As declarações feitas pelo vereador Arnildo Camara (PTB) na sessão legislativa do dia 23 de maio – disse que não concordava com a nomeação de uma mulher (Deizimara Souza) sem conhecimento da área para a Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisp) – voltaram a repercutir na reunião da última segunda-feira, 30. Por 10 votos a 5, os parlamentares aprovaram uma moção de repúdio ao petebista, proposição apresentada por Cleiva Heck e Ana Cláudia do Amaral Teixeira, ambas do PDT.
Ao defender a moção, Cleiva salientou que as mulheres são minoria no Legislativo (além dela e de Ana Cláudia, Helena da Rosa, do PMDB, é vereadora) e que “é um esforço muito grande lutar dia após dia de igual para igual com os homens”. Cleiva argumentou ainda que a atitude não era pessoal contra Arnildo, mas que não poderia deixar o episódio passar em branco sem defender as mulheres. “Somos qualificadas, capazes e dedicadas e temos que deixar marcada a nossa indignação”, disse a vereadora.
Na esteira da colega Cleiva, Ana Cláudia afirmou, ao explicar a proposta, que não tinha intenção de “detonar” Arnildo Camara, porém se sentia no dever de manter o assunto em evidência em virtude de o petebista ser uma pessoa pública, que deveria ter cuidado ao se manifestar e, acima de tudo, respeito pelas mulheres. “Eu até acredito que ele possa ter se atrapalhado no momento de falar, mas sequer deu tempo de a Deizimara atuar à frente da pasta para ser avaliada. Faltou respeito no trato”, analisou.
Helena da Rosa (PMDB), Hélio Artus (PDT), Nery Silveira (PDT), João Carlos Schimuneck (PDT), Zecão Melchior (PMDB), João Stahl (PDT), Rudemar Glier (PMDB) e Telmo Kist (PSD) também se manifestaram a favor da moção de repúdio, embora tenham afirmado que acreditam que Arnildo Camara tenha sido “infeliz” durante seu pronunciamento. Os apoiadores da iniciativa sugeriram ao petebista que, ao se manifestar sobre o assunto, utilizasse parte de seu tempo para pedir desculpas a Deizimara.
TRANQUILO E SERENO – Com a palavra, durante a discussão da moção, Arnildo Camara preferiu partir para o contra-ataque, tendo como alvo principal a colega Ana Cláudia. Reclamou que ela estava “tirando as dores pela Deizimara” e aproveitando a situação para “fazer palanque eleitoral na Câmara”. Afirmou que tem uma família para preservar e, olhando para a assistência, onde estavam várias mulheres ligadas ao governo – e Deizimara, inclusive -, questionou se, durante o tempo em que esteve na Administração, havia “destratado alguém”. Somente no final do pronunciamento pediu desculpas às mulheres que se sentiram ofendidas, mas garantiu estar “tranquilo e sereno”, pois tinha recebido manifestações de apoio.
Vilson Gauer (PT) – que junto com Eduardo Kappel (PP), José Cândido Faleiro Neto (PT) e Renato Gollmann (PTB), além do próprio Arnildo, criticou a apresentação da moção – afirmou que a sessão do dia 23 “foi uma das piores que já vivi nesta Casa”. Para o petista, os episódios de desrespeito são registrados com frequência e mutuamente, “de ambos os lados”. Ao pedir que os colegas façam uma reflexão sobre o que a sociedade pensa de um Legislativo que não mantém uma conduta adequada, salientou ainda que “é estranho como esta moção tramitou com tanta rapidez na Câmara”. Gauer, a exemplo dos parceiros de oposição, acusou os vereadores governistas de estarem usando a situação com intenção político-partidária: “Quando a Maria do Rosário foi atacado pelo Bolsonaro, ninguém repudiou”.