Imersa nos fiordes e recortes sinuosos do litoral montenegrino encontra-se a pequena cidade de Kotor (Cátaro) esbanjando charme e história. Passei o fim de semana com meu marido visitando esta pérola medieval que surpreende logo na chegada, incrustada nos maciços montanhosos característicos de Montenegro, na região dos Balcãs. Kotor é uma cidadezinha fortificada, muito bem conservada, com edificações e muralhas que vão do século IX até o XV quando fora dominada pelo Império Veneziano, fazendo parte da Sereníssima República de Veneza.
E dai surgiu o nome italiano do país, Montenegro, traduzido do original eslavo Crna Gora, que significa montanha negra. Do lado de dentro das muralhas que se misturam a cor acinzentada do rochedo montanhoso e que serviram de proteção contra invasores durante séculos, um emaranhado de ruelas estreitas emolduradas por palacetes antigos convidam os visitantes a descobrir este tesouro arquitetônico e cultural tombado pela Unesco como patrimônio da humanidade. E foi justamente o que fizemos!
Meu passeio preferido, a pé e sem rumo, sendo guiada apenas pelos cheiros e sabores de Kotor. E que aroma! A culinária montenegrina é influenciada pelo povos que dominaram o território no passado com muitos pratos à base de peixe fresco mesclando ingredientes mediterrâneos, da Itália, Grécia e Turquia. Mas a carne vermelha é também muito apreciada, assim como o presunto cru. Depois dos peixes grelhados que eu adoro, nosso prato favorito em Montenegro foi o “Sarma”, um enroladinho bem temperado, de repolho e acelga (espécie de beterraba branca) com recheio de carne moida. E melhor ainda seguido de um aperitivo aromatizado de “loza”, destilado típico com sabor de frutas silvestres.
Continuando nosso passeio pelo centro histórico de Kotor, entre uma praça e outra, vamos caminhando lentamente, passando por dezenas de lojinhas de souvenirs, barzinhos, charmosos cafés e restaurantes que atraem tanto turistas quanto moradores locais. Não faltam igrejas e monastérios para se visitar neste labirinto de construções medievais. A mais antiga e talvez a mais famosa é a catedral de São Trifão que domina a pequena praça de mesmo nome. Sua construção original remonta ao século XII. Aliás, em Montenegro por onde se anda, nos vilarejos ou penhascos das montanhas gigantes, tem sempre um mosteiro ou igrejinha antiga pontilhando o horizonte.
Os montenegrinos parecem ser muito religiosos, em sua maioria ortodoxos. Depois de passarmos horas vagando, nos perdendo pelas graciosas ruelas que nos relembravam vilarejos na Itália, quase no final do dia subimos até a fortaleza de São João numa escalada de arrancar suspiros. A subida pelo caminho íngreme leva pelo menos quarenta minutos, com parada obrigatória na igrejinha de Nossa Senhora do Descanso (nome bem apropriado pois está situada mais ou menos na metade do percurso de ascensão). Galgamos (ofegantes!) mais de mil degraus numa escalada perpendicular, recortando o rochedo até chegar às ruínas da fortaleza.
O panorama lá do alto, a mais de 200 metros de altura, nas encostas da montanha, é simplesmente divino e compensa todo e qualquer esforço! A sensação é de estar nas nuvens, quase tocando o céu, contemplando o cenário sublime que se forma no horizonte.Os telhadinhos vermelhos da minúscula Kotor debruçada nas águas plácidas dos fiordes cristalinos, contrastam a rusticidade dos picos corrugados das montanhas. Paisagem deslumbrante e que deixa qualquer um maravilhado. Um espetáculo divino e inesquecível, orquestrado pela natureza, como num cenário de sonho… num país chamado Montenegro. Continuo o relato final da viagem no próximo post.
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