Pomposo, dramático e ostensivo. O desfile militar em Minsk foi tudo isso e mais! Como já havia comentado em outro post aqui no blog, no último fim de semana a capital da Bielorrússia foi palco de inúmeras homenagens e eventos comemorativos ao aniversário de 70 anos da vitória sobre os nazistas. Minsk se transformou em cenário de cinema, iluminada pelo esplendor primaveril desta época, tudo foi perfeito durante a grande parada militar que atravessou as largas avenidas da capital. Os bielorrussos de certa forma já estão acostumados a cerimoniais militares mas no último sábado o show surpreendeu até aqueles menos patriotas.
Foi uma superprodução que coloca os espetáculos de Hollywood na lista de espera! Os russos têm fama de ostentação e exibicionismo principalmente em se tratando de poderio bélico. Por aqui a antiga cultura soviética continua a ditar princípios e rituais onde poder e grandeza andam de mãos dadas. E não existe oportunidade melhor para demonstrar a força militar do país do que numa grande procissão comemorativa e vitoriosa. Aliás, a glória por aqui está sempre no pedestal. Frequentemente a história dos soldados que perderam suas vidas combatendo é ofuscada pela apoteose da vitória. A Segunda Guerra Mundial é conhecida por aqui como a Grande Guerra Patriótica.
Durante as comemorações em Minsk nada menos que cinco mil militares vestindo uniforme de gala, de diferentes batalhões cumprindo a tradição de defender abnegadamente a pátria, desfilaram em passo cadenciado, em sincronia espantosa, movimentando os braços munidos de fuzis de maneira a formar um efeito-dominó surpreendente. Não faltaram veículos de combate! Entre plataformas de lançamento de mísseis, tanques, canhões e diversos veículos de guerra a parafernália bélica se dispersava avenida afora produzindo furor na multidão de espectadores. O entusiasmo era visível e quase palpável nos rostinhos inocentes das centenas de crianças presentes, com os olhos arregalados apontavam sem parar para o maquinário bélico na grande avenida . Um cordão humano de policiais uniformizados e guardas de segurança separava a platéia dos gigantescos tanques e motores. à distância de alguns metros, o povo exaltava patriotismo, eufórico e veemente, abanando bandeirinhas da Bielorrússia e lenços nas cores vermelho e verde.
E eu estava ali, também, uma gaúcha meio perdida, longe das raízes – tentando digerir tantas diferenças culturais em meio a esta bolha de júbilo, impetuosa e rodeada por famílias, crianças, jovens e adultos bielorrussos aparentemente contentes e orgulhosos. Na sequência do grande evento, fileiras de tratores, retroescavadeiras, equipamentos agrícolas, caminhões e ônibus produzidos no país e exportados em todo mundo completaram a carreata. As comemorações culminaram com apresentações coreográficas de várias danças e canções típicas das diferentes regiões do país em frente ao palanque de autoridades. E o povo cantava, abanando sem parar bandeirinhas, reverenciando o presidente do país como se fosse uma divindade. Uma espécie de espetáculo teatral patriota com um único objetivo: acreditar no Estado, evocando potência e demostrando prosperidade e diversidade do país que nem sempre podem ser percebidas no cotidiano dos cidadãos comuns.
A festança continuou no estilo russo, grandioso e farto, com caças, bombardeiros e helicópteros sobrevoando Minsk e tingindo o céu de vermelho e verde. Enquanto a multidão se dissipava rapidamente pelas ruas da capital bielorrussa brindando com muita vodca e a luz do sol se pondo refletia nos lagos de Minsk, eu caminhava pelo parque de volta ao nosso apartamento tentando compreender este contentamento efêmero e orgulho que transforma a nação durante algumas horas de desfile pomposo. Orgulho de fazer parte de um país livre de nazistas mas que ironicamente vive sob o comando de um governo militar ditador que reina há duas décadas…
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