Foto: Letícia Wacholz / Folha do MateMARIA é responsável pela limpeza e organização de todo o PARQUE
Maria é responsável pela limpeza e organização de todo o parque

Dona Maria, Tia Maria, ou simplesmente Maria não sabe mais o que é morar na ‘cidade’. Mesmo que sua casa fique apenas a quatro quilômetros do centro de Venâncio Aires, ela se sente como se morasse na ‘colônia’. Há seis anos ela acorda ao som de passarinhos. Não tem vizinhos, mas se pudesse, viveria em sua casinha verde e branca, construída em meio as árvores, para sempre. Maria de Lourdes Lopes, 57 anos, mora com o companheiro Paulo Ricardo Hansel, 50 anos, no Parque do Chimarrão, localizado no bairro Leopoldina, na entrada principal da cidade.

Toda semana, centenas de pessoas frequentam o Parque do Chimarrão, seja para prestigiar um evento esportivo, social ou tradicionalista, ou então para tomar um chimarrão, sentar na sombra ou praticar esportes. Mas poucos conhecem dona Maria, a cuidadora e moradora do Parque do Chimarrão. Ela está por toda parte, dificilmente você a encontra em casa. “Eu vou dormir depois da meia-noite e às 5h já estou de pé, tomando um chimarrão e pronta para trabalhar novamente”, relata.

Nós cuidamos deste parque como se fosse nosso. Se um dia eu tiver que sair daqui, acho que vou adoecer. Não consigo me imaginar longe desta rotina”

Nascida em Barros Cassal, ainda bebê se mudou com a família para Venâncio Aires, onde morou em diversos bairros, entre eles o Gressler e o Cruzeiro. “Dois bairros que viraram pequenas cidades, pois cresceram muito”, considera. Na memória, guarda lembranças de uma infância e adolescência de muitas dificuldades e pobreza, mas rapidamente troca o semblante para contar à reportagem o quanto é feliz pelas oportunidades que a vida lhe deu para recomeçar. Maria trabalhou por muitos anos como costureira, chegando a ter um ateliê próprio, mas foi através de seu trabalho no Centro Social, onde atuava como merendeira, que ganhou reconhecimento para assumir o posto de ‘protetora’ do parque, ao lado do companheiro. Ambos atuam como cargos de confiança (CC’s) da prefeitura e receberam a autorização para morar na casa que fica no parque. “Fomos convidados pelo Ronald Artus. No começo eu fiquei desesperada, pois tinha muita sujeira no parque. Ele estava abandonado e também pouca gente frequentava.”Mas dona Maria e Seu Paulo não recusaram o desafio e logo se inteiraram de todos os afazeres para deixar o parque em ordem. E não são poucos, garantem. “Agora o movimento é diário. Nos finais de semana lota e a gente sempre está de olho em todas as pontas, tanto na parte interna como externa do parque”, salienta. Cabe à Maria e Paulo a limpeza e organização de tudo. São eles que cuidam da grama, dos salões e ginásios. “O que mais me realiza é ver os pais trazendo seus filhos nos finais de semana para brincar e passear.”

Foto: Letícia Wacholz / Folha do MateMARIA E O COMPANHEIRO PAULO MORAM Há SEIS ANOS NO PARQUE
Maria e o companheiro Paulo moram há seis anos no parque

Maria é casada há 22 anos com Paulo, mas foi do seu primeiro casamento que teve seus dois filhos, a Rejane, de 40 anos e Vilson, de 38. Hoje ela é avó de sete netas e três bisnetos. “São as minhas paixões.”é na casa cedida pela Prefeitura que eles recebem, sempre que podem, os amigos e familiares. Com a rotina corrida, Maria vai ao centro só quando precisa pagar contas e comprar alguma coisa. “E vou de carro, tirei a carteira depois dos 40. Quando o Paulo precisa ir em algum lugar, é eu que levo ele, já que ele nunca fez a carteira. Mas ele disse que adora andar de carona”, conta.

 Descaso com o parque

Maria aproveitou o espaço da reportagem para denunciar o descaso de muitos jovens que deixam lixo e fazem ‘zueira’ em frente ao Parque do Chimarrão nos finais de semana. “Já começa na sexta-feira. Eles param em frente ao parque, colocam o som no último volume. Há meninas de 12,13 anos, que muitas vezes estão semi-nuas. Sem contar o uso de bebida alcoólica e os pegas que eles fazem no acesso”, revela.O mais triste, conforme ela, é ver o parque no dia seguinte, repleto de lixo e garrafas por todo lado. “Não admito ver nada estragado. Isso chega a doer em mim.”

 

Foto: Letícia Wacholz / Folha do MateCASA DA MARIA FICA PRóXIMa ao MORADA VELHA, ESCONDIDINHA EM MEIO AS áRVORES
Casa da Maria fica próxima ao Morada Velha, escondidinha em meio as árvores