Sabe aquela viagem gostosa, tranquila e bem romântica? pois para mim e meu marido viajar de trem é tudo isso, e mais! E assim aproveitamos oúltimo fim de semana para conhecer a Letônia, na costa do Mar Báltico. Um passeio curto, de três dias, mas de grande intensidade. Para mim, viajar de trem na Europa, entre um país e outro, sugere sempre romantismo enostalgia. E não foi diferente para a gente! Pela primeira vez viajaríamos num trem noturno russo embora já tenhamos feito vários roteiros ferroviários, como de Paris a Roma, de Veneza a Zurique, Frankfurt a Paris e assim vai… Mas dessa vezestamos na capital da Bielorrússia e aqui tudo é diferente!
Ao chegar na estação central de Minsk, de onde partimos rumo à Riga, a paisagem remetia ao cenário do filme de espionagem Moscou Contra 007 (From Russia With Love). A plataforma quase vazia nesta noite fria de outubro, encoberta pela névoa cinzenta, acolhia a protagonista do enredo: a majestosa carruagem russa. Ao longo dos mais de 20 vagões, variando entre cabines de terceira até primeira classe, passageiros se despediam encabulados, um aperto de mão aqui, outro abraço ali, sem demonstrar muito afeto, comandados pela discrição e conformidade tão peculiar à cultura local. Carregados de malas e sacolas, eram prontamente auxiliados pelos atendentes da companhia ferroviária russa na porta de cada vagão. Mal entravam no trem e corriam para a janelinha, abanando discretamente sob olhares misteriosos e saudosos lá fora como numa narrativa de filme.
Ao chegar no nosso vagão leto de primeira classe fomos também recepcionados por uma bela atendente, vestida à caráter como nos velhos tempos soviéticos, com um elegante sobretudo de lã azul, luvas e chapéu no mesmo tom. Nosso compartimento é o primeiro no estreito corredor emoldurado por janelas panorâmicas de um lado e cabines numeradas do outro. A decoração interna, mesmo se confortável, remete imediatamente às arduras do comunismo, plena de enfeites esdrúxulos, como o vasinho de flores de plástico adornando a mesinha que separa os dois sofás-camas.
Tal herança soviética permea nas cortinas de cetim e nos espelhos antigos que refletem o aparelho de chá e café prateado e a pequena televisão plasma afixada no canto interno formando um excelente amálgama entre passado e presente.
Como num encontro romântico, nossa cabine exala um certo charme e mistério inerentes aos longos roteiros ferroviários. E assim sob o silvo dos motores vamos deixando a capital da Bielorrússia, cheios de expectativa, iniciando a viagem de doze horas para acordar no outro dia em Riga, capital da Letônia.