Com os avanços da medicina, da nutrição e das condições de vida, a expectativa de vida humana aumentou consideravelmente nas últimas décadas. Mais do que isso, cresceu também a capacidade de muitas pessoas manterem-se ativas, lúcidas e produtivas até idades antes consideradas ‘limite’. Diante desse novo cenário, surge uma questão importante: até que ponto uma pessoa deve continuar atuando profissional ou intelectualmente após os 70 ou 80 anos? A resposta, cada vez mais clara, é que não há um limite fixo de idade, mas sim um limite determinado pela capacidade individual e pelo desejo de continuar contribuindo.
A idade cronológica – o simples número de anos vividos – já não é o melhor parâmetro para medir o potencial de uma pessoa. O envelhecimento é um processo extremamente variável: enquanto alguns indivíduos enfrentam limitações físicas ou cognitivas precoces, outros mantêm plena vitalidade e clareza mental até idades avançadas. A chamada ‘idade biológica’, que reflete a condição real do corpo e da mente, é muito mais relevante para avaliar o desempenho. Assim, impor uma aposentadoria ou um afastamento baseado apenas na idade seria não apenas injusto, mas também um desperdício de experiência e sabedoria acumuladas.
A experiência dos mais velhos constitui um patrimônio intelectual e humano de valor inestimável. Em diversas áreas – como a docência, a pesquisa, o direito, a literatura e a filosofia -, o pensamento maduro e reflexivo é essencial para o progresso. Personalidades como Bertrand Russell, Cora Coralina e José Saramago produziram obras notáveis depois dos 80 anos, provando que a criatividade e a lucidez podem florescer mesmo quando o corpo envelhece. Em muitos casos, a maturidade traz uma visão mais ampla e serena da vida, o que aprimora a capacidade de julgamento e a profundidade intelectual.
Naturalmente, é importante reconhecer que o envelhecimento impõe desafios. A diminuição gradual da energia física, a lentidão cognitiva e o risco de doenças neurodegenerativas são realidades que precisam ser consideradas. Entretanto, esses fatores não devem ser vistos como barreiras absolutas, mas como condições que exigem adaptações. O trabalho pode ser reorganizado de forma mais flexível, com ritmos adequados e funções compatíveis com o bem-estar do indivíduo, permitindo que ele continue ativo sem comprometer a saúde.
Em síntese, a sociedade precisa abandonar a visão de que a velhice é sinônimo de incapacidade. O limite da atuação intelectual não deve ser fixado por uma idade específica, mas pela conjunção entre competência, vontade e qualidade de vida. Enquanto houver lucidez, entusiasmo e sentido naquilo que se faz, não há motivo para interromper a contribuição de uma mente experiente. O verdadeiro envelhecimento não está no corpo que se desgasta, mas na mente que se entrega à inércia.