Início do ano sem sol na Europa
Início do ano sem sol na Europa

Depois das compras acirradas e troca de presentes durante as festas do final do ano as famílias europeias se deparam com um problema ambiental – o descarte de uma montanha de lixo, entre embalagens plásticas, papel, vidro e sobras orgânicas acumulados durante o Natal. Na Inglaterra, por exemplo, durante o período do final de dezembro até a segunda semana de janeiro as famílias chegam a gerar 30% de lixo a mais ou seja mais de três milhões de toneladas. Grande parte dos resíduos acaba em aterros sanitários no território britânico. Ou enviados para outros países!

Aqui na Lituânia, no entanto, a realidade é bem diferente. Esta pequena nação vem mostrando ao resto do mundo que a reciclagem de lixo seco é o caminho para amenizar os problemas ambientais do planeta. No último ano os lituanos bateram recorde no nível de reciclagem de vidro e plástico, com 74% das embalagens e garrafas recolhidas, uma das percentagens mais elevadas da Europa. A média dos países que fazem parte da União Europeia ficou em 42%, com a França e Finlândia no final da lista com menos de 30% do lixo produzido sendo reciclado.

Inverno lituano gelado

O sucesso da Lituânia deu-se graças ao novo sistema de reembolso de depósito iniciado no país em 2016 e há anos difundido na Alemanha e outros países. No preço das bebidas está embutido uma sobretaxa no valor de €0,10 (R$0,48) e que é ressarcido ao cliente no momento da reciclagem. Máquinas automáticas estão espalhadas pelas cidades, geralmente perto dos grandes supermercados onde o consumidor leva as embalagens e recebe um vale que pode ser usado nas compras ou reembolsado em dinheiro. É um sistema prático e totalmente automatizado. As garrafas de vidro são reutilizadas enquanto as embalagens plásticas e latinhas são enviadas para centros de reciclagem.

Esta alta percentagem de lixo seco reciclado, todavia, está longe de traduzir uma maior conscientização ambiental dos lituanos. Na verdade, todo mundo leva de volta as garrafinhas porque desembolsaram mais na hora da compra e estão interessados em receber de volta o subsídio pago! Pois cada centavo conta por aqui! O salário mínimo na Lituânia está entre os mais baixos da Europa (€500, em torno de R$2,400) com diferença esmagadora entre assalariados de outros países europeus. Aposentados do Estado recebem bem menos que o salário mínimo enquanto desempregados devem prestar serviços para autoridades públicas para ter direito ao seguro desemprego. No quesito de distribuição de renda a Lituânia aparece em segundo lugar com remuneração mais desigual da Europa. Um décimo da população vive com menos de €245 (R$1,175)) por mês. E assim não nos surpreende ao ver pelas ruelas de Vilnius grande quantidade de pessoas carentes, marginalizados pela sociedade, muitos idosos, revirando lixos no centro histórico da capital em busca de garrafinhas descartadas por turistas. Existe ainda um precedente histórico pois durante a União Soviética a coleta de garrafas era a função dos desempregados. Hoje em dia, a grande maioria das pessoas arrecadando as embalagens viveu este período negro da história lituana e parece continuar a lutar contra os mesmos problemas sociais de outros tempos.

Ruelas vazias em Vilnius

DESALENTO INVERNAL

O primeiro mês do ano aqui no velho continente é recheado de nostalgia. Passado o clima festivo de Natal e Ano Novo, os europeus se deparam com a melancolia de janeiro, considerado o mês mais deprimente do ano. Falta luz, falta sol, falta ânimo! Os dias continuam curtíssimos amanhecendo perto das nove horas e lá pelas quatro da tarde a escuridão chega desenfreada. Se não bastasse o clima cinzento, aqui na Lituânia o inverno congelante se encarrega de transformar a paisagem lá fora com neve, vento e neblina sob temperatura negativa constante. O clima gelado e céu sombrio acaba afetando o quotidiano das pessoas. Se durante o mês de dezembro o brilho das luzes natalinas contagiava a todos transpirando alegria pelas ruelas da capital, em janeiro a melancolia toma conta. As pessoas parecem tristes e o desalento se traduz nas ruas vazias de Vilnius. Todo mundo encasacado, caminhando de cabeça baixa para proteger o rosto do vento gelado. Enquanto os brasileiros estão curtindo as delícias do verão tropical por aqui o primeiro mês do ano passa devagar e qualquer raio de sol se transforma em artigo de luxo. Não é fácil viver sem sol. Nos países bálticos e escandinavos é comum o uso de terapias de luz artificial para amenizar a tristeza invernal. Muitas casas dispõem inclusive um quarto especial para fototerapia.

Esplendor barroco na capital lituana

DEVOÇÃO RELIGIOSA 

Ja comentei aqui na coluna que boa parte da cultura lituana remonta ao passado religioso do país nos séculos passados. A devoção do povo lituano permeia todas classes e idades, dos mais jovens aos mais velhos. Espalhadas pelo centro histórico de Vilnius encontram-se nada menos que 28 igrejas, 21 pregando a religião católica e outras entre ortodoxas, protestante e luterana. As igrejas formam um baú arquitetônico impressionante no labirinto medieval de Vilnius, revelando em cada detalhe as maravilhas do estio barroco. Não obstante a repressão russa contra a religião durante mais de um século – e o fechamento da maioria dos templos católicos durante o período de ocupação -, os lituanos continuam fieis à religão católica frequentando assiduamente as igrejas em todo país. Diariamente os sinos ressoam pelas ruelas antigas do centro histórico da capital criando um clima de júbilo e reverência.

Lituanos são devotos da religião católica
Reciclagem em máquinas automáticas
Catedral de Vilnius é um dos pontos turísticos da capital