Venâncio Aires - A transição entre biomas é um dos fatores que mais influenciam a diversidade da fauna no Rio Grande do Sul. Segundo o coordenador do Curso de Ciências Biológicas e responsável pelo Laboratório de Zoologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Andreas Köhler, a região onde estão localizados os municípios de Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, abriga uma grande diversidade de espécies justamente por estar situada entre os biomas Mata Atlântica e Pampa, reunindo representantes típicos de ambos os ecossistemas.
O biólogo e professor destaca que, em proporção, o número de espécies da fauna por área, na região, chega a superar outras zonas do país. “A nossa região é, em relação de espécies por metro quadrado, quase mais biodiversa do que a região amazônica. Claro, na Amazônia existem muito mais espécies, mas também estamos falando de uma área muito maior. Estar localizado no meio de dois biomas traz uma biodiversidade surpreendente para nossa região”, complementa.
RELAÇÃO COM A FLORA
A relação entre fauna e flora, ressalta o professor, é de interdependência. “Sem a fauna, não existe a flora, e vice-versa. Assim os dois andam ‘de mãos dadas’. Para a fauna local, a vegetação é local de se alimentar (frutas, folhas, sementes), local de fazer seus ninhos, de pernoitar. Assim, a conservação da fauna e flora é um dos desafios desta nova geração, mais ainda em uma região predominada pela agricultura”, afirma.
Na Unisc, onde Köhler atua, o Laboratório de Zoologia mantém a Coleção Zoológica, considerada o maior acervo da fauna da região. O espaço reúne exemplares que ajudam a mapear e compreender as espécies que compõem o mosaico ecológico do Vale do Rio Pardo.
Guias de colorir
Segundo o biólogo e professor Andreas Köhler, a proteção ambiental começa pela educação e, por isso, o Laboratório de Zoologia da Unisc trabalha há mais de 15 anos com a série ‘Guias para colorir’, livrinhos de 24 páginas que combinam informações e desenhos para colorir. “Os livros apresentam exemplos e informações sobre a biodiversidade local e regional, com conteúdo especialmente direcionado para crianças dos anos iniciais”, cita.
De acordo com o professor, ao longo dos anos, já foram lançados 19 livros de colorir, além de publicações mais técnicas. A edição mais recente, ‘Ecossistemas: Flora e Fauna’, foi lançada neste mês com apoio da China Brasil Tabacos (CBT) de Venâncio Aires e está disponível gratuitamente para retirada na Unisc. Além disso, a CBT está promovendo um roteiro de distribuição pelas escolas de áreas de atuação da empresa.
“Precisamos conhecê-los para protegê-los”
A alta biodiversidade de fauna na região, relatada pelo biólogo e professor Andreas Köhler, também traz consigo o desafio da conservação e, na visão do profissional, o primeiro passo é o conhecimento. “Precisamos conhecê-los para protegê-los. Só conseguimos proteger o que sabemos que existe e como vive”, afirma.
Ele reconhece avanços pontuais no Rio Grande do Sul, mas aponta entraves históricos. “As políticas ambientais do Estado buscam a sustentabilidade, mas enfrentam flexibilizações e desafios. Infelizmente, as mudanças legais nem sempre favorecem a proteção e, às vezes, são contraprodutivas.” Ainda assim, ressalta que o Rio Grande do Sul “enfrenta menos crimes ambientais de grande impacto do que outros estados”.
Köhler também menciona que a educação ambiental é limitada. “Faltam ações mais amplas voltadas à conservação da fauna. Quando existem, são muito pontuais e, por isso, de resultado restrito.”
Ele menciona as abelhas como símbolo de engajamento que poderia se expandir. “Todos sabem de sua importância, na polinização ou produção de mel. Tem algumas pessoas que se preocupam com sua proteção, plantando vegetação com flores e mantendo colmeias de abelhas sem ferrão, mas para realmente garantir uma proteção das espécies nativas, faltam projetos de mais abrangência, envolvendo mais setores da comunidade, incluindo o setor empresarial. Todos sabem da problemática, mas poucos se envolvem em realmente buscar melhorar”, observa o coordenador do Curso de Ciências Biológicas da Unisc.
Entre os exemplos positivos, o professor cita iniciativas locais. “A reserva do Cinturão Verde, em Santa Cruz do Sul, mostra o esforço do poder público em proteger uma área urbana significativa contra especulação, invasões e espécies exóticas.”
A diversidade da região
• O biólogo e professor Andreas Köhler estima que existam mais de 50 mil espécies na região, a maioria formada por insetos — como marimbondos, abelhas jataí e abelhas africanizadas.
• Entre os animais mais conhecidos pela população estão o sabiá, o joão-de-barro e o quero-quero; mamíferos como o gato-do-mato, o graxaim e o ouriço; e répteis como a jararaca, a cruzeira e a cobra-coral.