Durante o recesso escolar em todo Reino Unido aproveitamos para curtir com a família um pouco do interior do país. E assim passamos um dia semana passada no parque de Basildon para visitar a belíssima mansão rural de mesmo nome, situada a 100km de Londres no condado de Berkshire, oeste da capital. Não importa a estação do ano, passear pelo interior da Inglaterra significa se deslumbrar com vilarejos encantadores, monumentos e tantos palácios rurais. Nesta semana ainda marcada pelo frio europeu, fomos descobrir mais um tesouro inglês. O valioso legado arquitetônico e passado riquíssimo do país está escrito justamente nas mansões construídas séculos atrás e que continuam a ostentar um pedaço da história do país. Por aqui, também, a história é respeitada e muito bem preservada. Nada se destroi e tudo se conserva! A Inglaterra vai muito além de Londres, por isso sempre recomendo aqueles que estão vindo visitar a capital para se aventurar pelo interior a fim de descobrir a essência britânica, deixando-se levar pelo charme e tranquilidade da vida rural.
Basildon Park é um desses lugares, bem escondido, cercado por campos e simplesmente deslumbrante. Antes mesmo de chegar neste esplêndido palácio rural já estamos saboreando o ar campestre do interior, acolhidos por paisagens cativantes de campos repletos de ovelhinhas pastando e recortados por arroios de água límpida. A Inglaterra é conhecida por suas mansões, palácios e castelos históricos. Tudo começou há muito tempo! Algumas construções remetem a inúmeros séculos passados, antes mesmo de o Brasil ser descoberto. Durante os anos de 1700 e 1800 a nobreza britânica vivia o auge do grande império e aventuras a outros territórios em busca de inspiração artística e filosófica eram comuns entre os jovens aristocratas. Nesta época foram construídas muitas mansões requintadas, as famosas casas de campo, onde sociedade aristocrata e nobreza recebiam amigos e convidados ilustres para grandes banquetes e se deliciavam com passatempos típicos da época, entre cavalgadas, caça e pesca.
Por todo canto do país encontram-se mansões construídas em estilo neoclássico que demonstravam poder na época, denotando ainda uma resposta arquitetônica antibarroca. Estes palácios rurais eram decorados de maneira tal a ostentar o conhecimento e riqueza adquiridos durante as viagens ao exterior. Objetos de arte raros, porcelanas, quadros, estátuas, tapeçarias e móveis eram trazidos de outros rincões para ornamentar as nobres residências e podem ser contemplados até hoje. Justamente entre 1776 e 1783 foi edificada a mansão de Basildon no meio do campo, num parque gigantesco de 162 hectares esboçando arquitetura georgiana com fachada palladiana.
A mansão tem história turbulenta e chegou a ser fechada durante um período devido ao alto custo de manutenção e falência dos proprietários. Projetada pelo arquiteto John Carr, inicialmente perteceu à família Sykes mas mais tarde com o declínio financeiro dos herdeiros foi adquirida por James Morrison. No começo de 1900 o magnífico palácio rural foi praticamente abandonado até 1950 quando retornou a seu estado de glória nas mãos da nobre família Iliffe. Ao longo dos anos a edificação sobreviveu às intempéries, com várias restaurações e mudanças, passando por vários proprietários e hoje em dia é administrada pela Fundação Nacional de Patrimônio Público (National Trust), organização britânica não governamental responsável pela conservação do patrimônio histórico do país.
Desde 1976 a propriedade foi doada pela família lliffe à Fundação para restauração e conservação. E assim o parque e a mansão permanecem abertos ao público durante todo ano sob direção da Fundação e seus milhares de voluntários, na maioria aposentados que dedicam algumas horas por semana trabalhando gratuitamente como zeladores e guias de monumentos, mansões, palácios e castelos mantidos pela entidade. Este sistema de parceria entre a fundação National Trust e herdeiros de famílias aristocratas é muito comum aqui, preservando a história ao mesmo tempo que privilegiando o público em geral com a oportunidade de conhecer locais que definem a cultura britânica.
Ao entrar na mansão de Basildon somos acolhidos por duas simpáticas senhoras aposentadas e que prontamente nos contam um pouquinho da história de cada aposento. O teto alto e trabalhado em linhas curvas e delicadas logo no hall de entrada é uma pequena mostra da decoração interior rica de detalhes que está por vir nos outros cômodos. Pelas paredes ornamentadas por quadros de pintura a óleo e espelhos reluzentes vamos nos perdendo na imensidão histórica que cada aposento retrata. A impressão é de estar caminhando num cenário de filme de época transpirando o ar de grandeza e opulência desta gloriosa mansão.
Por falar em cinema, a mansão de Basildon já foi cenário de muitos filmes de época, entre eles Orgulho e Preconceito (2005), Marie-Antoniette (2006) e Dorian Gray (2009). As filmagens mais famosas, no entanto, ficam por conta da série Downton Abbey que conquistou milhões de fãs pelo mundo e faturou vários prêmios, onde o interior da mansão Basildon serviu de cenário como residência londrina da família Grantham. Para os fãs de Downton Abbey (e eu, com certeza engrosso a lista!) a visita à mansão de Basildon é ainda mais fascinante pois é como se estivesse assistindo à saga da família ao vivo e a cores, como um personagem da série.
Da biblioteca recheada de enciclopédias e clássicos da literatura britânica ao maravilhoso salão de jantar com a mesa pronta, impecável, à espera dos ilustres convidados somos absorvidos pela decoração esplendorosa de cada cômodo. E o deslumbre continua na sala de estar octogonal, toda revestida de papel de parede vermelho e decorada com móveis antiguíssimos reluzindo nos cristais do imenso lustre pendurado no teto de oito cantos e todo adornado.
No segundo andar da mansão encontram-se os quartos decorados a rigor, com cores vibrantes e camas de dossel, tudo muito bem preservado. A paisagem natural em torno da mansão de Basildon é testemunha de seu passado rural e bucólico, marcada por campos pastoris e ao fundo o rio Tâmisa, convidando os visitantes a caminhar pelo parque enorme. E foi justamente isso que fizemos, ao lado de tantas outras famílias que também visitavam o local, explorando cada cantinho no meio do verde.