Leio que hoje é dia de show – ou Xôu, neste caso – da Xuxa em Porto Alegre. Não em qualquer lugar, mas no Gigantinho, com capacidade para mais de dez mil pessoas. A Xuxa em questão é ela mesma, Maria da Graça, dita rainha dos baixinhos. Com direito a nave especial, paquitas e tudo mais. Confesso ficar meio aturdido com certas coisas. Este tour nacional da Xuxa – que, a julgar pelos relatos da web, tem rendido bons públicos por onde passa – é uma delas. Já havia sido assim com a turnê de Sandy & Júnior, com direito a profusão entre a plateia das famosas faixas com o nome da dupla na cabeça – que já me causavam estranheza em 1996, quando eu ainda estava na pré-escola. Vida louca vida.
Alucinante
É fato que a música brasileira do mainstream de hoje transforma qualquer single da Angélica no AC/DC, mas o sucesso de tais artistas nestes dias tem seus enigmas. Quem diria, há dez anos, que estaríamos hoje admirados com a Xuxa, que chuta o balde sobre playback – disse usar por fazer os shows pela diversão dela e do público e por todos saberem que ela não canta nada; enquanto Anitta reclama, no Rock In Rio, que faz playback por ser impossível cantar e dançar por uma hora sem parar. Ou então com a Sandy, que depois de crescida, disse não gostar de sertanejo, mas entender ser possível haver prazer com sexo anal. Coisas impensáveis nos tempos duma geração que não conheceu o mundo atual – e precisava de ácido para obter efeitos alucinógenos na mente.
Menos um
O Supremo Tribunal Federal, aquele mesmo do julgamento de prisões por condenação em segunda instância, publicou neste mês ata de julgamento em que oficializa: está extinta a obrigatoriedade de pagamento de anuidade à Ordem dos Músicos do Brasil, a OMB, para o exercício da profissão. Ufa. Pode não ser muito, mas é menos uma instituição que não ajuda e ainda atrapalha. Pelo menos é o que se tem conhecimento, em âmbito local e em dados momentos da história. Que essa moda pegue – e rápido.
Era assim
Há registros pouco saudosos, afinal, da atuação da Ordem em Sebastianfield – ou devo dizer Tipuanópolis? Como no fim dos anos 90, no show de estreia da banda Kúmplices, nas noites de rock do então chamado bar Opção Urbana, atual Opção Alternativa – ainda havia tipuanas à época. Lá pelas tantas, um fiscal apareceu e ameaçou chamar a polícia para recolher o equipamento. O guitarrista Luiz Ruschel teve de explicar que a banda era formada por alunos seus, todos ainda menores de idade. Sequer sabiam se um dia se tornariam músicos profissionais e estavam ali para fazer um teste. O público ajudou e gritou para que o homem se retirasse. Deu certo.
Três acordes
# Ao menos em nível local, a existência da OMB não se justificava há tempos. Os bons shows são escassos. Os cachês para quem resiste e ainda toca são inexistentes. O público quase zero. Em certos nichos, é uma condenação à morte por inanição.
# Além da música e do interesse do grande público pela mesma estarem ausentes da cidade já há algum tempo, agora também não há mais tipuanas. Por bem ou por mal, o corte não anunciado das pobres árvores foi uma das coisas mais rock’n’roll ocorridas nesta pacata cidade em anos. Dentre tantos males desnecessários que vivemos aqui e ali, eis um que se fazia preciso.
# Vamos lá: é ruim que se cortem árvores; que a natureza perca espaço para o concreto; que a arborização da cidade seja paupérrima há anos e que a praça logo ao lado esteja relegada à própria sorte. Nada disso, no entanto, justificava a permanência daquelas árvores em específico, que jamais pediram para estar ali, em local inapropriado e de forma inapropriada. Que se tomem as medidas para que voltem àquele local da maneira certa o público, a música, as árvores, a sombra e até o banheiro público. E logo.