A família Klamt está de luto. A comunidade de Venâncio Aires, também. Inevitavelmente, o assunto mais comentado e dolorido da semana foi o assassinato da jovem Juliani Klamt. O crime, que ganhou repercussão regional e estadual, entra para uma revoltante estatística de feminicídio. Um termo relativamente novo para a sociedade brasileira, mas que ganhou uma lei para punir um dos tipos de crimes que mais crescem no país.

A assistente social, 31 anos, é a quarta mulher, moradora de Venâncio Aires, que tem a vida ‘arrancada’ por um ex-namorado ou ex-marido em um período de 1 ano e dois meses. Em todos esses casos, o sentimento de posse levou o ex-companheiro a matar cruelmente e depois tirar sua própria vida. Não puderam ser julgados pela lei, somente pela comunidade que chora e ao mesmo tempo compartilha indignação e revolta.

Pessoa querida e conhecida tanto na cidade quanto no interior do município, Juliani se foi, mas sua morte não enterrou esperanças. Juliani não está mais aqui, mas vem mobilizando muitas mulheres, encorajando várias outras, dando voz e vez para uma causa que não pode ser silenciada.

A morte de Juliani também vem ‘sacudindo’ mulheres que por tempo estão sofrendo e, após este crime, tiveram o empurrão que faltava para pedir por proteção. Um exemplo é uma mulher de 57 anos, moradora do interior da Capital do Chimarrão e que, um dia após o crime, procurou a Delegacia de Polícia para denunciar e expor o que há anos sofria calada.

A ‘despedida’ de Juliani também vem unindo forças e as mãos de tantas outras mulheres. São amigas, familiares, colegas ou simplesmente desconhecidas que querem dizer para Venâncio e para o mundo um chega para as ameaças que perturbam e machucam, para a violência que fere e tira a paz, para o feminicídio que tirou, em 2019, somente no Rio Grande do Sul, a vida de 100 mulheres.

Em um ato marcado para este sábado, pela manhã, em frente à Igreja Matriz São Sebastião Mártir, mulheres, de mãos dadas, formarão um cordão para homenagear Juliani e outras vítimas de ex-companheiros. Este promete ser o maior ato em defesa da vida e das mulheres já realizado na Capital do Chimarrão.

O ato é simbólico, mas ele vem para reforçar o dever que a sociedade tem de falar do assunto e de mudar essa realidade. Esta causa é dos homens e das mulheres, das famílias, das escolas, do poder público, das entidades, dos órgãos de segurança, dos movimentos, dos conselhos.

Não se pode permitir que mais uma Juliani se vá e que os números, que já são alarmantes, continuem crescendo. Hoje, em Venâncio, há mais de 200 medidas protetivas ativas. Além disso, 77 mulheres recebem acompanhamento da Patrulha Maria da Penha (PMP) e destas, nove vítimas estão na lista dos considerados ‘casos graves’ atendidos pela Brigada Militar de Venâncio. Outras 62 denunciaram, mas recusaram o atendimento domiciliar. Talvez por medo ou vergonha. Ao mesmo tempo, há um número que nunca conseguiremos dimensionar: o de mulheres que seguem caladas, que são ameaçadas e agredidas e nunca denunciaram.

O que muitas mulheres se perguntam é: a denúncia de Juliani teria evitado a morte dela? A morte, talvez não. Mas os órgãos de segurança pública têm garantias de que a denúncia protege e já salvou a vida de muitas outras Julianis.

A comoção e mobilização que a morte dela causou nos últimos dias mostram que as nossas mulheres não querem somente lamentar e chorar. Elas querem, nós queremos, que a vida dela não seja mais um número.