Arte conceitual: Exposição de Ai Weiwei em Londres

Foto: S S Beglin / arquivo pessoalInstalação do artista chinês se prolonga até od dia 13 de dezembro
Instalação do artista chinês se prolonga até od dia 13 de dezembro

Em toda Europa, tradicionalmente no início de outono museus e galerias lançam novas mostras, exposições, coleções de obras e trabalhos artísticos oferecendo intensa PROGRAMAÇÃO cultural. Depois dos dias longos de verão quando os europeus aproveitam as férias ao ar livre, debruçados na imensidão de gramados nos parques das capitais, chega o outono, de mansinho.E foi assim, inspirada pelo espírito artístico da nova estação, que aproveitei esta semana para visitar a Academia Real de Artes (Royal Academy of Arts) na capital britânica. A galeria inaugurou no dia 19 de setembro uma grande exposição de obras do artista chinês Ai Weiwei e que ficará aberta ao público até o dia 13 de dezembro. Os salões principais da Royal Academy foram preenchidos com composições contemporâneas do famoso artista. Ai Weiwei é o símbolo da resistência política contra o regime opressor chinês e um dos mais conhecidos da arte conceitual, com forte cunho político. Durante anos foi perseguido pelo governo, encarcerado sem motivo aparente e por quatro anos, até julho passado, teve seu passaporte confiscado pelas autoridades chinesas. As criações de Ai Weiwei são abstratas e refletem – com profunda ironia – a censura imposta em seu país. Ele sabia que era vigiado 24 horas por dia e neste conjunto de obras artísticas retrata nitidamente esta falta de liberdade de expressão na China.

Foto: S S Beglin / arquivo pessoalNesta criação o artista utilizou restos dos tijolos de seu estúdio que foi demolido pelas autoridades chinesas
Nesta criação o artista utilizou restos dos tijolos de seu estúdio que foi demolido pelas autoridades chinesas
Foto: S S Beglin / arquivo pessoalTapete de vigas de aço recuperadas depois de um terremoto devastador que em 2008 atingiu a província de Sichuan. Esta criação é uma denúncia que recorda os cinco mil estudantes que morreram no interior do prédio escolar, destruído devido à construção mal feita
Tapete de vigas de aço recuperadas depois de um terremoto devastador que em 2008 atingiu a província de Sichuan. Esta criação é uma denúncia que recorda os cinco mil estudantes que morreram no interior do prédio escolar, destruído devido à construção mal feita
Foto: S S Beglin / arquivo pessoalMuito mármore... adorei esta instalação
Muito mármore… adorei esta instalação

é um retrato brilhante e terrorizante. O propósito de seu trabalho é de beneficiar a sociedade como um todo, sem restringir-se apenas à crítica. E é justamente isso que sinto ao navegar pelas instalações do artista. Eu não sou entendida no assunto porém confesso adorar ter minha atenção sequestrada por objetos de arte contemporânea. Eu acredito que a arte e criatividade apresentam poder enorme, imensurável, de preencher lacunas, de completar quebra-cabeças e, em especial, de nutrir nosso pensamento. Com a ajuda do audio-guia multimedia fui me perdendo no imaginário, desvendando a história de cada criação de Ai Weiwei. O artista usa uma variedade incrível de materiais, a maioria reciclados, desde vigas de aço, pedaços de tijolos, madeira e muito mármore (o artista era sócio de uma pedreira). Do começo ao fim, a exposição representa a luta pessoal do artista permeada pelo paradoxo do comunismo e condições de vida na China.

Cada instalação é uma peça fundamental da vida de Ai Weiwei e pode-se facilmente perceber a mensagem de liberdade que ele transmite em cada criação. à primeira vista, as obras parecem sem significado, mas quando deixo meu olhar se prender em cada detalhe vou aprendendo muito mais do que podia imaginar. Vou sendo anestesiada pelo fascínio misterioso da criatividade humana, transcendendo territórios e culturas tão distantes da minha. Entre fragmentos de madeira antigos, arabescos de templos chineses demolidos, tijolos esfarelados, vou percebendo que este bloco maciço de arte evoca tanto o culto à madeira dos chineses como também os elementos da vida das pessoas – e seus meios de subsistência

Foto: S S Beglin / arquivo pessoalalgemas esculpidas em mármore simbolizando o período de detenção
algemas esculpidas em mármore simbolizando o período de detenção

Totalmente esculpida em mármore, a cena de um carrinho de bebê no parque, vigiado por câmeras de monitoramento, retrata um dos tantos momentos da vida cotidiano do artista, passeando com seu filho, como tantos outros pais, mas sob os olhos do “big brother”.

Foto: S S Beglin / arquivo pessoalmais uma foto da instalação no parque de mámore sendo vigiado por cameras de monitoramento
mais uma foto da instalação no parque de mámore sendo vigiado por cameras de monitoramento

Uma das obras mais dramáticas e chocantes (S.A.C.R.E.D) se trata de um conjunto de cubos de ferro representando a vida na cela da prisão, sendo observado por dois guardas, durante 81 dias, período em que o artista foi encarcerado pelo governo chinês. Dentro de cada cubo dioramas contendo figuras do artista e os dois guardas oficiais revelam o sofrimento do artista. As iniciais S.A.C.R.E.D (sagrado em português) representam cada cena nas seis caixas de ferro – Supper (jantar), Accusers (acusadores),Cleansing (limpeza, na cena em que o artista toma banho sendo vigiado), Ritual (cena em que o artista esta rezando), Entropy (entropia, desorganização), Doubt (dúvida)

Foto: S S Beglin / arquivo pessoalAi Weiwei desafia o pensamento... papel de parede no salão onde está instalada a obra S.A.C.R.E.D
Ai Weiwei desafia o pensamento… papel de parede no salão onde está instalada a obra S.A.C.R.E.D
Foto: S S Beglin / arquivo pessoalSeis caixas de ferro retratam cenas cotidianas do artista em cela solitária
Seis caixas de ferro retratam cenas cotidianas do artista em cela solitária

O mais irônico é a maneira como o artista construiu estas caixas de ferro mostrando seu confinamento. Em cada um tem uma portinha, que não se abre, que está ali para garantir a fachada normal e representar o conformismo tão peculiar ao regime comunista. Através de uma pequena abertura em cima do cubo, nós visitantes, somos convidados a usufruir da nossa liberdade para “espiar” dentro da cela. Mais uma vez o artista documenta simultaneamente um ato de opressão e brutalidade e um espírito de liberdade desafiador. E dessa forma, nos tornamos testemunha e espião!

Simplesmente fascinante como esta mostra nos faz refletir e desafia nossos pensamentos. As criações de Ai Weiwei parecem transformações poéticas. Mesmo quando seu próprio país faz de tudo para silenciá-lo, Ai Weiwei utiliza suas obras para se expressar, desencadeando o poder político da arte. Porque, no final, a arte sempre vence!

Em exposição até 13 de dezembro 2015 noRoyal Academy of Arts, Londres

Ingressos £16 adulto (com audio multimidia), crianças abaixo de 16 anos entrada franca

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