Quando se fala sobre o funcionamento da democracia, começa-se com o sistema de freios e contrapesos, em que os três poderes de estado mutuamente se controlam. O Conselho Nacional do Ministério Público dá exemplos disso: “o Legislativo julga o Presidente da República e os ministros do Supremo; o Presidente da República tem poder de veto a projetos aprovados no Congresso; o Judiciário tem poder de anular atos inconstitucionais ou ilegais dos demais poderes.” É bom lembrar que, pela Constituição, compete ao Ministério Público “zelar pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados”. Ao Poder Legislativo cabe expressamente fiscalizar e controlar os atos do Executivo e zelar pela preservação de sua própria competência, como manda a Constituição.
Não custa lembrar que, ao garantir a liberdade de informação sem censura, a Constituição pressupõe que, entre os freios e contrapesos, há controle da mídia sobre os órgãos do estado. “Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social”. Isso quer dizer que também a mídia integra o sistema de freios e contrapesos. Ainda mais importante nesse controle são as garantias da cláusula pétrea da Constituição: a livre manifestação do pensamento, vedado o anonimato; o direito de resposta; o acesso à informação; a liberdade de reunião pacífica.
Esse amplo conjunto de forças é como uma convergente assembleia nacional em que poderes e interesses se digladiam, debatem, se somam, se misturam e convivem, resultando no que chamamos de democracia. Quando há freios e contrapesos, como pensou Montesquieu, há equilíbrio. Quando não há, existe a imposição de vontade, de arbítrio, e não da lei e do interesse médio comum ou da maioria. Aí, não é democracia. Sobretudo quando a vontade de poucos se sobrepõe à Constituição e fere direitos básicos -aí é sinal de que o sistema já se desequilibrou, sem freios e sem contrapesos.
Quando a voz das ruas se perde na indiferença dos palácios; quando a voz da mídia se cala e não reflete as opiniões nacionais; quando a voz dos legisladores se acovarda e o Congresso deixa de ser caixa de ressonância da nação; quando há vozes monocráticas; então é preciso pensar o que se quer para a atual e futuras gerações de brasileiros vitimadas pelo esquecimento da importância vital da Constituição; ou que – alienados ou ingênuos – não sabem que o estado existe para servir a Nação, e não para tolher-lhe as liberdades e garantias de Direito e Justiça. Todos somos responsáveis mas, acima de tudo, devem responder perante a Nação aqueles que, por dever de ofício, juraram manter, cumprir e defender a Constituição.