Foto: Kethlin Meurer / Folha do MatePara os taxistas Ignácio e Nei, quem trabalhar com o Uber deverá ter os mesmos deveres que os profissionais taxistas
Para os taxistas Ignácio (D) e Nei (E), quem trabalhar com o Uber deverá ter os mesmos deveres que os profissionais taxistas

Uber é um aplicativo para dispositivos móveis em que é possível solicitar o serviço de um motorista particular, com carros de bom padrão, sempre pretos e fabricados desde 2010. A empresa americana Uber atua no Brasil desde meados de 2014 e, embora ainda não muito comum no país, muitas pessoas já conhecem o serviço ou estão acompanhando as notícias da polêmica que vem gerando na Capital gaúcha, principalmente com os taxistas que são contrários ao serviço. E se a população de Venâncio Aires tivesse acesso ao Uber, funcionaria?

Por enquanto o serviço parece ser novidade, apenas, de cidade grande e não há previsão do serviço ser instalado em cidades do interior. O chefe do Departamento de Trânsito de Venâncio, Rodrigo Decker, no município, acredita que a relação entre os motoristas do Uber e taxistas não se daria de forma pacífica, como em todos os outros lugares do país onde houve a implantação do serviço. “Se daria certo ou não, apenas saberíamos se fosse efetivamente implantado”, explica.

Segundo ele, ainda não se pensou em instalar esse serviço, isso porque o Uber não tem perspectiva de ser ativado em cidades pequenas no curto e médio prazo.

INJUSTIçA

Conforme o presidente da Associação de Taxistas de Venâncio, Anderson Gomes, para que o serviço entrasse em vigor, seria necessária uma legislação. “Os taxistas têm a documentação deles todos o anos para pagar e não é barata, precisam passar por vistorias, e existem taxistas que fazem cursos. A Uber faz o quê? Pega um carro qualquer e coloca para trabalhar”, comenta.

Para ele, o serviço pode dar certo em Venâncio, mas o problema está na falta de consideração perante os taxistas. Sobre isso, desabafa: “Acho uma falta de consideração, não por eu ser taxista, mas pelo imposto que temos que pagar e por todas as regras que temos que cumprir. No caso do Uber, às vezes uma pessoa até mesmo sem ter qualificação desempenha o serviço.” Na opinião do presidente, o ponto positivo do Uber está na facilidade que se tem de chamar o serviço, bem como, no fato de que a pessoa tem mais uma opção de condução. “O ponto negativo seria que ninguém sabe quem é o motorista que estará atrás do volante”, complementa.

Palavras de taxistas

Profissional no ramo há cerca de 25 anos, José Nei Bandeira Gomes, mais conhecido por Nei, também é contra o serviço, e logo demonstra insatisfação: “Seria um absurdo se esse serviço existisse em Venâncio, porque é clandestino e não paga quase nada.”

Na opinião dele, quem trabalha com o Uber necessitaria ter os deveres semelhantes aos dos taxistas. Nei ressalta que um taxista gasta, por ano, em média R$ 800 com o pagamento de impostos.

Na opinião dele, o Uber não funcionaria em cidades com o porte de Venâncio, por exemplo, mas sim, em cidades maiores. “Não é justo qualquer um comprar um carro e começar a trabalhar”, acrescenta.

Ignácio Hickmann trabalha como taxista há 23 anos e é colega de trabalho de Nei. Segundo ele, o serviço apenas seria justo se fosse legalizado e se fosse necessário cumprir a mesma quantidade de regras e leis que os taxistas cumprem. “Não acho correto alguns pagarem algumas coisas e outros não”, ressalta.

Serviço divide opiniões na comunidade

Se de um lado a grande maioria dos taxistas está contra o Uber, há quem considera o serviço uma boa iniciativa, como a dona de casa Carla Viviane dos Santos. Para ela, é uma forma fácil de solicitar um atendimento apenas através de um aplicativo. No entanto, acredita que não funcionaria em Venâncio, porque muitas pessoas do interior não têm o hábito de utilizar o celular para este fim: “Tem quem usa, mas ainda acho que o serviço daria mais certo em cidades maiores, onde mais pessoas usam táxis.” Além disso, Carla assegura que não teria receio de utilizar o serviço.

Giomar Ribeiro, 65 anos, também é contra o serviço Uber. Ela, que há cinco anos utiliza táxi duas vezes ao mês, acredita que se torna perigoso o Uber, porque não se sabe quem é o condutor. “Se eu uso táxi, sempre ando com a mesma pessoa, porque a gente cria uma amizade e estabelece uma relação de confiança”, conta. Para Giomar, quem trabalhar com o serviço irá interferir e prejudicar o trabalho dos taxistas: “Isso não funcionaria aqui, porque seria injusto os taxistas cumprirem muitas leis e os outros não.”