Viver fora sentindo saudade de casa!Seguidamente recebo mensagens carinhosas e e-mails de leitores da coluna semanal que escrevo no jornal Folha do Mate na minha terra natal. Alguns contando experiências de viagens e muitos indagando sobre a vida quotidiana aqui na Europa, principalmente sobre a educação e saúde. Na última semana, no entanto, fui pega de surpresa com a mensagem de uma jovem estudante venâncio-airense e que de certa maneira questionou o paradigma de que tudo é melhor fora do Brasil, numa visão do mundo próspero e perfeito do outro lado da cerca. “Viver ai, em outro país, tão longe da família, é realmente melhor”? foi a pergunta derradeira, e que me fez voltar instantaneamente àquele momento decisivo (e insano!), há mais de duas décadas, em 1994, quando deixei minha cidade natal e pela primeira vez alcei voo para bem longe, fora do Brasil.
A ironia do destino fez com que aos 25 anos, recém formada pela Unisc, com diplomas em Administração de Empresas e Educação Física, eu tomasse um passo que mais tarde mudaria completamente o percurso da minha vida. Foi a decisão mais importante já tomada, mesmo se naquele momento não me dava conta disso. Não me arrependo de maneira alguma e só tenho a agradecer. Pois nestes 22 anos vivendo no velho continente construi uma família maravilhosa, com meu marido inglês e nossos três filhos. Mas, voltando à pergunta, se é realmente melhor viver aqui, poderia elucidar muitas razões positivas e tantas outras demonstrando que nem sempre é melhor aqui! A questão principal está na definição de “melhor”. E tudo depende da realidade no país de origem e das expectativas de cada um.
A verdade é que não existe resposta certa ou errada. O que é melhor para mim não é necessariamente melhor para outros. De maneira geral, vivo muito bem aqui, feliz e satisfeita, morando num país riquíssimo culturalmente, sem violência, organizado, com excelente programa de educação e saúde e muitas oportunidades de trabalho. Mas …como tudo na vida tem o outro lado da moeda, minha escolha, infelizmente, significa estar longe dos meus pais e irmãos, dos velhos amigos e das minhas raízes. Significa privar meus filhos da convivência dos avós maternos e primos em Venâncio Aires. E este sentimento de perda, de vazio, Estado algum conseguirá suprir. E isto, para mim, não é viver melhor. Desde que sai da capital do chimarrão nunca mais voltei para morar, embora retorne de férias à terra natal todos os anos.
Viver fora, significa viver com saudade. Saudade dos amigos. Saudade da comida e costumes locais. A cada ano que passa a distância emocional parece aumentar. Penso seguidamente nas pessoas que cresceram comigo. Sinto falta de compartilhar com a família ocasiões de alegria (ou tristeza) e também de participar de momentos marcantes da vida daqueles que estimo, como por exemplo o nascimento da minha sobrinha e afilhada, Cecília, recentemente. Sinto falta da minha família. Tenho saudade de tantas coisas que deixei ai no Brasil. Não se trata apenas de coisas materiais, mas principalmente de sentimentos, de experiências que definem o que sou hoje, raízes que só encontro ai, na terrinha. São muitos os vãos, alguns já preenchidos, outros ainda na longa fila de espera… De vez em quando os pensamentos vagueiam, os olhos ficam marejados de lágrimas e o coração encolhe, despedaçando-se pela saudade enorme que sinto da convivência com meus pais queridos, meus irmãos, meus sobrinhos. Não é fácil estar longe daqueles que a gente ama. Afinal de contas, viver em outro país é realmente melhor? Depende! Nossas escolhas determinam nosso futuro. E como o vento que sopra de um lado para o outro, a saudade também vai e veme com o tempo vamos aprendendo a lidar com esses sentimentos e emoções fortes gerados pela distância. O tempo nos ensina a aceitar e superar este vácuo pungente e nos ensina a viver com intensidade os momentos de reencontro com a família e amigos. Seja aqui na Europa ou no Brasil. Quisera eu ter os dois mundos na palma da mão! Quisera eu …
[GALERIA_756]