A poesia pode ser grande ou pequena, pode rimar ou embaralhar. O assunto vai da imaginação e da sensação de cada um. Não importa. Em tempos que a leitura e a literatura parecem se esvair cada vez mais da rotina, a poesia ainda faz parte da sala de aula e não é exclusividade de escola pública ou particular. Ela segue como ponto importante dentro da disciplina de Literatura.
Como no mês de março se comemora o Dia Mundial da Poesia (dia 21) e no Brasil é lembrado o nascimento do poeta Castro Alves (dia 14), o Na Pilha! foi até a Escola Crescer, no bairro Coronel Brito, onde alunos do Ensino Médio produzem poesia e compartilharam seus trabalhos com a gente. Esta edição traz também um bate-papo com o rapper venâncio-airense Lucas Brown, que compõe rap e se inspira em poesias.
Mais que uma arte, uma visão de mundo
Por Débora Kist
Para quem gosta de ler ou escrever poesia, geralmente a prática nasce a partir de uma motivação, de algo desenvolvido ainda na infância ou na adolescência. Período esse preenchido na escola, especialmente nas disciplinas de Língua Portuguesa e Literatura. Assim sempre foi e segue na maioria dos educandários. Um exemplo bem bacana está na Escola Estadual Crescer do bairro Coronel Brito em Venâncio Aires. Lá, as turmas de Ensino Médio da professora Marileda Borba aprendem e praticam a escrita de poesias nas suas aulas.
Conforme a professora, no primeiro ano a proposta é apresentar a teoria e a estética, falando sobre versos, rimas, ritmos e gêneros. No segundo ano, a prática é mais intensa e a produção é maior. Nesse caso, Marileda propôs aos estudantes que escrevessem sobre temas existenciais, sociais e de amor. Os resultados foram desde uma carta apaixonada, à depressão e até impostos.
Karine Ferreira da Rosa, de 17 anos, disse que gosta de livros de romance e que lê poesia na internet. Conta que quando está “inspirada” gosta de escrever, mas guarda para si, ninguém lê. Isso inclui o rapaz para quem ela escreveu a poesia “Um amor de outono”, apresentada na aula da professora Marileda. Talvez o jovem nunca saiba que foi ele a inspiração, mas os leitores do Na Pilha! podem conferi-la aqui.
Também aluna do segundo ano do Ensino Médio do Crescer, Sabrina Daniela da Rosa, 16 anos, escreveu sua poesia inspirada em uma música. Só não soube dizer qual o nome da canção porque a ouviu pela primeira vez no dia anterior. Outro aluno, de 15 anos, escreveu sobre a depressão, já que vive a realidade com um familiar. E assim os temas variam. Segundo a professora Marileda Borba, essa variação é natural, já que poesia faz parte da essência do ser humano, fala de anseios, de vontades.
Esse dinamismo na literatura propiciou outra proposta para trabalhar poesia, dessa vez para os alunos do terceiro ano. “Fizemos uma espécie de devaneio poético e os estudantes escreveram poesias sobre sonhos, desejos e expectativas. Todo material produzido está guardado no que chamamos de cápsula do tempo e combinamos de abri-la no fim do ano. Aí vamos ver se mudamos ou não os pensamentos, os sonhos, e se as expectativas se confirmaram”.
Entre os poetas trabalhados em sala de aula, Marileda cita Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Lya Luft, Augusto dos Anjos, Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade. A professora conta que começa pelos clássicos e depois os alunos têm liberdade para procurar outras referências.
POESIA SEMPRE TERÁ ESPAÇO
Professora de Literatura e Língua Portuguesa, Marileda Borba atua há 31 anos em sala de aula e diz que a maior dificuldade em trabalhar poesia é encontrar tempo e espaço dentro das disciplinas. No caso do Ensino Médio, a maioria das turmas tem entre uma ou duas aulas de Literatura por semana.
“Hoje a maior parte do conteúdo acaba voltado para contos e crônicas, já na preparação do vestibular. Como isso é muito importante, o caminho para continuar oferecendo poesia é encontrar espaços. E sempre haverá espaço, porque é desejo da escola, dos professores e dos alunos. Estamos falando de algo que faz parte de cada um. Poesia é mais que a arte da palavra, é uma visão de mundo e de existência”, destaca.
POESIAS
Um amor de outono (Karine Ferreira da Rosa, 17 anos)
Era um dia frio de outonoEle tinha cabelos longos até os ombrosAlto, charmosoCom olhar intenso
Que me despeE enxerga até a minha almaQue me acalma e me abraçaUm sonho que faz realizar
Me sinto abençoada por te acharÉs tão beloQue faz pensar que nunca poderei te deixarMas tudo isso pode acabarE a dor então voltar
Depressão (Aluno de 15 anos)
Tontura, descontrole e falta de direçãoEsses são sintomas de uma forte depressãoE é por isso que penso, leio e fico atentoFicar com depressão não é uma solução
Muitas vezes eu pensoMuitas pessoas sofrem dela ao extremoLidar com esse sentimento não é fácilMas com um forte apoio pode-se vencê-la
Te conheci (Sabrina Daniela da Rosa, 16 anos)
Quando eu te conheciTudo em mim mudouNão sou nem um príncipe encantadoMuito menos Don JuanMe faça um favorNunca solte minha mãoVamos seguir em frente, tomar nossas próprias decisões
Sabes que não irei te fazer nenhum malSó quero um pouco mais do teu carinhoViver em paz, ficar juntinhoSaiba que eu te amoE te amarei ainda mais