Depois de viver três confinamentos prolongados nos últimos doze meses, na luta contra a Covid, a Inglaterra se aproxima do retorno à vida normal. Com quase 70% dos adultos já vacinados (primeira dose) o índice the infecção está controlado em todo país. Com menos internações de pacientes de Covid, o sistema de saúde britânico começa a respirar novamente. Pois os “lockdowns” foram a medida usada para evitar a sobrecarga nos serviços de saúde. No último ano o trabalho nos hospitais focou no tratamento de pacientes infectados e infelizmente o resto dos procedimentos ficaram na lista de espera. Com a redução do nível de contágio os profissionais da saúde agora se deparam com outro problema, tão sério quanto a pandemia: as longas listas para cirurgias eletivas, procedimentos de rotina e tratamento para câncer.
A saúde na Inglaterra é, em muitos aspectos, diferente do Brasil pois aqui ninguém precisa de plano de saúde privado para consultar com médicos bons ou especialistas. O sistema nacional de saúde do Reino Unido (NHS) é um dos maiores e mais antigo sistema público de saúde do mundo, totalmente gratuito aos cidadãos britânicos e pessoas residentes legalmente no país. E depois de ter morado com a família em diferentes países europeus nas duas últimas décadas e vivido a realidade (muitas vezes precária) dos serviços de saúde na Itália, França e atualmente Lituânia, por exemplo, posso tranquilamente dizer que o sistema na Inglaterra é bom e eficiente. Além de não desembolsar um centavo em planos de saúde, consultas, exames ou hospitalizações, recebemos atendimentos de qualidade. No entanto, ninguém tem a liberdade de escolher o médico especialista. O atendimento médico primário acontece nos postos de saúde espalhados em cada canto do país. O sistema de cadastro é nacional e centralizado, o que facilitou a administração das vacinas, assim como os testes de Covid, abrangendo toda população.
Na Inglaterra, esqueça consultas demoradas com médico especialista! Independente do problema, o ponto de partida é sempre com uma visita ao clínico geral no posto de saúde local, considerado pelos ingleses como médico de família. Conforme a gravidade do problema e avaliação do médico de família o paciente é então encaminhado ao especialista que geralmente atende em clínicas e ambulatórios junto aos hospitais. A grande maioria dos pacientes recebe tratamento diretamente no posto local e resolve o problema ali.
Exames ginecológicos, como pré-cancer ou colocação de DIU, são realizados por enfermeiras. Vacinas, análises clínicas, procedimentos de rotina são realizados no posto de saúde por enfermeiras. Aos especialistas são encaminhados somente casos diagnosticados, mais graves ou que exigem exames complexos. Enquanto no Brasil os pais correm para o consultório do pediatra ( ou mandam mensagem pelo whats app) quando o filho está febril, as crianças inglesas são atendidas por enfermeiras pediátricas ou pelo clínico geral. Por exemplo, meus três filhos jamais consultaram com um pediatra na Inglaterra e isso não quer dizer que nunca tenham ficado doentes quando eram crianças! Problemas comuns da infância,como inflamação na garganta, dor de ouvido, alergias, viroses entre tantos outros, são resolvidos rapidamente no posto local, com o médico de família ou com a enfermeira. O mesmo vale para problemas de visão. Ninguém consulta com oftalmologista para fazer exames de visão ou trocar de óculos, este é trabalho do optometrista. Em qualquer área, o médico especialista aqui é muito valorizado e seu trabalho é voltado para a patologia enquanto outros profissionais da saúde atuam nos atendimentos e testes de rotina.
Na última semana nosso filho, Patrick, fez uma cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior do joelho num dos hospitais universitários de Oxford e mais uma vez recebemos ótimo atendimento, à moda inglesa. Por exemplo o sistema de saúde público fornece, depois do procedimento, todo material de apoio e consultas com profissionais para reabilitação sem custo algum ao paciente. No caso do Patrick ele sequer ficou internado uma noite, e saiu do hospital com muletas, vários livretos de informações sobre a cirurgia e recuperação e toda medicação necessária (analgésicos e anti-inflamatório) além de injeções para profilaxia da trombose venosa profunda (heparina). Nos próximos seis meses ele será acompanhado por uma equipe de fisioterapeutas do nosso posto de saúde local e todo programa de reabilitação é gratuito através do sistema nacional de saúde.
Eleições municipais
Na última quinta-feira os eleitores britânicos foram às urnas para escolher representantes locais na Inglaterra e deputados do Congresso no País de Gales e Escócia. Os pleitos no Reino Unido são bem diferentes do Brasil pois o voto aqui é facultativo e não existem urnas eletrônicas. São, na verdade, cédulas enormes onde o eleitor escolhe seu candidato marcando um X ao lado do nome do candidato e usando lápis providenciado pela mesa. Os britânicos não possuem título de eleitor e para votar basta dizer o nome e endereço ao mesário.