Educação: a chave para combater o racismo

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Na idade antiga e média, o racismo se aproximava mais da xenofobia (aversão e antipatia ao que é estrangeiro ou de outra cultura). Com a expansão das nações europeias e suas conquistas, surge o sentimento de superioridade, e nas sociedades ocidentais, essa mentalidade vem de que o ‘trabalho é coisa de raça inferior’. Conforme relata a professora de História e orientadora educacional, Maria Susana de Carvalho, no Brasil o racismo surge no início da colonização, quando os negros sofrem uma imigração forçada e são trazidos para trabalhar como escravos.

Essa ideologia de superioridade que está impregnada no país, e que se perpetua ao longo dos séculos, é o que tem impedido a ascensão econômica, social e cultural das populações negras, as quais são marcadas pelo princípio de uma falsa abolição.

“Abolir sem dar suporte econômico, moral e habitacional é não proporcionar condições dignas de liberdade. Logo, os negros são vistos no inconsciente imaginário como diferentes, sem parâmetros de igualdade”, pontua a profissional. 

Os movimentos em prol da cultura negra, no entanto, vêm avançando, os quais buscam o reconhecimento da importância que o negro teve e tem na construção do Brasil.

“A mudança começa a partir do conhecimento. Só aprendemos a respeitar e admirar o que conhecemos. Conhecer a cultura negra e partilhar dela é o início para uma nova construção do negro em nosso país”, comenta Maria Susana.

Embora a docente lamenta que tenha sido necessária uma lei para que houvesse maiores investimentos no conhecimento da cultura e contribuição do negro, através dos bancos escolares, por outro lado, entende essa como uma conquista dos movimentos negros. “Foram esses grupos que forçaram o surgimento de uma legislação que vem a contemplar a dignidade e igualdade do povo afro-brasileiro”, diz.

Segundo Susana, é preciso ‘o acordar’ de pessoas que ainda se encontram adormecidas em uma ideologia do passado, que não mais comporta as evoluções do homem do século XXI. “Um homem que vive e convive com tantas diferenças, precisa buscar o respeito e a humanidade num mundo de diversidades”.

Por isso, às vésperas do Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, o Na Pilha! te convida a refletir e pensar em conjunto sobre atitudes para que o racismo seja abolido de vez da sociedade. E é claro que temos uma pista: é a educação, e tudo o que ela implica, que pode ser o caminho para mais respeito, empatia e, principalmente, combate ao pré-conceito.

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Você sabe o que é viés inconsciente?

O viés inconsciente é um conjunto de estereótipos sociais, sutis e acidentais que todas as pessoas mantêm sobre diferentes grupos de pessoas. É o olhar automático para responder a situações e contextos para os quais você é treinado culturalmente, como uma programação do cérebro.

Sabe-se que esses conceitos ficam armazenados nos lóbulos temporais do cérebro. No contexto do racismo, eles ligam, por exemplo, os termos ‘negro’ e ‘armado’ a coisas como hostilidade, ameaça e crime. Ou seja, a um bandido. Por outro lado, se a mesma coisa acontece com ‘branco’ e ‘armado’, a imagem que vem à cabeça é a de um delegado de polícia.

E tudo isso acontece em poucos segundos. Estes estereótipos preconceituosos viajam até o córtex médio frontal, onde são interpretados pela primeira impressão da pessoa. É nesse momento que ocorrem os atos de racismo, sejam comentários ou atitudes.

Fonte: Revista Galileu

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Quais atitudes demonstram racismo contra os negros?

– Dizer coisas como ‘é coisa de preto’, ‘só podia ser preto’, ou fazer piadas denegrindo a cor da pele.

– Associar pessoas negras a determinados trabalhos que remetem ao período escravocata, como empregada doméstica, babá, porteiro, motorista, etc. Vale dizer que não há nenhum problema com essas profissões, mas classificá-las conforme a cor da pele não é correto.

– Associar pessoas com cor de pele negra à criminalidade. Chamar a polícia porque um jovem negro está parado em frente a um estabelecimento comercial, ou pedir que uma criança negra sozinha se retire de um local, por achar que é pedinte, são alguns dos exemplos.

– Sugerir que uma pessoa negra alise seu cabelo, use recursos de maquiagem para afinar os traços, ou mesmo indicar produtos que promovam o clareamento da pele.

– Expressões como ‘a coisa está preta’, ‘mercado negro’ e ‘magia negra’ associam os termos ‘preto’ e ‘negro’ como algo negativo. Da mesma forma, o verbo ‘denegrir’, Sinônimo de tornar negro, significa ‘deturpar, destruir, fazer mal’.

– Relacionar pessoas negras com a hipersexualização, com expressões como ‘da cor do pecado’ ou ‘tuas negas’. Ou ainda, afirmar que afrodescendentes são naturalmente mais sensuais, ou que possuem certas características corporais, como coxas e glúteos maiores.

– Achar que discussões sobre racismo e consciência negra são ‘mimimi’. Dizer coisas como ‘Hoje em dia tudo é racismo, não pode falar nada’.

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Ong Alphorria nas escolas

O trabalho da Ong Alphorria nas escolas existe desde a fundação da instituição e é desenvolvido com alunos e professores. A instituição trabalha desde a educação infantil até o ensino médio, pois considera que o engajamento dos estudantes é o principal foco para o desenvolvimento do protagonismo juvenil e a educação étnico-racial.

Foto: Divulgação / Na Pilha!Ong Alphorria em ação nas escolas
Ong Alphorria em ação nas escolas

“Visando a convivência de todos com a diferença, valorizando ainda mais a diversidade e com muito respeito”, comenta a integrante da Ong, Ana Landim.

Conforme ela explica, o trabalho nas escolas é fundamental para combater as desigualdades raciais e sociais. “Os debates são necessários para que haja uma maior conscientização. É preciso que haja uma valorização da diversidade com estímulo ao protagonismo juvenil”, completa.

Neste ano, a Ong promove a ‘Semana Alphorria’, que traz para a pauta a temática ‘Educando para a Consciência Negra’. Uma ampla programação em escolas, e também na sede da instituição, está sendo organizada durante toda a semana.

    

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