Visitando a Polônia. No último fim de semana teve feriadão aqui em Minsk com a comemoração no dia 7 de novembro da Revolução de Outubro (ou Revolução Vermelha) quando em 1917 os bolcheviques ascenderam ao poder russo com um golpe de Estado . E por isso, com a folga aproveitamos para viajar um pouco, desta vez de carro, atravessando a Bielorrússia para conhecer Lublim na Polônia.
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Já tínhamos visitado o país outras vezes mas esta seria a primeira viagem ao leste, não muito distante da fronteira da Ucrânia e Bielorrússia. Lublim é uma daquelas cidades que fascina logo na chegada esbanjando riqueza cultural e transpirando história. Já na primeira caminhada (os roteiros a pé são sempre os melhores!), depois da longa viagem, ficamos encantados com a simpatia e hospitalidade do povo local. Gente alegre no parque, famílias passeando pelas ruas movimentadas e tanta descontração no centro antigo da cidade.
Lublim está localizada a 168km no sudeste de Varsóvia em localização geográfica privilegiada na antiga rota mercantil de Cracóvia, e retrata com brilhantismo a abundância cultural do leste europeu e do ocidente. Com cerca de 350 mil habitantes esta cidade fascinante foi palco de homenagens e assinaturas históricas durante o império da Prússia, destacando-se mais tarde com a união lituana-polonesa e com o renascimento da república da Polônia depois da Primeira Guerra Mundial, Lublim foi a primeira capital do país. Em seus quase 700 anos de história a cidade inspirou milhares de artistas renomados, músicos, poetas e escritores. Além de acolher cultos religiosos variados e que continuam sendo difundidos até hoje nas inúmeras igrejas e sinagoga espalhadas em cada canto. A cultura hebraica desempenhou forte influência nesta região, desde o século XVI, em especial em Lublim pois ali localizava-se uma das mais importantes instituições judaicas ortodoxas, considerada a universidade de Oxford judaica.
Com a histórica concentração de judeus desde séculos passados na região, infelizmente não nos surpreende o fato de a metade da população lubinense ter sido aniquilada pelos nazistas. Milhares de judeus de Lublim foram levados para o campo de extermínio de Majdanek a quatro quilômetros da cidade. Um lugar triste e degradante, aberto para visitação do público, com um museu que conta a história e sofrimento durante a ocupação nazista.
A magia do centro histórico
A exemplo da maioria das cidades do leste europeu, Lublim sobreviveu a muitas revoluções, invasões e domínios de diferentes impérios. Inicialmente a cidade foi construída como um forte durante o século XIV sob o império de Casimiro, o Grande, toda murada e com dois portões principais.
Hoje em dia pouco se vê desta construção, afora a porta de Cracow que dá entrada ao centro histórico. Os prédios do interior, no entanto, são surpreendentes. Ao entrar pelo longo corredor, num piscar de olhos vou rapidamente esquecendo o mundo moderno para ser transportada a um conto de fadas. Construções magníficas, coloridas e adornadas como se fossem pequenos castelos formam esta praça encantada, que parece ter saído do clássico infantil inglês O Calhambeque Mágico (“Chitty Chitty Bang Bang”, 1968) . A impressão é de poder a qualquer momento ser surpreendida pela charrete de balas e pirulitos do caçador de crianças do filme.
A magia da arquitetura renascentista cativa a todos visitantes. Deixa a alma leve e o coração alegre. Um sonho. Por onde se caminha, seja na praça principal ou pelas ruelas adjacentes, é impossível não se contagiar pela história contada nos detalhes e pinturas de cada fachada colorida, em cada porta e janela. História de séculos passados mas preservada até hoje. O centro histórico de Lublim é considerado um dos mais bem preservados de toda a Polônia. Tanto que já foi usado como cenário em várias produções cinematográficas europeias e americanas. Da praça principal continuamos nossa caminhada, passo a passo, absorvendo cada detalhe intrigante das pequenas esculturas que enfeitam as construções. O clima de descontração pelas ruas é contagiante.
Entre uma porta adornada e outra, pequenas galerias de arte disputam os olhares curiosos. Não faltam bares, cafeterias e confeitarias oferecendo as mais variadas guloseimas polonesas (pura doçura!). Além é claro de dezenas de restaurantes, desde os mais clássicos com decoração sofisticada até os mais simples, oferecendo comida caseira tipicamente polonesa. E foi num desses restaurantes típicos que degustei a famosa panqueca de Lublim, versão vegetariana sem salsicha picante que os poloneses adoram, feita com massa de batata e acompanhada de molho de queijo, pepino e cebolinha. Uma delícia! Continuo o relato sobre Lublim na próxima semana.