Herança judaica em Vilnius

Há mais de mil anos a Lituânia já aparecia em anais históricos e ao longo dos séculos foi crescendo até tornar-se uma expressiva nação na Idade Média . Era um reino pagão fundado no século XIII pelo único rei da história lituana, Mindaugas, formando o Grão-Ducado da Lituânia e a criação de Vilnius. Foi no final do século XIV que a capital se transformou num centro medieval cujo charme se mantém até os dias de hoje.
Até o início do século XX Vilnius era considerada a Jerusalém do norte com uma das comunidades judaicas mais atuantes do velho continente. Tudo mudou a partir de 1941, com a invasão das tropas nazistas. Sob o regime de Hitler a Lituânia viveu um dos períodos mais tristes de sua história moderna. Praticamente todos os judeus no país, cerca de 200 mil, foram aniquilados durante a ocupação nazista. Este período negro foi marcado também por muita controvérsia já que os lituanos eram acusados de colaborar com os alemães na perseguição às comunidades judaicas.

A história dos judeus em Vilnius vem sendo resgatada e nos últimos anos o centro histórico da capital destaca a herança judaica pelas ruelas e quarteirões. Na rua Stiklai, uma das mais importantes na história do holocausto, famílias judias prosperavam com pequenos negócios e mais de cem sinagogas se espalhavam pela capital. Hoje em dia resta apenas uma. Com a invasão nazista os moradores foram aglomerados e segregados em guetos e aqui nesta ruela emoldurada por fachadas medievais foi escrita a história de ascensão, prosperidade e extermínio do povo judeu.

Hoje em dia, o distrito judeu é um dos mais alegres de Vilnius, com muitos barzinhos, lojas e restaurantes. Pelas ruas estreitas, pode-se contemplar um pouco da riqueza cultural herdada do povo judeu. Pelos charmosos e antigos casarios placas comemorativas contam a história dos residentes de outrora. Paredes se transformam em murais destacando a cultura artística e literária difundida pelos judeus. Nas calçadas e praças encontramos inúmeros monumentos e estátuas, algumas celebrando o trabalho filantrópico dos cidadãos judeus e outras mostrando o sofrimento da vida no gueto. A mais recente, intitulada “O Carregador de Água” foi apresentada à capital em outubro. A estátua de bronze, projetada pelo escultor Romas Kvintas (1953-2018) e localizada na esquina onde era originalmente a entrada do gueto judeu em Vilnius, mostra um homem carregando água em dois baldes destacando o espírito comunitário dos judeus. A obra foi inspirada numa foto de 1922 quando Vilnius fazia parte da Polônia. O legado judeu de Vilnius no campo artístico se espalha mundo afora, inclusive no Brasil. Lasar Segall (1889-1957), judeu de origem lituana, é considerado um dos mestres do Expressionismo e do Modernismo no Brasil nas áreas de pintura a óleo, aquarela, gravura e escultura. No ano passado em novembro eu escrevi aqui na coluna sobre a exposição de Segall no centro artístico judeu de Vilnius.