Motorista de caminhão desde a sua juventude, Luiz Carlos Moraes passou dias nunca vividos ao longo dos seus 63 anos. Na segunda-feira à tardinha, sofreu um grave acidente de trânsito na RSC-287 e até quarta-feira pela manhã, aguardava pelo resgate. Durante estas mais de 40 horas, contou com a solidariedade dos moradores de Picada Mariante para se alimentar e dormir.

Morador da cidade de Paulo Lopes, no extremo leste de Santa Catarina, Moraes viajava pela RSC-287, com destino a Pantano Grande, onde buscaria uma carga de argila. O dia estava escurecendo e chovia muito naquele momento. O motorista disse que começou a perder o controle sobre o caminhão, depois de uma leve depressão no asfalto, e não conseguiu mais mantê-lo na pista.

O acidente aconteceu nas imediações da Madeireira Santos. Moraes disse que fez o possível para manter o caminhão no asfalto, mas ele se desgovernou, desceu um barranco, do lado direito da via em que ele seguia, e tombou.

Aparentemente, quem estava dentro da cabine não poderia ter sobrevivido, pois ela ficou achatada. Moraes conseguiu sair do veículo e viu que pessoas se aproximavam para lhe prestar socorro. “Olhando isso como ficou, acho que não morro mais”, brincou quarta-feira, ao conceder uma entrevista à Folha do Mate.

O motorista escapou praticamente ileso, sofrendo apenas pequenas escoriações, principalmente nas pernas. Ele mencionou que patrulheiros da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) estiveram no local, mas apenas fizeram um laudo e foram embora. “Se fosse lá onde moro, na mesma noite o caminhão teria sido tirado daqui”, constatou.

Por volta das 10h de quarta-feira, Moraes ainda aguardava a remoção do caminhão, que ficou completamente destruído. Ao lado da sua mochila com seus pertences e uma garrafa de refrigerante, esperava o dono da empresa onde trabalha, na cidade de Jaguaruna, vir retirar o caminhão e levá-lo de volta para casa.

 

“Dei a sorte de encontrar uma vizinhança muito boa”

Tranquilo, apesar da situação e de estar em um local desconhecido, o motorista Luiz Carlos Moraes agradecia pelo que lhe estava acontecendo. Com o caminhão tombado às margens da RSC-287 e a mais de 600 quilômetros de casa, contou com a solidariedade dos moradores de Linha Picada Mariante para minimizar o sofrimento.Ontem pela manhã, seu Moraes, 63 anos, aguardava ansioso pelo seu resgate. Junto a uma bolsa com seus pertences e uma garrafa plástica de refrigerante, enfrentava a fina garoa à espera do dono da empresa para quem trabalha, que estava a caminho. Por alguns instantes, conversou com a reportagem da Folha do Mate e se disse um privilegiado, pelo fato de estar sendo tão bem tratado.

Folha do Mate – Desde quando o senhor está aqui?Luiz Carlos Moraes – Desde o início da noite da segunda-feira. Estava escurecendo quando me acidentei.

O senhor lembra como foi o acidente?Chovia bastante naquele momento. Na verdade, eu errei o caminho, pois ia para Pantano Grande, mas por causa desta chuva, não vi o local aonde deveria ter entrado. Então conversei com outros motoristas e eles me disseram que por aqui o caminho era ainda melhor. Perdi o controle depois daquela baixada (apontando para um leve declive na pista) e tentei manter o caminhão na rodovia, mas não consegui e ele, desceu o barranco e capotou. Foi como empurrar o caminhão com as mãos para o lado.

Como o senhor conseguiu escapar praticamente ileso, já que a cabine ficou destruída?Não sei explicar direito, mas assim que o caminhão parou, consegui sair e logo vieram as pessoas que moram aqui perto, me ajudar. Se tivesse ficado preso, não sei. Acho que não morro mais.

E onde o senhor passou a primeira noite?Me indicaram uma pousada (em Vila Estância Nova) e na segunda-feira dormi lá e de manhã voltei pra cá.

Ninguém da polícia ou da EGR veio lhe presta socorro?A Polícia Rodoviária esteve aqui logo depois do acidente, fez um laudo e foi embora. Mais ninguém veio falar comigo. Se isso tivesse acontecido lá onde moto (na BR-101), o caminhão tinha sido retirado daqui ainda na segunda-feira à noite.

E na terça-feira, aonde o senhor dormiu e fez as refeições?Graças a Deus o acidente foi aqui, onde existe uma vizinhança muito boa. Me deram alimentação e dormi em uma casa, aqui perto, onde também tomei café hoje de manhã.

O senhor já havia se envolvido em um acidente antes?Nunca, esta é a primeira vez.

E agora pensa em abondonar a carreira?Não, só quero chegar em casa, pegar outro caminhão e voltar para a estrada.