Curtir a nova estação caminhando no parque ou refrescando-se nas águas cristalinas do lagos e rios, à primeira vista parece um programa exclusivo de verão. Na Lituânia, no entanto, o mergulho nos córregos e lagoas é também um dos passatempos favoritos durante a estação mais fria do ano. Isso mesmo, enquanto na cidade o resto da população veste casacões de pele, gorro e chapéus forrados para se proteger do frio, pelas águas geladas de Vilnius grupos eufóricos desfilam em trajes de banho! Por aqui, nadar sob temperatura negativa é uma tradição de longa data e que nos últimos anos vem atraindo grande número de adeptos.
Liucina Mackialo, 31 anos, gerente de projetos e responsável pelo setor de comunicações da Embaixada Britânica em Vilnius é uma das noviças da prática. Nesta semana ela nos contou um pouco sobre a nova paixão. Se há alguns anos a ideia de se jogar num lago congelado parecia coisa de louco para Liucina, pois sempre se considerou uma pessoa friorenta, desde setembro do ano passado ela decidiu iniciar o novo hobby desafiando-se a sair de sua zona de conforto. Literalmente! Pois do aconchego do lar bem aquecido pela calefação ela sai diariamente para mergulhar no gelo. Ela faz parte do grupo Vilneles Pankai, uma comunidade com mais de mil entusiastas do banho gelado, fundada por Igne Degutyte e que se reune para praticar o esporte na capital e outros locais no interior da Lituânia durante o inverno. Com as restrições de isolamento e distanciamento social atualmente o grupo se dispersa pelas centenas de lagos e no final do dia o ponto de encontro é na rede social através de fotos do dia e bate papo descontraído. O grupo segue o método de Wim Hof, um holandês conhecido como o homem de gelo e que ficou famoso por causa da sua incrível resistência ao frio.
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Se tirar a roupa no inverno -dentro de casa- é difícil, imagina tolerar temperaturas negativas com sensação térmica de -20 graus, vestindo apenas um maiozinho de lycra, caminhando pela neve com os pés descalços antes de mergulhar na água gelada! O famoso “frio na barriga” ganha uma nova dimensão de significado neste contexto. Com o corpo já tremendo no pensamento, pergunto à Liucina como é possível superar tanto frio. A resposta veio tranquila e confiante: seguindo a técnica de Wim Hof. Ou seja, respiração, comprometimento mental e terapia. Os exercícios respiratórios iniciam antes mesmo de sair de casa e continuam durante toda prática. O estado de espírito calmo, quase meditativo, é fundamental para o mergulho gelado pois é desta forma que a mente aceita o desconforto vinculado à água fria. Nada de gritos ou histerismo na água com temperatura oscilando entre 0 e -5o C. A exposição à mudança brusca de temperatura é lenta e silenciosa pois o aquecimento muscular pouco antes de tirar a roupa não é recomendado pelo método WH. A saída da água depois do nado é tão calma quanto o primeiro contato. O tempo de permanência varia entre os entusiastas, de dois minutos até meia hora quando o risco de hipotermia atinge máximo grau. Além do objetivo físico a atividade proporciona um momento social. Depois do mergulho o grupo confraterniza e brinca na neve antes de colocar o casacão.
Entre os benefícios da prática do banho gelado encontram-se – a melhora no sistema imunológico; bem-estar mental; mais energia, foco e determinação, alívio de estresse e ajuda inclusive na perda de peso. Os riscos do banho gelado estão associados à prática mal-feita, não seguindo um método específico com exercícios de respiração, além de hipotermia e lesões nos nervos.
Segundo Liucina o maior benefício é sentir-se bem consigo mesmo, redescobrindo nosso poder espiritual e mental, aproveitando as belezas de cada estação. E para aqueles que acreditam que se refrescar no rio ou no lago é programa de verão Liucina lança o desafio para visitar Vilnius durante o inverno e descobrir o fascínio de um mergulho no gelo!
