
Nos últimos anos, a criminalidade tem se mostrado cada vez mais presente na vida da população. Roubos, assaltos, homicídios e latrocínios (roubos seguidos de mortes) foram as principais notícias de muitos meios de comunicação, o que fez a sensação de insegurança tomar conta. Contudo, vale ressaltar que muitos jovens têm cometido atos cruéis, o que mostra uma geração cada vez mais violenta.
De acordo com o inspetor da Polícia Civil de Venâncio Aires, Paulo Ullmann, o primeiro passo que contribui para os jovens entrarem no mundo do crime é o uso de drogas. “Quase que a totalidade dos jovens é usuária de algum tipo de droga”, destaca. Outros facilitadores para isso acontecer são a ausência de uma boa base familiar e a impunidade: “Existem muitos pais que não cuidam o horário que o filho chega, nem com quem anda, e isso interfere muito”.
Além disso, conforme ele, como há jovens que têm uma dificuldade muito grande para conseguir dinheiro para a aquisição de drogas, optam por praticar, em sua grande maioria, pequenos furtos até mesmo dentro de casa e na própria escola. Ullmann ressalta que quanto mais próximo da maior idade, maior o número de jovens no crime. “Nosso maior problema é quando quase estão complementando 18 anos, porque é o momento em que eles estão em uma transição. Já começam a praticar roubos e muitos vão para o tráfico”, comenta.
IMPUNIDADESegundo o inspetor, o jovem infrator costuma ser disperso, falta aulas, deixa de lado um comprometimento ou responsabilidade e começa a não apresentar um bom rendimento escolar. “Ser violento depende muito do perfil de cada um. às vezes é uma questão de educação mesmo. Nem sempre ele fica violento por causa dos crimes”, observa.
Para Ullmann, o fato da maioria dos jovens não medir as consequências dos próprios atos e ser inexperiente faz com que muitos, na hora do nervosismo, acabem por cometer o latrocínio, em alguns momentos. De acordo com o policial, quanto mais “velha e madura” uma pessoa for, mais ela vai medir os atos e ser mais calculista: “Por ser inconsequente, o jovem toma atitudes inesperadas e é mais audacioso”.
Segundo o inspetor, um grande problema hoje está no fato de o menor infrator não poder ser penalizado por algum ato que cometeu. Se o crime praticado for muito violento, o jovem é encaminhado para a Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase), localizada em Porto Alegre e que serve como uma espécie de internato. Também existe a possibilidade de ele prestar serviços à comunidade, mas isso não é frequente.
Na Fase, a pessoa tem acesso à educação, faz tratamento com psicólogo e pode ficar, no máximo, até os 21 anos. Os jovens de Venâncio, por exemplo, costumam permanecer no local em torno de meio ano. “O prazo que eles ficam lá é muito curto. Depois são largados e ficam de novo sem assistência”, analisa Ullmann.
LEIA TAMBéM: Para psicóloga, maioria dos jovens de hoje prefere o ‘ter’ em vez do ‘ser’.
Legislação penal precisa ser revisada
Para Paulo Ullmann, seria justo punir um jovem com menos de 18 anos, até porque a sociedade tem se modificado muito. “Existem pessoas de 16 anos que hoje já têm uma mentalidade de adulto, mas são consideradas criminalmente menores. Isso teria que ser reavaliado, mas em determinados crimes de maior potencial intensivo”, sugere.
O profissional ainda explica que mesmo que o jovem tenha praticado homicídios com menos de 18 anos, após atingir a maior idade, a “ficha dele estará limpa”. “Se aos 18 anos ele matou de novo, ele é réu primário, como se tivesse matado pela primeira vez. Se ele matou três vezes antes, por exemplo, ele deveria ser considerado um psicótico, maníaco, mas ele não pode ser considerado assim”, esclarece. Segundo Ullmann, a ficha precisa ser limpa porque a lei diz que quando a pessoa tem menos de 18 anos ela age sem pensar e não tem estrutura emocional suficiente.
IMPRESSõES DE REPóRTER
Por Kethlin Meurer – Repórter
“Quando ligamos a televisão, abrimos o jornal impresso e olhamos alguns sites de notícias, é possível percebermos que grande parte do conteúdo disponibilizado se refere à violência. Diante disso, me questiono: onde isso tudo vai parar? Tenho apenas 20 anos e, se até agora vi tantas coisas ruins acontecerem, o que esperar do futuro?
O dia 13 de julho deste ano foi, até agora, o dia mais difícil da minha vida, quando perdi o meu pai, aos 51 anos, vítima de um latrocínio praticado por três jovens com praticamente a mesma idade que eu. Jovens que não mediram as consequências, fugiram com o nosso carro e o largaram a cinco quilômetros da minha casa. Não levaram nada!
Mas tiraram a vida do meu pai. Jovens como esses matam como se a vida tivesse valor nenhum, destroem famílias como se não tivessem sentimentos e, apesar de toda a dor que causam, não muito tempo depois voltam a fazer tudo outra vez. Apesar de toda essa maldade, ainda sonho que, em algum momento, eu possa viver em mundo melhor. E a saudade do meu pai, como fica? Bom, essa será eterna no meu coração.