gelsdorf e Ênio José Konzen.
As primeiras ações e os desafios para construir um município
Logo após a eleição, em 1992, antes mesmo de tomar posse oficialmente como prefeito, em janeiro do ano seguinte, Gilberto Weber iniciou, junto de sua equipe, o trabalho de organização da Prefeitura do município recém-criado. “Passo do Sobrado precisava de tudo, não se sabia por onde começar”, recorda.
A primeira necessidade, ter um local para a Prefeitura, foi resolvida com uma sede improvisada no Salão Paroquial. O grupo de servidores também começou a ser montado e os primeiros equipamentos e máquinas adquiridos. “Tinha que ter gente para acolher a comunidade a partir do início do ano”, lembra Weber.
A mobilização junto ao Governo do Estado pelo asfaltamento da rodovia ERS-405 foi o principal foco de articulação política naquele momento. “Uma localidade sem acesso asfáltico voltaria a ser uma vila. Com certeza esse foi um dos maiores legados daqueles primeiros anos”, observa o ex-prefeito.
Paralelamente, havia um grande foco de trabalho na abertura de estradas e acessos, garantindo infraestrutura para a população. “Em março começariam as aulas e o objetivo era que o transporte escolar, que nunca tinha funcionado, entrasse em vigor. Para isso, concentramos toda a energia para fazer estradas onde os ônibus pudessem passar”, relembra. De acordo com ele, ao longo dos quatro anos de governo, foram 28 caminhões por dia de cascalho.
Diariamente, a rotina de Weber começava na Secretaria de Obras, de onde partiam os serviços essenciais para desenvolver o novo município. Ele também cita as vistorias nas estradas, aos sábados, as reuniões semanais com os secretários e um gravador de mão que o acompanhava por onde fosse. “Ninguém tinha celular. O que via na rua, um bueiro para limpar, um serviço para ser feito, gravava para passar para o grupo depois”, conta.
Dois séculos de história
Apesar das três décadas como município, a história do município tem cerca de 200 anos, quando iniciou-se a ocupação do território. De acordo com o historiador João Felipe Fagundes, em um primeiro momento, as terras foram colonizadas por luso-brasileiros que partiam de Rio Pardo para povoar a área que era conhecida por Couto e servia como ponto de descanso para tropeiros.
A partir de meados do século XIX, famílias de origem germânica também se instalaram na localidade misturando-se à população de origem lusa e aos descendentes de escravos africanos que trabalhavam na criação de gado e nas roças existentes.
“Com o passar do tempo, a localidade foi crescendo e novas famílias foram se estabelecendo na área. Dessa forma, a agricultura, a pecuária e o comércio foram lentamente se desenvolvendo”, contextualiza.
O historiador observa que, com o aumento populacional e da importância da localidade, a capela existente foi elevada à categoria de matriz, conforme registra o 1º livro tombo da igreja Nossa Senhora do Rosário de Passo do Sobrado, do 2º distrito de Rio Pardo, RS. Isso teve reflexo direto no desenvolvimento da localidade. “A partir da criação da Paróquia, Passo do Sobrado passou a organizar-se e a progredir gradativamente, sendo que, devido à necessidade sentida pelas pessoas da localidade, outras instituições foram se estruturando e passaram a funcionar.”
Além disso, Fagundes cita que, por volta de 1930, ocorreu uma migração intensa de moradores de outros municípios para ocupação da sede do município. “Esses novos moradores traziam consigo a esperança de prosperar em sua vida profissional e poder criar seus filhos da melhor forma possível. Dentre eles podemos citar Alberto Jacobsen, João Benno Kronbauer, Ernani Weber, Rodolfo Brückner e Jorge Gustavo Dettenborn e que contribuíram em muito para emancipação do município”, destaca.
