Couchsurfing: o que saber para hospedar e ser hóspede desse sistema

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Confiança, mente aberta e um bom instinto. Essas são algumas das características necessárias para quem deseja viajar por meio do couchsurfing, que em tradução livre para o Português, seria algo como ‘surfar no sofá’. Na prática, consiste em encontrar pessoas pelo mundo dispostas a oferecerem um quarto de hóspedes, um colchonete, uma cama de almofadas, ou mesmo um sofá, para passar uma ou mais noites. Em contrapartida, quem já foi hóspede, também pode oferecer a sua casa para viajantes.

Foto: Arquivo Pessoal / Na Pilha!Café da manhã andaluz na casa de Sara, host de Felipe em Granada
Café da manhã andaluz na casa de Sara, host de Felipe em Granada

Essa alternativa – que pode parecer muito cool para alguns, e totalmente assustadora para outros, dependendo o ponto de vista -, costuma ser uma opção para viajantes, especialmente durante os populares ‘mochilões’. O mesmo funciona para campings e hostels. E já que o tema dessa edição do NP é ‘internacionalize-se’, que tal saber um pouco mais sobre esse tipo de ‘aventura’?

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Experiência como host

Produtor executivo de eventos, Emerson Tuta Santos, 32 anos, é adepto do couchsurfing. Ingressou no aplicativo no fim de 2016, com a intenção de criar boas referências como host (quem oferece hospedagem), para em um futuro próximo utilizar como hóspede em um mochilão que está planejando pela América do Sul. Morador de Venâncio Aires, o jovem costuma receber viajantes em seu apartamento, em Porto Alegre. Por lá, já passaram brasileiros, chilenos, bolivianos e um japonês. Viajantes solitários, casais ou trios. Na sequência, confira as dicas de Tuta, como é mais conhecido, para essa prática:

Como funciona?Você cria um perfil no aplicativo (couchsurfing.com), e escolhe a opção de hospedar ou não. Ele trabalha com sistema de referência do perfil, então, em cada atividade você recebe avaliação, que fica permanentemente ligada ao seu perfil, e não é possível excluí-la. Seja buscando um ‘sofá’ ou hospedando uma pessoa, você passa por processo de avaliação.

Foto: Arquivo Pessoal / Na Pilha!Ao receber três bolivianos em seu apartamento, em Porto Alegre, Tuta levou-os para conhecer um de seus morros preferidos na cidade
Ao receber bolivianos em seu apartamento, em Porto Alegre, Tuta levou-os para conhecer um de seus morros preferidos na cidade

Como você escolhe seus hóspedes?Faço uma análise prévia do perfil no aplicativo e também em outras redes existentes (Facebook, Instagram). É fácil perceber quando a pessoa é um mochileiro aventureiro, sua rota de passagem fica marcada através de fotos, e pessoas relacionadas em seu caminho. Quem usa o couchsurfing, gosta de pessoas, gosta de conhecer a cidade e os costumes locais através de um de seus habitantes. Esse laço, essa troca de culturas, gera gratidão, geralmente demonstrada nas redes sociais e nas próprias avaliações de referência no perfil da plataforma.

Tem pontos negativos?Existem pessoas que acham que é mais uma rede de paqueras. E por alguns membros agirem assim, e pela devida segurança, muitas mulheres só querem se hospedar com mulheres. E mulheres só hospedam mulheres em suas cidades. Esses homens mal intencionados não hospedam homens. E assim se cria uma barreira ao sexo masculino. Sinto essa característica, mas acredito nas pessoas e na funcionalidade do aplicativo.

O que é preciso para ser um couchsurfer?Gostar da diversidade das culturas nas pessoas é essencial. Não deve existir barreira comportamental, ou de pequenos preconceitos. É uma forma alternativa e barata de viajar, onde você será recebido por pessoas que acreditam em pessoas. E por este motivo, abrem a sua casa para oferecer o sofá, o quarto de hóspedes ou até uma cama de almofadas. Muitas vezes, elas fazem de tudo para você se sentir bem, inclusive te oferecem alimentos sem querer nada em troca. Não é regra, mas entendem que desta vez você é o viajante, e te oferecem o que tem, e muitas vezes o que não tem.

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Experiência em sofás pelo mundo

Porto-alegrense e com 32 anos, Felipe Martins é designer gráfico e criador do canal ‘Bagagem do Mundo’. Ele, que morou durante dois anos em Dublin, na Irlanda, já conhece mais de 20 países, entre viagens para a América, Europa, Ásia e África. “Alguns destes países conheci durante meu período de residência em Dublin, e outros durante o meu ‘mochilão de despedida’, quando passei quase seis meses na estrada”, explica.

Apesar de já ter ouvido falar sobre o couchsurfing antes, foi na Europa que Felipe começou a utilizar a ferramenta. No início, sentiu dificuldades em econtrar alguém disposto a lhe hospedar, mas com o tempo percebeu que a plataforma é colaborativa e baseada na confiança. Portanto, quanto mais referências, mais fácil conseguir acomodação. “E por isso passei a incomodar meus amigos para eles deixarem depoimentos lá e também despendi algumas horas para preencher as perguntas do perfil e colocar fotos bacanas de viagens. É importantíssimo ter um perfil bem elaborado, porque todo mundo quer hospedar pessoas interessantes e que vão agregar”, comenta.

Foto: Arquivo Pessoal / Na Pilha!Felipe, em trilha com os amigos que fez se hospedando em van hippie, em Lagos, Portugal
Felipe, em trilha com os amigos que fez se hospedando em van hippie, em Lagos, Portugal
Foto: Arquivo Pessoal / Na Pilha!Na Capadócia, Felipe fez passeios com uma mochileira moçambicana que também estava hospedada em seu host
Na Capadócia, Felipe fez passeios com uma mochileira moçambicana que também estava hospedada em seu host

Felipe, que confessa ter procurado a iniciativa em função do aspecto financeiro, para economizar com hospedagem, hoje tem um pensamento bastante diferente. “Pude vivenciar experiências tão ricas e profundas que, hoje, se faço uma viagem e não fico na casa de alguém pelo couchsurfing, a experiência me parece incompleta”, diz.

Quais são as vantagens do couchsurfing?No couchsurfing, a pessoa está abrindo as portas da casa dela pra ti, é um ato simbólico de amor, e como não tem dinheiro envolvido, a forma de retribuir é com seu tempo, companhia, atenção e afeto. Outra vantagem em relação a qualquer outra forma de acomodação, é que, por estar sendo hospedado por um local, você terá informações privilegiadas da cidade. Se for uma pessoa antenada, vai te dizer os melhores lugares para ir e coisas para fazer, e não te deixará cair nas famosas armadilhas para turistas.Mais ainda, você poderá ser inserido na vida social de uma pessoa. Eu, por exemplo, fui hospedado por uma professora de música em Selçuk (Turquia), e ela me levou a um festival de percussão onde tocaram alunos de toda a região de Izmir. Um evento incrível e ao mesmo tempo muito local, creio que eu era o único turista ali.

Foto: Arquivo Pessoal / Na Pilha!Felipe, com os hóspedes da Suécia e México, em sua casa, em Porto Alegre
Felipe, com os hóspedes da Suécia e México, em sua casa, em Porto Alegre

Quais as dicas para evitar roubadas?Indico sempre ler, pesquisar referências, e por aí vai. No couchsurfing, veja os depoimentos no perfil da pessoa, se não tiver nenhum, evite. E o mais importante, siga a sua intuição. A intuição pode ser treinada e um bom viajante é aquele que sabe confiar nas pessoas (afinal, a imensa maioria das pessoas vai preferir te ajudar a te prejudicar) e não ter medo.É importante se autoconhecer e saber seus limites. Tenho uma história bem interessante: Quando fui a Lagos (Portugal), encontrei pelo couchsurfing um hippie galês que morava em uma van no meio do mato, perto da praia. Ou seja, era óbvio que as condições não seriam as melhores: ele tinha que encher uma caixa d’água na cidade e por vários dias ele não foi. Então ficamos sem água e sem banho, a cama não era a mais confortável, e o cheiro às vezes incomodava. Enfim, para alguns poderia ser uma ‘roubada’, mas para mim, que estava disposto a viver aquela situação, aquele estilo, foi uma experiência valiosa.

FICA A DICA! Hoje, com residência fixada em Porto Alegre, Felipe viaja com menos frequência. Para manter a conexão com o universo mochileiro, no entanto, procura hospedar pessoas pelo couchsurfing. Com alguns dos hóspedes, aliás, grava entrevistas com relatos das experiências vivenciadas na estrada. Quer conferir? Acesse o Canal Bagagem do Mundo, no YouTube.

>> EM TEMPO: Tuta e Felipe se conheceram através da troca de experiência pelo tema viagem. Logo a afinidade surgiu e planejam de uma cicloviagem juntos.

    

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