Amanhã, 13 de julho, é o Dia Mundial do Rock. O nome remete a um evento internacional, lá de 1985, mas só os brasileiros levaram a questão a sério. Foi naquela data que aconteceu o festival Live Aid, com shows na Inglaterra e nos Estados Unidos. Eventos menores também aconteceram na Alemanha e na Austrália, com o objetivo de arrecadar fundos para uma crise na Etiópia. Na ocasião, Phill Collins, da banda Genesis, declarou o 13 de julho como o “Dia do Rock”.
No entanto, norte-americanos e europeus não levaram isso ao pé da letra e só o Brasil passou a considerar a data. Talvez o ‘boom’ das bandas de rock no anos 1980 ajude a reforçar isso, mas, passados mais de 30 anos, com todas as mudanças culturais e comerciais no país, será que o rock ainda vive? Será que o estilo que revolucionou a música e o comportamento social durante parte do século XX está esquecido entre LPs cheios de poeira? Para contextualizar o passado, entender o presente e projetar o futuro, o NP! conversou com uma galera sobre as épocas diferentes do estilo.
Ping Pong
Alescandro Wildner Santos, o Sandoval, 50 anos, é publicitário, mas também toca baixo em bandas de rock desde os 15 anos, entre elas “Sapo de Plástico”, “Exilados do Sudão”, “Suburbanda”, “Troublemakers” e um cover de Jimi Hendrix. Como ele mesmo define, uma jornada longa de aprendizado constante, dedicação e observação. É um leitor voraz de biografias de celebridades do rock, coleciona centenas de LPs, CDs e DVDs. Por isso, por curtir de verdade o rock e pelo seu conhecimento histórico, o convidamos para falar de suas impressões sobre o assunto.
Você concorda que comercialmente o rock deixou de ser popular nos últimos anos? Por quê?
Acredito que o rock não é mais o centro da atenções de uma forma geral. Já foi um grande fenômeno da cultura pop por longas décadas, mas chegou uma hora que cansou a grande massa e então passou a ser apenas “mais um” dos tantos segmentos da indústria da música. Mas o rock não vai deixar de existir, muito menos as pessoas que o curtem de verdade irão sumir, de uma hora para outra. Se tem alguma coisa que envolve termos como resistência, persistência e fidelidade aos seus princípios, é o tal do rock, não se esqueça disso.
Se o cenário mudou, qual seria uma alternativa para mudá-lo?
As coisas não são mais como da época das gravadoras e seus contratos milionários para com grandes artistas. Agora a regra está mais para o ‘faça você mesmo’. As mídias e plataformas digitais democratizaram essa questão, você agora é o seu próprio mestre. Basta ter um certo conhecimento tecnológico e musical, e se pode gravar uma música em MP3 sem sair de casa e divulgá-la, mundo afora, em apenas alguns clicks no computador. O que digo é que existe uma revolução no conceito de se fazer, compor, criar e distribuir a sua própria música. Claro que a qualidade disso tudo vai depender de investimentos e conhecimento. Não garante sucesso, mas as coisas podem acontecer.
O rock, no Brasil, vive do passado ou há referências atuais, mas que são pouco divulgadas?
O auge do rock no Brasil foi nos anos 1980/1990, época em que surgiram inúmeras bandas de projeção nacional. Foi uma base forte para toda uma história que veio depois, favorecida pelo cenário cultural, político e econômico. Essas bandas contaram com o apoio do antigo sistema de gravadoras e suas distribuições em LPs e K7. O brasileiro passou a entender, ter acesso e a consumir mais o rock. Com o tempo essa tecnologia mudou, vieram as plataformas digitais e assim a música também teve de se ajustar à nova realidade para atingir o grande público. Até mesmo a poderosa MTV e algumas tantas rádios “Rock FM” sucumbiram diante do fácil acesso, como o YouTube, Spotify e Deezer. Nesse meio tempo o mercado também se retraiu para o rock, buscando maior atenção e espaço para outros mercados muito mais rentáveis como o sertanejo e pagode.
Se há referências atuais, cite alguns exemplos.
Bandas novas e velhas que não desistem nunca sempre existirão, não importa qual o estilo de rock e de certa forma alguém sempre acaba influenciando a outro alguém, de geração em geração. O que me parece correto dizer é que cada vez mais as bandas de rock estão misturando elementos com diferentes pitadas de musicalidades, pinçadas daqui e dali. Acredito, portanto, que em breve ainda teremos uma nova onda musical com o rock. Quanto às referências, basta mencionar que em Venâncio Aires temos vários exemplos de ótimas bandas fazendo um rock de qualidade e com composições próprias, como a Dozeduro, Mastodonte, Maquinados e Locomotiva Elétrica (só para citar algumas).
Qual a importância histórica do rock para a música como um todo? E para o futuro?
O rock dentro de um contexto histórico e cultural é importantíssimo. Vide as inúmeras transformações na sociedade quem foi força motriz, peça geradora de transformação, de comportamento e conduta das pessoas em âmbito global, há décadas. A cultura pop, a arte e o rock andam de mãos dadas o tempo todo, influenciando gerações de pessoas nos mais diversos aspectos de suas vidas, desde o modo de se portar, vestir e até de difundir suas ideias. E a música como um todo só se engrandeceu com mais esse elemento, o rock. Claro que ele, por sua vez, também bebeu de outras fontes como o jazz, blues e ritmos tradicionais.
Sobre presente e futuro
Para o músico, compositor e produtor Thomás Lenz o rock virou nicho de mercado. Segundo ele, falar sobre isso é complexo, já que são muitos os fatores e o principal seria o rock perder para si mesmo. “Primeiro não se renova o público e por isso não se renovam as bandas no mainstream. Poucas pessoas do rock se permitem escutar novas bandas, principalmente aqui no Brasil. Muita gente quer que as novas bandas soem como o Led Zeppelin ou Black Sabbath, quando o que precisamos é que cada banda soe do seu jeito.”Portanto, para o músico, é preciso entender que há e haverá lugares específicos para tocar rock, assim como o jazz, blues ou bossa nova. “O rock está vivo, são produzidas muitas coisas, mas é nicho.” Lenz destacou ainda que a história da humanidade passa pelo rock, pois ditou moda, comportamento e trouxe a guitarra para o plano central da música. “O que seria da música sem os Beatles?”, questionou. Mas ao citar um dos grupos mais populares da história, o músico também lista alguns exemplos atuais de bandas de rock.
– Ego Kill Talent
– Scalene
– Far from Alaska
– Selvagens a Procura da Lei
– Supercombo
– El Negro
– Vivendo do Ócio
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Rock: um olhar voltado para a renovação de gênero
São mais de 60 anos de história e os clássicos do rock estão vivos na memória dos amantes do gênero. Mas, por que somente os clássicos se há muitas bandas autorais de grande potencial surgindo por aí? Com o aparição de diferentes ritmos musicais, o rock perdeu a popularidade, mas não a sua identidade e essência. Segundo o vocalista da banda ‘Identidade Zero’, Arthur Patuzzi, o rock anda um pouco em baixa, ofuscado por outros gêneros que estão em alta como o sertanejo e o funk. Ele acredita que para reverter o cenário atual é preciso influenciar as pessoas a curtirem o rock e também fazer com que o público volte o olhar para as futuras vertentes do gênero musical.
“Existe um grande preconceito com bandas novas, principalmente as autorais. A qualidade dos músicos não é inferior em relação a músicos de outras épocas, muito pelo contrário, existe muita banda boa surgindo por aí,” afirma. Ele acrescenta que, para que o Rock volte a se fortalecer, é preciso mudar a visão do público. “As pessoas precisam escutar o som das novas bandas, porque se a galera continuar parada no tempo, nunca haverá uma renovação no gênero e por consequência disso, ele nunca voltará aos seus grandes tempos”.
A banda sempre está com um olhar voltado para as novas vertentes. “Gostamos muito do som de bandas como Arctic Monkeys, The Black Keys, Greta Van Fleet e também do Harry Styles, que apesar de ser um cantor mais voltado para o pop, tem um pezinho no rock n roll.”
A Identidade Zero é formada por Arthur Patuzzi (vocal e guitarra), Augusto Beati (guitarra), Theo Görck (baixo) e Renan Haas (bateria). Segundo Arthur, o grupo não possui nenhuma referência ‘cravada’ tanto no rock nacional como no internacional, e se inspira em outros estilos como funk americano, blues e o pop.
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