Reflexos da tragédia de Santa Maria aqui

Ontem fez um mês a tragédia da boate Kiss de Santa Maria, onde mais de 200 jovens morreram no incêndio. Mas os reflexos ainda ecoam por toda parte. Aqui em Venâncio, depois do acontecido em Santa Maria, os bombeiros passaram a cobrar regularização de prevenção de incêndio, saídas de emergência, para raios, extintores, etc, etc, como manda a lei. O que muitos perguntam é porque antes não era cobrado?

Após as vistorias determinadas por decreto assinado pelo prefeito Airton Artus, a maioria dos ginásios de esportes e salões do interior foram interditados. Alguns poucos já conseguiram se adaptar e foram liberados. A maioria tem dificuldades. Ouvi um exemplo do ginásio de Tangerinas, onde seria preciso investir R$ 46 mil – dinheiro que a sociedade não deve ter – para atender as exigências num ginásio de esportes, composto por concreto, ferro e alumínio e uma cozinha ‘puxada’ para o lado de fora, com possibilidade quase zero de incêndio.

A maioria das sociedades do interior está com seus locais de festa interditados e justamente no que podemos chamar de ‘safra’, pois é de março até junho, após a colheita e venda do tabaco, que acontecem a maioria das festas comunitárias pelo interior do município há dezenas de décadas.

Se a maioria das comunidades já estava em dificuldades e sem lideranças novas para assumir presidências, a interdição feita pelos bombeiros, pode significar a ‘morte’ de dezenas de sociedades, que interditadas não terão como sobreviver.

Nesta semana participei da reunião da diretoria da Sociedade de Leituras, da qual faço parte. O tema da reunião foi como conseguir reabrir a Sociedade interditada para eventos, com mais de 100 pessoas, pois os eventos com menos de 100 pessoas podem continuar sendo realizados no Leituras em outras sociedades interditadas. Mas são os grandes eventos a principal fonte de renda das sociedades.

O presidente do Conselho Deliberativo, Adalberto Hammester, citou que a Sociedade de Leituras, que é centenária, mais antiga que o próprio município, teria que ter sua arquitetura mutilada para atender todas as exigências, como abertura de portas para fora, derrubar as charmosas escadas de acesso ao salão principal, entre outras demolições. Hamester aconselhou o departamento jurídico da Sociedade a estudar a lei para tentar proteger o Leituras de uma desfiguração de sua arquitetura centenária para poder realizar eventos. “Em mais de 100 anos nunca tivemos problemas e agora temos que desfigurar a nossa sociedade para poder fazer eventos” protestou o dirigente do Conselho.

O presidente Cássio Gauer revelou que o projeto de adaptações já está em andamento, e custará mais de R$ 30 mil. Para ter recursos, a Sociedade lança uma rifa.

Como se vê, a tragédia de Santa Maria continua fazendo vítimas, pela prevenção, é preciso assinalar, mas penso que de forma exagerada. Poderia ser menos dolorosa para as sociedades, com prazos para regularizar situações que representem menor risco. Não teve meio termo. Era oito e foi para oitenta.



Sérgio Klafke

Sérgio Klafke

Diretor de Conteúdo e colunista da Folha do Mate

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