Você está no carro, em casa, na escola, no parque ou caminhando pela rua com seus fones de ouvido. Começa uma batida diferente e, involuntariamente, seu corpo já começa a se mexer no ritmo da música.
Esse é o funk, que assim como tantos ritmos, possui uma sonoridade contagiante, que convida à expressão e à dança. E se o corpo mexe, a mente pensa. E assim surgem letras que falam sobre os mais diversos assuntos, desde amor e relacionamentos, até os dilemas encontrados no dia a dia da vida em comunidade.
O problema, aparentemente, está quando essas letras – e o ambiente onde são tocadas – falam sobre sexo, violência, drogas, entre outros tópicos. Foi justamente isso que motivou o empresário carioca Marcelo Alonso a enviar ao Senado uma proposta sugerindo a criminalização do funk. Segundo ele, o ritmo é uma ‘falsa cultura, e os bailes funk possuem a finalidade de reunir criminosos, estupradores e pedófilos, além de incentivar o uso de drogas e o consumo de álcool por adolescentes’.
O senador Romário está à frente do debate, e audiências públicas, além de enquetes online, têm sido realizadas para ouvir a opinião da sociedade. O Na Pilha!, que sabe que o funk é um ritmo popular – que tem recebido cada vez mais espaço em Venâncio Aires e região, seja nas rádios, seja nas casas de festas -, entra na discussão para ouvir o que as pessoas têm a dizer.
A seguir, apresentamos opiniões de professores universitários, empresários do segmento de festas e comunicação, além de apresentar o resultado de uma enquete online realizada com a audiência. Quer saber o que cada um tem a dizer? Vem com a gente nessa leitura!
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FALA AÍ, SOCIÓLOGO!
Por Caco Baptista
É preciso começar destacando a complexidade do funk, e ao mesmo tempo, o modo simplista e reducionista com que as pessoas costumam abordar o funk. Trata-se de um gênero musical por onde transitaram Prince, James Brown e muitos outros astros norte-americanos; mas também podemos falar de um sub-gênero, o funk carioca.
E este funk carioca, além de gênero musical, enraizou-se de tal modo nos subúrbios e favelas, a ponto de se poder falar de uma cultura do funk, que envolve a diversão altamente sexualizada dos bailes funk, que é a ‘voz do morro’ no início do século 21, como o samba foi no início do século 20.
E como toda expressão cultural das favelas e subúrbios cariocas, o funk vocaliza também o estilo de vida do narcotráfico destas mesmas favelas e subúrbios. O reducionismo consiste justamente em apresentar o funk como sendo apenas uma música com letras de sexo, machistas e de apologia às drogas.
Temos, com certeza, muito machismo no mundo do funk, e algumas de suas letras incentivam sim a cultura do estupro e são revoltantes. Porém, a diversidade é muito maior do que isso, como mostra a existência das funkeiras da Baixada Fluminense, que usam o funk para falar de feminismo, violência contra a mulher e homofobia.
Além das letras que retratam o cotidiano e a diversão dos jovens das favelas e periferias do Rio de Janeiro, temos também o funk ostentação, que retrata a diversão dos jovens de famílias ricas.
É possível então dizer que o funk hoje, junto com o samba e o rap, representa parte da cultura popular urbana, representa os jovens das favelas e periferias das grandes cidades, representa o morro, representa a juventude negra. E por isso, assim como o samba e o rap, é demonizado, perseguido, não reconhecido em sua riqueza cultural.
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Aposta no funk
Em 2017, a rádio Terra completa 30 anos, e promove uma série de mudanças na sua programação. O objetivo, é se aproximar ainda mais de seus ouvintes, e por que não, apostar no funk? Nesta sexta-feira, 18, às 22h, a empresa estreará um programa dedicado inteiramente ao funk, com cerca de duas horas de duração.
Segundo a equipe da empresa, a maioria das rádios do Rio Grande do Sul não toca esse estilo de música, embora o ritmo seja estremamente popular entre a faixa etária jovem, e esteja disponível por meio da internet e outras plataformas. Segundo dados divulgados, o funk ocupa, ao lado do sertanejo, o posto de gêneros mais ouvidos no país.
“Existe muito preconceito no Brasil com tudo, e com o funk não é diferente. Tem funk que fala de amor, de festa, de dança. E é claro que também tem o outro lado, faz parte. Já está na hora de olhar as coisas como elas são, e não como os outros mostram”, comenta Carlão Moreira, coordenador da rádio Terra. Na opinião do profissional, é no ‘caldeirão’ presente no país que surgem as manifestações artísticas e culturais, e o funk é apenas uma delas.
Chamado de ‘Funk Tu’, o novo programa da emissora terá o comando do DJ Kelvin Severo, que também faz sua estreia nos microfones da rádio. “A ideia é fazer um baile funk no rádio, com muita participação da audiência através do whatsapp. Estamos esperando uma grande participação dos ouvintes, vamos procurar atender o máximo possível”, diz Kelvin.
O funk, no entanto, não será totalmente novidade. Até então, a rádio tocava músicas de cantores mais conhecidos, como Anitta e Ludmilla. Com o novo programa e formato, no entanto, artistas como Kevinho, Livinho, Kekel e tantos outros, passarão a ter espaço para suas músicas.
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Life Music Hall aposta em show com Menor
No dia 16 de setembro a Life traz para Venâncio o show nacional com Caíque da Silva, mais conhecido como Menor. Ele que iniciou sua carreira na música ainda adolescente, é da Zona Leste de São Paulo e seus primeiros passos foram no gênero do rap, mas logo em seguida escolheu o funk como aliado em sua trajetória.
Responsável pelas composições dos principais hits da dupla ‘Pikeno e Menor’ durante 8 anos, como “Toda Toda”, “Carimba que é Top”, “Amiga Parceira” entre outras, superando a marca de 153 milhões de views no youtube com suas músicas.
Em sua nova fase da carreira, Menor inicia seu percurso solo buscando novos desafios com a versatilidade e o talento, que são traços da sua história. Com o seu primeiro hit em carreira solo, ‘Namoradeira’, já supera a marca de 7,5 milhões de visualizações. “Você Não Vale Nada” é o novo hit do Menor com um videoclipe incrível dirigido por KondZilla. Menor inclusive abandonou a sigla de ‘Mc’ para a nova fase de sua carreira.
Segundo o sócio- proprietário da casa, Felipe Bogorny, Menor vem se destacando no cenário do funk, com suas letras mais ‘pops’ e já estava sendo cotado a mais tempo para vir à capital do chimarrão.
“Letras mais limpas, sem nenhum tipo de apelo, tanto quanto à sexualidade ou drogas. Uma linha mais ‘funk-pop’, seguindo a trajetória musical de Anitta, e Ludmilla, por exemplo. O Funk é um estilo como qualquer outro, o que acontece é que infelizmente alguns artistas ainda exploram este genero musical de uma maneira errada”, comenta Felipe.
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No Twitter, Anitta critica proposta que quer criminalizar o funk no Brasil
A cantora Anitta, umas das principais vozes femininas que canta o funk no brasil, utilizou o Twitter para expressar sua indignação em relação à proposta, enviada ao Senado Federal, que visa criminalizar o funk no Brasil.
Em seu perfil, a cantora foi enfática ao criticar o argumento. Confira os tweets: