Educação física para além das quadras
Quem aí já respondeu que a matéria favorita é a Educação Física? Esta, que é uma das disciplinas escolares mais amadas dos alunos, tem um papel importante no incentivo à prática esportiva, na descoberta de jovens talentos do esporte e na integração dos estudantes. Com a dedicação dos professores e inovações nas aulas, a Educação Física vai muito além do vôlei e futebol.
O professor Tiago Wagner, 24 anos, procura levar as aulas para um lado diferente do habitual. Primeiramente, questiona os estudantes sobre o que sabem sobre a temática a ser trabalhada. “A ideia é partir do que eles já sabem”, destaca ele, que busca aliar a teoria à prática. Além disso, o professor de Educação Física tem como princípio fazer com a disciplina vá além da escola. “Deve-se ir adiante. Trabalhar coisas diferentes. Com isso, se aprende na escola e leva para a vida”, considera.
No intuito de proporcionar a prática esportiva para além do futebol e do vôlei, o professor Tiago já trabalhou capoeira, dança, conceitos de saúde e lazer, jogo de bocha e bolica, jogos com raquete (tênis e ping-pong), funk (além do gênero musical), bem como jogos eletrônicos, tecnologia e exercícios físicos. A história da bicicleta também já fez parte das aulas e contou com um passeio ciclístico com os alunos na rodovia. Tiago conta que, após essa aula, alguns alunos seguiram com o ciclismo como um hobby.
Na Escola Estadual de Ensino Médio Sebastião Jubal Junqueira, em Vila Deodoro, uma das instituições onde Tiago trabalho, as práticas de Educação Física ocorrem na quadra, no pátio da escola, e, por ser uma instituição do interior, também é possível fazer caminhadas pela comunidade para que os alunos conheçam e identifiquem outros espaços que podem ser utilizados para práticas físicas.
Para tentar inovar e deixar as aulas mais diversificadas, para além dos jogos de vôlei e futebol, uma das apostas do professor é incentivar os alunos a criarem jogos e danças. Um exemplo são as dancinhas do aplicativo TikTok, em que os alunos devem criar uma coreografia nova para a mesma música. “Não fico apenas no ‘façam’. Eu gosto de dizer ‘criem’”, acrescenta.
O que dizem os estudantes
A estudante Kelly Gollmann, de 16 anos, do 2º ano do Ensino Médio, da Escola Estadual de Ensino Médio Sebastião Jubal Junqueira, gosta das aulas porque elas são diferentes. “Com outros professores era sempre a mesma coisa, agora não. Ainda prefiro o futebol e o vôlei, mas gostei também da dança, que foi bem diferente. Acredito que a Educação Física não é só praticar exercício físico, a disciplina te ajuda a se alimentar bem, a praticar exercícios para ter uma vida saudável, física e mentalmente, é superimportante.”
Aluno do 2º ano do Ensino Médio do Colégio Gaspar Silveira Martins, João Pedro Pierret de Souza, de 16 anos, afirma que gosta das aulas pela liberdade. Mesmo tendo que seguir o currículo e o que o professor pede, essa liberdade deixa a aula leve. “Prefiro vôlei, pois é o que mais sinto alegria jogando. Também gosto de xadrez e, fora da escola, lutei artes marciais”, compartilha.
O adolescente ainda enfatiza a importância de fazer esportes. “O exercício físico cuida da saúde, como regulação de peso, colesterol, e outros motivos. Mas principalmente a questão mental, que me dá bastante alegria, pois estou liberando a raiva e os sentimentos negativos”, afirma.
As mudanças em mais de 30 anos
O que você fazia no ano de 1989? Possivelmente a sua resposta seja que nem tinha nascido ainda. Mas, nessa época, o professor de Educação Física Adriano Frietto, de 54 anos, já estava na ativa. “Comecei o curso na Unisc em 1988 e no ano seguinte já estava trabalhando no Gaspar, antes mesmo de me formar, que seria em 1990.”
Em 33 anos de ensino, o professor acompanhou a evolução da tecnologia e os impactos nos jovens. Quando começou a dar aulas, as grandes novidades eram os jogos de cartucho, as fitas cassete e o VHS. Agora, a realidade são os smartphones e as redes sociais. “Precisei me reinventar. Acompanhar o processo evolutivo das tecnologias e ir adaptando”, diz o profissional, que atua no Colégio Gaspar Silveira Martins e na escola da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).
Outro ponto destacado por Frietto é o sedentarismo da atual geração. “Muita coisa mudou. Principalmente de 2000 para cá, quando a gurizada ficou mais sedentária, em função da tecnologia. Não é fácil trabalhar com atividade física, pois é cansativo, repetitivo, então precisa ter bastante força de vontade dos alunos.” Além disso, o professor enfatiza a preocupação com a quantidade de medicamentos utilizados por adolescentes. “De uns anos para cá, a coisa está preocupante. Os jovens tomam mais medicações, antigamente era reduzido a problemas cardíacos, diabetes, agora tem antidepressivos com frequência nas turmas”, observa.
Modalidades
O docente comenta que busca trabalhar diversos esportes, como vôlei, basquete, futebol, futsal, handebol e atletismo, apesar das limitações de estrutura. “Também tento trazer jogos de mesa, como xadrez, e agora entrou alguns esportes radicais, como skate e bicicross, porém acaba ficando mais voltado para a teoria e, quando der, tentamos a prática também.”
Em sala de aula, Frietto aponta questões sobre a importância de praticar esportes e conversar com os estudantes para deixá-los à vontade. “Fico bem feliz por ver diversos alunos que seguiram praticando, mesmo anos depois.” O professor ‘troca uma ideia’ sobre diversos assuntos, principalmente sobre academia, suplementos alimentares, doenças e outras questões de saúde. Podemos dizer que não existe um único processo no nosso corpo que não seja dependente da participação de uma proteína”, exemplifica.
Olimpíadas da Apae
Na Apae, o professor Adriano Frietto trabalha atividades voltadas para recreação, atividades localizadas e psicomotoras, e prepara os alunos para as Olimpíadas da Apae, para modalidades como atletismo, futsal, vôlei, tênis de mesa e outros esportes. “Vamos treinar para as Olimpíadas da Apae, já que teremos as três neste ano: regionais, estaduais e nacionais.”
O que todo professor de Educação Física já viu e ouviu?
• Estudante chutando a bola de vôlei
• Aluno ir para a aula de calça jeans
• Dor de barriga na hora da aula
• “Sor, hoje vai ter futebol?”
• “Nós vamos pra quadra?”
• “É pra copiar?”
• “Pode ser dupla de três?”
• “Isso é atividade de menina”
Perfil do Professor
Adriano Frietto – 54 anos
Professor de Educação Física há 33 anos
Onde atua: Colégio Gaspar Silveira Martins e na Apae
Perfil: O professor se define como sério e ao mesmo tempo brincalhão. “Sou flexível, porém, rígido também.” Além de treinar os alunos para as Olimpíadas da Apae, Frietto também participa dos Jogos Estudantis de Venâncio Aires (Jeva) e Jogos Estudantis do Rio Grande do Sul (Jergs) com o Gaspar. Para isso, realiza treinos em horários fora das aulas, com os times nas categorias mirim, infantil e juvenil. O professor tem ótimas histórias de campeonatos, em destaque quando vence de forma inesperada. “Uma equipe que surpreende, que chega nos três primeiros lugares. Teve um ano que ganhamos o municipal, classificamos para o estadual e chegamos em terceiro. Nunca pensei que iríamos tão longe, é uma lembrança boa.”
“A Educação Física é uma das matérias na qual possível conversar mais, trazer os alunos para perto, debater assuntos. É um ambiente mais livre, mais aconchegante, mais família. Pode ser um momento de relaxamento, ao mesmo em que se cuida da saúde.”
ADRIANO FRIETTO
Professor
Perfil do Professor
Tiago Wagner – 24 anos
Professor de Educação Física
Onde atua: Escola Estadual de Ensino Médio Sebastião Jubal Junqueira e Escola Municipal de Ensino Fundamental Cívico-Militar Cidade Nova.
Inspiração: Começou a pensar na hipótese de se tornar professor da 6ª para a 7ª série, quando estudava na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Professora Odila Rosa Scherer, por influência dos professores e também por ver que tinha facilidade em ajudar o colegas. No Ensino Médio, no Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), teve vivências diferentes, o que despertou mais ainda o interesse na profissão. Já na faculdade, encontrou outras inspirações e soube que estava no caminho certo.
“O sentimento de ser professor é de realização completa. É o que eu me vejo fazendo. Quero crescer na profissão.”
TIAGO WAGNER
Professor