Reino Unido decretou novo confinamento até fevereiro
Reino Unido decretou novo confinamento até fevereiro

O dia 31 de dezembro marcou o fim do período de transição do divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia. Uns dias antes do prazo derradeiro as duas partes chegaram ao tão debatido acordo comercial. O Reino Unido anunciou, aliviado, como se fosse uma grande vitória enquanto as autoridades europeias também festejaram o final de meses de negociações como um triunfo. O acordo, com mais de duas mil páginas, garante a livre movimentação de mercadorias, sem tarifa alfandegaria entre as terras britânicas e todos estados membros além da soberania do país, algo que os britânicos que votaram pela saída da UE tanto clamavam. No entanto, o extenso documento deixa várias lacunas, principalmente quanto à indústria de serviços, setor chave para o Reino Unido assim como na área de pesca.

Em junho de 2016 quando os britânicos votaram em plebiscito pela saída da UE poucos imaginavam que levaria quase cinco anos para cortar os elos entre as duas partes. Desde então o Reino Unido viu dois governos cairem (David Cameron e Theresa May) mas o feito final ficou por conta do eufórico conservador Boris Jonhson, atual primeiro-ministro e defensor ferrenho do Brexit. A população em geral, no entanto, pouco comemorou.

Com um número alarmante de novos casos de Covid desde o final do ano, o país não demonstra estar em clima de festa. O mês de dezembro foi marcante com o início do programa de vacinação contra o vírus. A primeira vacina do Covid no mundo foi aplicada no Reino Unido mas o fato não foi motivo de grande badalação. Pois enquanto as boas novas da vacina chegavam o número de pacientes infectados sendo hospitalizados crescia exponencialmente. O período natalino só contribuiu com as estatísticas alarmantes. Nesta semana o país ultrapassou o marco de 100 mil mortes por Covid, número superior àquele vivido durante a Segunda Guerra mundial.

No início de janeiro veio o anúncio de mais duas vacinas, da universidade de Oxford que já está sendo administrada, e a Moderna, a ser usada a partir de abril. As três vacinas, entretanto, neste momento não conseguem abafar a aceleração descontrolada da doença no país. E, assim, antes do retorno das aulas aqui na Inglaterra na primeira semana de janeiro o governo britânico decretou mais um confinamento geral, o terceiro desde o início da pandemia, desta vez seguindo os moldes mais restritos adotados em março, abril e maio, na primeira onda. Escolas e comércio não essencial estão fechados. Só podemos sair de casa para fazer exercício ou para um motivo especial, como ir ao mercado, farmácia ou consulta médica. O fechamento está previsto até meados de fevereiro quando, de acordo com o plano de vacinação nacional, todas pessoas acima de 70 anos e pacientes de alto risco devem estar vacinados contra Covid, correspondendo a quase 20% da população.


Paisagem de inverno pelo interior da Inglaterra

A imunização contra Covid no Reino Unido é o maior programa de vacinação já realizado no país. E não aconteceu da noite para o dia pois vem sendo organizado desde outubro passado, envolvendo pessoal clínico de hospitais, grande número de voluntários, farmácias comunitárias e centros médicos em cada canto do país, além do Exército britânico. O governo contratou de maneira emergencial milhares de profissionais, muitos já aposentados, outros desempregados devido à pandemia, para trabalhar na linha de frente administrando as vacinas. Nós temos amigos aqui na Inglaterra que são médicos e trabalham num dos postos de saúde onde a vacina vem sendo aplicada em pacientes idosos e nos relataram o trabalho e o tempo levado para criar um centro de vacinação.

A preparação no posto iniciou no final de outubro, quando nenhuma vacina sequer tinha sido aprovada, com a adequação de ambientes, compra de freezers especiais e recebimento de material clínico, como seringas. Somente no final de dezembro eles receberam o primeiro lote de vacinas e que agora estão sendo administradas nos pacientes locais. Até o momento quase três milhões de pessoas já foram vacinadas em todo Reino Unido. Número ainda baixo considerando a população do país que conta com cerca de 68 milhões de habitantes.

Há algumas semanas, o primeiro-ministro Johnson havia sugerido que a vida poderia voltar ao normal já na próxima Páscoa. No momento, estamos bem longe disso! Se durante o primeiro fechamento curtíamos a chegada do bom tempo com longas caminhadas campo afora, agora em pleno inverno congelante a hora do exercício diário é mais curta, contemplando a paisagem de neve e geada lá fora.

Neve na terra da Rainha