Chegou a hora da despedida, neste início de inverno em Minsk. Em agosto de 2013 nos mudamos para a capital bielorrussa e agora no finalzinho de 2015 estamos voltando para casa. Vou me despedindo da realidade de um país onde poucos sorriem e muitos vivem sob opressão. Vou dizendo adeus à república sem democracia ou identidade própria, onde continua vingando a polícia do pensamento, como se referia o escritor inglês George Orwell em sua obra “A Revolução dos Bichos”. Infelizmente este é o sistema do país. Desde o desmembramento da antiga União Soviética, a Bielorrússia vem sendo governada pelo mesmo presidente, Alexander Lukachenko, considerado pelo Ocidente como o último ditador da Europa. Liderando o país há duas décadas, desde 1994, a cada reeleição lhe são conferidos maiores poderes. Como governante, ele detém poder máximo e absoluto e de certa forma vem blindando a Bielorrússia, distanciando o país do bloco europeu e se aproximando cada vez mais da pátria mãe, Rússia. O regime totalitário onde a pena de morte continua em vigor, abrange todas as esferas de governo.
O povo é fadado ao conformismo enquanto lhe é tolhida a liberdade de expressão. Aqui não existe liberdade de imprensa. Os poucos jornais que circulam em Minsk são controlados por organizações governamentais. Nos canais da televisão estatal as notícias são sempre positivas com frequentes pronunciamentos do presidente, mascarando problemas internos com imagens de progresso e fomentando a ideia de que a Bielorrússia é o melhor país do mundo! E pode até ser, para aqueles que nunca sairam do bloco socialista. E essa é provavelmente a imagem retida pela maioria da população, principalmente as gerações antigas que acreditam na ideologia comunista. Para eles o modus operandi da velha União Soviética permanece até hoje. é interessante perceber que no interior do país e periferia da capital os canais estatais são mais abrangentes demonstrando popularidade e grande audiência.
A geração mais jovem, no entanto, parece estar insatisfeita com este tipo de regime (mesmo sem pode demonstrar). Eles assistem perplexos (e entristecidos) ao desenvolvimento econômico e social de países vizinhos que faziam parte da URSS, como Polônia, Lituânia e Letônia. A Bielorrússia é um país lindo, sem dúvidas, e Minsk, uma capital fantástica, sem violência, limpa e muito organizada. Mas a juventude quer algo que a infra-estrutura sozinha não consegue fornecer. Eles clamam por liberdade, anseiam por uma vida sem blitz de pedestres ou motoristas, por uma vida sem perseguição. A polícia aqui tem o direito de revistar qualquer indivíduo, seja na rua, estações de metrô ou lojas. Motoristas são constantemente abordados para verificação de documentos. E a burocracia impera! Para tudo precisa de comprovante, num vai e vem entres instituições governamentais.
Aqui o governo tem o poder de – a qualquer momento – fechar fábricas e empresas privadas. Uma nação que claramente ainda vive sob os resquícios da era comunista. é um país autocrático onde o serviço secreto russo KGB continua em pleno funcionamento e as estrelas soviéticas com a foice e o martelo, adornam prédios, praças e monumentos, como nos tempos de Stalin. E assim, me despeço deste sistema autoritário e que com certeza não deixará saudade… Aprendi muito nestes dois anos e meio em que morei em Minsk. Aprendi muito mais do que imaginava! Continuo no meu próximo post.