Volta ao passado na mansão de Claydon!

Nesta semana de recesso escolar em todo Reino Unido aproveitamos para curtir com a família um pouco da beleza do condado onde moramos. E assim passamos um dia visitando a mansão de Claydon, situada a 110km de Londres no condado de Buckinghamshire, noroeste da capital. Passear pelo interior da Inglaterra significa aprender sobre a riqueza de seu passado riquíssimo pois cada cantinho simboliza um pedaço da história do país. Por aqui a história é respeitada e muito bem preservada. Passear pelo interior da Inglaterra também significa deixar-se levar pelo charme e tranquilidade da vida rural.

Antes mesmo de chegar neste esplêndido palácio rural somos acolhidos por paisagens deslumbrantes de campos repletos de ovelhinhas pastando, recortados por riachos de água límpida. A Inglaterra é conhecida por suas mansões, palácios e castelos históricos. Tudo começou há muito tempo! Algumas construções remetem a inúmeros séculos passados, antes mesmo de o Brasil ser descoberto. A maioria retrata o passado britânico imperialista. Durante os anos de 1700 e 1800 a nobreza britânica vivia o auge do grande império e aventuras a outros territórios em busca de inspiração artística e filosófica eram comuns entre os jovens aristocratas. Nesta época foram construídas muitas mansões requintadas, as famosas casas de campo, onde as famílias recebiam amigos e convidados para grandes banquetes e se deliciavam com passatempos típicos da época, entre cavalgadas, caça e pesca.


Estes palácios rurais eram decorados de maneira tal a ostentar a riqueza adquirida durante as viagens ao exterior. Objetos de arte raros, porcelanas, quadros, estátuas, tapeçarias e móveis eram trazidos de outros rincões para ornamentar as mansões e podem ser contemplados até hoje. Justamente entre 1757 e 1771 a mansão de Claydon foi edificada para substituir um antigo palácio em ruínas, no vilarejo de mesmo nome, esboçando arquitetura clássica no meio de um parque verde. A mansão pertence à renomada família Verney, muito influente na sociedade britânica durante os séculos XVIII e XIX. Nos últimos quatrocentos anos a mansão rural viveu momentos de glória com visitas da família real e nobreza britânica além de hospedar regularmente no final dos anos 1800, FlorenceNightingale, parente da família e enfermeira britânica que ficou famosa por ser pioneira no tratamento a feridos de guerra, durante a Guerra da Crimeia, conflito contra o Império Russo (1853-1856).

Ao longo dos anos a edificação sobreviveu às intempéries, com várias restaurações e mudanças, passando de geração à geração e continua sendo habitada até hoje pelos descendentes da família Verney, embora a manutenção do palácio e parque seja feita pela Fundação Nacional de Patrimônio Público (National Trust), organização britânica não governamental responsável pela conservação do patrimônio histórico do país. Desde 1943 a propriedade foi doada à Fundação para restauração e conservação. E assim a família mantem o direito de usufruir do patrimônio sem ter que arcar com o custo astronômico de manutenção da antiga construção. Em contrapartida o parque e a mansão permanecem aberto ao público durante boa parte do ano sob direção da Fundação e seus milhares de voluntários, na maioria aposentados que dedicam algumas horas por semana trabalhando gratuitamente como zeladores e guias de monumentos, mansões, palácios e castelos mantidos pela entidade. Este sistema de parceria entre a fundação National Trust e herdeiros de famílias aristocratas é muito comum aqui, preservando a história ao mesmo tempo que privilegiando o público em geral com o oportunidade de conhecer locais que definem a cultura britânica.


Ao entrar na mansão de Claydon somos acolhidos por duas simpáticas senhoras, no auge de seus setenta e poucos anos prontamente apontam para o caminho a seguir oferecendo um folheto informativo contando um pouco da história de cada aposento. O teto alto e trabalhado em linhas curvas e delicadas no primeiro salão remete ao estilo rococó, característico da época em que a mansão fora construída.

Pelas paredes ornamentadas por quadros de pintura a óleo e espelhos gigantescos decorados no estilo da luz vamos nos perdendo na imensidão de longos corredores entre um aposento e outro. A impressão é de estar caminhando num cenário de filme de época transpirando o ar de grandeza e opulência desta gloriosa mansão.


Da biblioteca recheada de enciclopédias e clássicos da literatura britânica aos quartos privados, a decoração -embora esplendorosa- com papel de parede cheio de detalhes e cortinas em tons escuros, revela sobriedade. No segundo andar da mansão encontra-se a grande maravilha de Claydon: o salão chinês, um dos exemplares mais refinados do estilo rococó “chinoiserie” de toda Inglaterra. Essencialmente uma versão chinesa do estilo rococó decorativo.

E quanto detalhe! O salão é permeado por pequenas esculturas chinesas (verdadeiras obras de arte!), sinos e templos enquanto redemoinhos e pergaminhos orientais adereçam paredes e portas até chegar a uma espécie de santuário abrigando um divã – tipo trono – e que antigamente era usado como leito. Um trabalho artístico espetacular e muito bem preservado. No mesmo andar encontra-se ainda outro salão repleto de artefatos chineses além de um pequeno museu dedicado à enfermeira Florence Nightingale.


A paisagem natural em torno da mansão de Claydon é testemunha de seu passado rural e bucólico, marcada por campos pastoris recortados por um riacho, convidando os visitantes a caminhar pelo parque enorme. E foi justamente isso que fizemos, explorando cada cantinho no meio do verde. E mais adiante continuamos a nos maravilhar com a exuberância dos jardins coloridos, contagiados pelo perfume adocicado das glicínias em plena floração, cobrindo as paredes exteriores desta mansão com ar de monumento histórico.
Um passeio maravilhoso, curtindo o interior da Inglaterra. No parque em torno da mansão existem dois cafés com muitas opções de sanduiches e bolos, e para quem curte arte contemporânea têm duas galerias de arte além de uma lojinha com coleção de objetos bem eclética, variando do vintage original ao shabby chic. Vale à pena visitar
Com a localização rural, a melhor maneira de chegar é de carro ao vilarejo de Steeple Claydon – a uma hora e meia do centro de Londres. Ou então de trem da estação londrina Marylebone até Aylesbury Vale Park e depois taxi (10 min).



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