Retornamos com a coluna, depois de sete meses desde o início da pandemia na Inglaterra, e percebemos que pouco mudou desde então. Em março escrevia sobre o pânico do povo inglês, sobre a corrida às prateleiras vazias dos supermercados e sobre nosso isolamento. Durante três meses vivemos como prisioneiros, todo comércio fechado afora supermercados e algumas farmácias. Durante uma hora ao dia podíamos sair para caminhar ou nos exercitar, mas sem poder encontrar com ninguém fora do núcleo familiar. Vivemos um regime penitenciário a fim de nos proteger do trágico vírus e diminiur a chance de uma segunda onda. Veio o verão, recheado de dias longos e ensoralados, e aos poucos, em julho retornávamos à vida normal na versão Covid-19 com uso de máscara obrigatório em locais fechados. As lojas reabriram, bares e restaurantes voltaram a funcionar e já nos sentíamos quase livres do maldito vírus com o número de hospitalizações estável.
No início de setembro, no entanto, com o reinício do ano letivo em todo país, os indicadores nos gráficos de infecções começaram a subir exponencialmente e a temida segunda onda aparecia pelas frestas. Se em agosto o governo clamava aos funcionários a retomada ao escritório, algumas semanas mais tarde a mensagem era a mesma do período de isolamento – trabalhe de casa, evite o transporte público. A esperança era de controlar o nível de contágio sem entrar em lockdown nacional. A estratégia não funcionou, e desde semana passada a Inglaterra adota um sistema de três níveis (1 – sem isolamento 2 – isolamento parcial e 3 – fechamento total) nas regiões com alto índice.
Entre a pandemia e o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) o país parece pendurado no alto do penhasco. Formado pela Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte, o Reino Unido se despedaça lentamente. A pandemia descortina problemas regionais e aguça o nacionalismo escocês. Cada país enfrenta a pandemia com estratégias locais. Londres está desfigurada, vazia e sem vida. Se antes os problemas da capital eram apenas consequência do seu sucesso retumbante, agora a capital financeira global enfrenta inimigos inimagináveis nas últimas duas décadas de crescimento vertiginoso. Atualmente o país negocia com a UE um acordo comercial, num jogo onde nenhuma das partes quer ceder. Um jogo perigoso, com final marcado. No dia 31 de dezembro, com ou sem acordo, termina o período de transição. O Reino Unido acordará em 2021 fora da UE, nos penhascos brancos de Dover, do outro lado do canal da Mancha.
Outono contagiante
Uma das características do clima europeu são as estação bem definidas. Um esplendor de cores vibrantes, formando paisagens inspiradoras, de tirar o fôlego. Assim é o outono no continente europeu. A estação que precede a época mais fria do ano transmite calor através de suas cores profundas e contagiantes.
Caminhando pelo interior da Inglaterra a sensação é de estar sendo transportada a um mundo sublime contemplando a magia deste espetáculo divino, orquestrado pela natureza. O vento sopra de leve e as folhas vão caindo, dançando no ar. Pelo chão a paisagem é ainda mais encantadora, cobrindo a vastidão de gramados e trilhos num tapete dourado infinito.