A desvalorização salarial e o baixo reconhecimento na área da educação preocupam os docentes que dedicam a vida na formação de pessoas para o futuro. Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no Brasil cada vez menos jovens querem seguir a carreira docente. Hoje, apenas 2,4% dos alunos de 15 anos têm interesse na profissão. Há dez anos, o percentual era de 7,5%.
Apesar dos índices revelarem a baixa procura pela licenciatura entre os jovens, muitos deles ainda possuem no DNA o desejo de se tornarem professores, ao contribuir com um mundo melhor e trazer uma diferente realidade à Educação. Para marcar o Dia do Professor, neste dia 15 de outubro, o Na Pilha! conversou com estudantes que optaram pela licenciatura, movidos pelo amor, pela vontade de levar a informação às pessoas e, principalmente, pelo interesse em transformar vidas.
Ser professor: O que me estimulou?
O carinho das crianças Tainara Pereira Pacheco, de 20 anos, estava decidida a cursar Administração até o fim de 2014. No entanto, estudantes de uma escola municipal de Venâncio Aires, onde era secretária, motivaram a partir do carinho que entrasse para a pedagogia. Atualmente, trabalha com o Mais Alfabetização através da Secretaria Municipal de Educação (SME) na escola Odila Rosa Scherer pela manhã e no como estagiária no Colégio Gaspar Silveira Martins a tarde.
Tainara conta que quando foi se escrever para o vestibular, que até então seria de Administração, mudou de ideia. “Mudei toda a ordem dos cursos – Pedagogia, Educação Física e Administração – e não avisei meus pais. Eles só ficaram sabendo na hora que passei no vestibular de pedagogia”, diz.
Hoje ao invés de calcular, a futura professora distribui carinho aos estudantes que passam pelos seus ensinamentos. “Sou feliz perto de todas as crianças que estão ao meu redor. Tenho um enorme orgulho por todas, espero ver elas crescendo e trabalhando”, afirma.
Se estou triste quando estou com elas, a tristeza desaparece e o sorriso vem com tudo
A futura professora, afirma que é necessário ter paciência ao seguir nessa profissão. “Cada criança tem seu tempo”, diz. Ou seja, segundo ela, cada uma tem o seu período para desenvolvimento e isso acaba influenciando no ritmo da aula. “Mas elas precisam ter um compromisso e responsabilidade desde criança, não podemos deixar sem fazer nada”, destaca.Outro ponto destacado por Tainara é sobre a importância do incentivo dos pais juntamente com a escola. “Família e escola devem sempre caminhar e abraçar juntos, se entenderem porque a criança precisa de um aprendizado e estudo.”
Apoio da família
O apoio da família de Larissa Tirelli de Araújo foi um dos motivos que a fez seguir no curso de Pedagogia. Aos 20 anos, a jovem está no 6º semestre do curso e conta que no momento da escolha, surgiu um estranhamento por parte da família, “mas ao decorrer dos semestres, eles perceberam que não seria eu se não tivesse feito essa escolha”. Além disso, ela conta que desde a sua educação básica teve professores que em seu ponto de vista eram bons e ruins, e isso a assusta. “Assim, posso parar e refletir sobre esses exemplos, trazendo-os para a minha transformação metodológica e do que é ser professor”, destaca.
A jovem concilia a graduação com o trabalho na Educação Infantil Sesquinho no Sesc Santa Cruz do Sul com a bolsa de Iniciação Científica e Programa de Residência Pedagógica da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). No meio educacional desde cedo, a jovem já sabe sobre a importância da carreira que escolheu seguir: “Hoje, podemos ver claramente a sociedade em que vivemos, como será futuramente, como serão as crianças, as escolas, os professores, e assim, pensamos realmente como queremos que tudo isso seja. E como muito escuto pela universidade, se queremos um futuro, uma sociedade, uma escola melhor, quem poderá mudar isso somos nós, professores”, enfatiza.
Positivo e negativoLarissa afirma que os pensamentos e atitudes mudam, após passar um tempo envolvidos com a educação. “Estar em sala de aula na universidade, participar ativamente das discussões com os colegas e professores, começam a mudar. Você começa a pensar diferente e chega a conclusão do quanto pensar é bom, e ter um professor em sala de aula que te provoca a pensar, é melhor ainda”, destaca.
Evoluir para transformar
Optar pela profissão na área da Licenciatura e Pedagogia significa fazer a diferença na vida de outras pessoas. Este é um dos aspectos que tem motivado os jovens a investir na profissão. “A criança vê no professor, além de educador, alguém que acolhe, dá carinho, escuta, coisas que às vezes só encontra na escola”, afirma a assessora pedagógica e responsável pela Educação de Jovens e Adultos (EJA) Andreia Cassuli. Segundo ela, os principais fatores que incentivam os jovens estão ligados ao amor à profissão e a garantia de um futuro mais estável. Ela acredita que a vontade de atuar na área também tem relação com o passado, pois muitos jovens já tiveram um professor que já fez a diferença e que servem de inspiração para o futuro. Com experiência na área, Andreia afirma que é possível identificar o perfil do profissional, até mesmo nas atividades realizadas em sala de aula. “Já vemos muitos deles em nossas escolas desenvolvendo projetos que contribuem para a verdadeira aprendizagem de seus alunos. Um exemplo disso é a participação de professores e alunos em feiras internacionais.”
Para mudar o cenário da educação, o professor deve se reinventar de acordo com as transformações da nova geração, ao buscar atualização e conhecimento. “Temos em nossas mãos a vida e a história de muitas crianças todos os dias e precisamos saber lidar com o preconceito, o racismo, o bullying, arranjos familiares, identidade, sexualidade, entre outros aspectos da atualidade.”
Segundo Andreia, para evoluirna educação é preciso entender e acompanhar as transformações dos alunos, para que de fato haja construção de conhecimento e trocas significativas e afetivas.