Economia londrina continua a crescer
Economia londrina continua a crescer

Em junho de 2016, os britânicos iniciaram um novo capítulo na história do país quando em consulta popular foram às urnas para escolher entre a permanência ou saída da União Europeia. A ruptura com o bloco europeu foi a opção escolhida por 52% dos eleitores. Foi um plebiscito cujo resultado chocou o mundo e continua até hoje a criar discursos inflamados no parlamento britânico.

Mais de três anos já se passaram desde o referendo e o divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia parece cada vez mais difícil de acontecer. O resultado da consulta popular já tirou o mandato de dois primeiros-ministros do partido conservador e talvez um terceiro em dezembro quando acontece a eleição geral antecipada no país. David Cameron caiu fora logo depois do resultado do plebiscito. Theresa May negociou a saída através de acordou que foi reprovado três vezes pelo parlamento britânico e no verão passado solicitou seu afastamento do cargo.

Veio Boris Johnson, ex-prefeito de Londres, e defensor ferrenho do Brexit (termo que entrou no dicionário inglês depois do plebiscito e que significa a saída do bloco) e o país inteiro entrou em polvorosa pois com Boris o Brexit tinha todas as chances de sair do papel! Ele tinha até data certa: 31 de outubro. O último dia de outubro chegou e o Brexit continua bem longe. Pois o parlamento britânico optou pela prorrogação de mais três meses, até o final de janeiro. E assim continua a novela política dos ingleses.

Um dos principais problemas do governo conservador é o fato de não ter maioria no parlamento. Sem deputados suficientes para aprovar novas leis Boris Jonhson anunciou nesta semana as eleições antecipadas no dia 12 de dezembro. Ele espera que o pleito aumente o número de parlamentares conservadores, facilitando seus planos para o Brexit.

Britânicos vão às urnas em dezembro

Mas no cenário político atual tudo pode acontecer e nenhuma vitória está garantida! Os dois maiores partidos do Reino Unido – conservador e trabalhista – já estão a mil em campanha por todo país. O sistema eleitoral aqui é bem diferente do Brasil. A começar pelas eleições que podem ser realizadas a qualquer momento desde que tenha aprovação do parlamento. A próxima eleição geral para primeiro-ministro estava prevista para abril de 2022 mas com o apoio de deputados dos partidos de oposição o primeiro- -ministro solicitou a antecipação do pleito.

O voto aqui é facultativo e por isso só vai às urnas quem quer! Os eleitores não possuem título de eleitor e devem apenas se cadastrar junto ao órgão responsável na prefeitura local, pelo correio ou online. Nas últimas eleições legislativas quando eu fui votar sequer solicitaram meu comprovante de identidade. Meu registro foi verificado na lista da mesa e assim recebi a cédula para votar marcando um X, bem rudimentar, ao lado do nome do candidato escolhido. A era da modernidade com voto eletrônico ainda não chegou aqui na Inglaterra, mas os eleitores podem optar pelo voto à distância, ou seja, pelo correio antes do pleito. Tradicionalmente as eleições sempre acontecem numa quinta-feira e dia normal de trabalho.

A campanha eleitoral aqui não pressupõe contato direto com o eleitorado com palanques de autoridades, comícios, panfletos, muito menos carros de som. Muitos dos eleitores sequer conhecem os candidatos locais em que votarão. Eles votam no candidato que representa o seu partido.

O parlamento britânico é constituído por 650 membros, cada um representando um distrito eleitoral. O Reino Unido, formado pela Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte, é dividido em 650 circunscrições, ou distritos eleitorais, em média com 70 mil eleitores formando um colégio eleitoral de mais de 42 milhões de pessoas. Como aqui só vota quem quer, o índice de comparecimento às urnas é baixo.

Nas últimas eleições gerais pouco mais de 60% dos eleitores britânicos decidiram ir às urnas. O sistema é bem diferente do Brasil. O eleitor não vota no primeiro-ministro mas escolhe o candidato à deputado que representa o seu distrito local. Ou seja, eu só posso votar nos candidatos inscritos na minha circunscrição, geralmente um representante de cada partido. E assim cada distrito garante um representante.

O partido que conseguir a maioria parlamentar obtendo o maior número de cadeiras no Parlamento, ou seja o cobiçado número de 326 deputados, vence as eleições. O líder do partido, que tem que ter sido eleito deputado no seu próprio distrito eleitoral, se torna então o novo primeiro ministro e é convidado a formar um governo. Como aqui não existe segundo turno, no caso de um partido não alcançar a maioria parlamentar, como aconteceu em 2010, o parlamento é considerado “suspenso” (em inglês, hung parliament) enquanto os partidos tentam costurar alguma coalizão partidária.

Finalzinho dourado da estação que precede o inverno

A próxima eleição será com certeza marcada pelo assunto Brexit. Atualmente cerca de 70% do parlamento britânico quer a permanência do Reino Unido na União Europeia embora a grande maioria dos deputados respeite o resultado do referendo. O partido liberal faz campanha pela revogação do plebiscito assim como os representantes escoceses.

Na Escócia mais de 60% dos eleitores votaram pela permanência na UE. E assim, o divórcio do Reino Unido é recheado de complicações. Existe a possibilidade de uma ruptura do país, com a Escócia pleiteando sua independência e o isolamento da Irlanda do Norte.

É verdade que os britânicos nunca se sentiram “europeus”. Eles raramente abraçaram a bandeira europeia como os demais países do bloco. E nunca se deslumbraram com o parlamento do continente. No entanto, depois de três anos de negociações muitos parecem agora a acreditar que a melhor opção seja ficar na UE, principalmente no mercado econômico. Afinal de contas, a balança mercantil do Reino Unido depende dos países vizinhos: 43% das exportações britânicas têm destino europeu e 54% das importações provêm dos países do bloco.

Os ingleses, tão acostumados às prateleiras variadas e abundantes, de frutas e verduras frescas (produzidas sob o sol do Mediterrâneo), agoram começam a se preocupar com a própria mesa e a possibilidade de ter que desembolsar mais pelas delícias da Europa. O divórcio acarretará muitas mudanças. Tantas que ainda sequer temos noção. E somente agora, depois de três anos, os ingleses começam a se dar conta do impacto que esta ruptura terá na vida de cada um.

No dia 12 de dezembro os britânicos mostrarão nas urnas o caminho a seguir. Uma vitória do partido trabalhista pode significar um segundo referendo quanto à saída ou permanência na UE. Caso vença o partido conservador, o Brexit será derradeiro. Por enquanto o divórcio está marcado para o final de janeiro, mas depois de tantas prorrogações não me surpreenderei com mais alguma mudança no cronograma. Esperar para ver.

Paisagem de outono cria cenários encantadores

RESPINGOS DO OUTONO

De volta à terra da Rainha nesta semana curtimos o esplendor do finalzinho de outono. Dias mais frios e dourados, característicos desta época do ano, iluminam os parques londrinos e campos pelo interior do país. A luz do outono coloca na paisagem uma nova  palheta de cores: profundas e aconchegantes, oscilando entre o claro e o escuro. Tons avermelhados e alaranjados tingem o horizonte numa aquarela divina.

Paisagem de outono cria cenários encantadores