As altas temperaturas da estação são um convite para uma reunião em torno da piscina ou para um descanso na beira-mar. E se em algum momento do seu veraneio você encanou com algum aspecto do seu corpo, pode ir parando por aqui. Já vai tarde o tempo em que todas as pessoas eram condicionadas a buscar um padrão considerado ‘perfeito’. Graças a muitos movimentos em prol da beleza real, já se sabe que para ter um ‘corpo de praia’, basta ter um corpo, e que atitude, amor próprio e autoestima se sobressaem a qualquer aspecto físico.
O discurso, é claro, é empoderador e verdadeiro, mas sabemos também, que nem sempre é fácil se livrar das neuras construídas durante anos de uma ditadura da beleza. É para discutir esse assunto, e para ouvir a opinião dos nossos leitores, que produzimos a edição do Na Pilha! desta quinta-feira, 11 de janeiro. Coloque seu biquíni, dê um ok para a imagem que você vê no espelho, e vem curtir essa leitura na companhia do que o verão tem de melhor.
Você tem um corpo de praia?
O Na Pilha! ouviu seus leitores para saber quais são as experiências que já enfrentaram quando o assunto é expor o corpo no verão. Foram 86 participantes, sendo a grande maioria mulheres com idades entre 17 e 25 anos.
Embora mais da metade dos respondentes (57,6%) disse nunca ter deixado de ir à praia ou à piscina por não estar com o corpo ideal, a grande maioria (83,5%) admitiu já ter escolhido um traje de banho que escondesse algum aspecto do corpo.
Além disso, quase 70% dos participantes disseram que já deixaram de postar uma foto de praia nas redes sociais porque não estavam satisfeitos com a aparência do seu corpo, e também que deixaram de caminhar na praia ou praticar um esporte (62,4%) para não expor o corpo.
O tema, no entanto, parece estar ganhando espaço. Isso porque 67% dos entrevistados afirmaram que já refletiram sobre temas como autoaceitação e gordofobia. Já é um começo, não é? Abaixo, veja outros resultados.
O que nossos leitores nos contaram
Acredito que depois de muito tempo as mulheres vem se aceitando. Eu, por exemplo, sempre tive muita vergonha. Depois dos 20 percebi que se amar é o primeiro passo para uma aceitação.”
Acho que o corpo ideal é o corpo que a gente tem! Mas eu não consigo aceitar isso, por conta de todos falarem em ser magra, que ter uma barriga grande não é o comum em garotas jovens.”
Estou em processo de aceitação. Meu corpo não é mais importante do que meu caráter, minha índole, não me define. Parece clichê, mas é a pura verdade, corpo bonito é o que abriga uma alma feliz.”
* Todos os depoimentos foram escritos de forma anônima na pesquisa.
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Fala aí, psicóloga!
De acordo com a psicóloga Adriana Oswald, uma pessoa que tem dificuldades de aceitação do próprio corpo, baixa autoestima ou julga-se inferior diante dos demais, pode sentir-se desconfortável quando imagina que pode sofrer algum tipo de julgamento por apresentar um perfil fora do ‘padrão de beleza’.
Estes casos vem à tona na temporada de verão, quando geralmente as pessoas vestem peças menores, deixando parte do corpo à mostra para curtir o mar, o sol ou a piscina. “É como se a roupa nos poupasse desse olhar do outro, que por vezes parece mais perfeito que nós, diante dos nossos próprios olhos”, afirma.
Para vencer a insegurança e o desconforto social é preciso passar a analisar o contexto, já que as pessoas ditas com corpo ‘ideal’ também possuem falhas e imperfeições. “Pessoas que admiramos ou que consideramos ter um corpo ‘ideal’ podem nos inibir ainda mais quando estão por perto. Porém, perceber que esse outro, que julgamos ‘perfeito’ também tem suas falhas e suas imperfeições, faz com que lidemos melhor com as nossas próprias questões”, explica a psicóloga. Ela considera que um exemplo claro que promove a reflexão acontece quando artistas famosas também expõem celulites e gorduras, e mesmo assim, são aplaudidas e reconhecidas por sua beleza. “É como se nossa imperfeição fosse mais aceitável para nós mesmas”, afirma.
A adolescência e os tabusPara os adolescentes, este processo é um pouco mais complexo, já que se inicia a fase da aceitação e inserção no grupo social. De acordo com Adriana, as inseguranças se intensificam e a necessidade de ser aceito e reconhecido como um igual é extrema. “Perceber ou vivenciar julgamentos contrários produz grande sofrimento no adolescente que ainda desenvolve suas habilidades para gerenciar frustrações”, comenta.
Como desapegar dos conceitosA fórmula para vencer o tabu de aceitação do corpo é o autoconhecimento. Ao sentir-se bem consigo mesmo, consequentemente esta atitude vai gerar autoestima e autoconfiança pessoal. “Existe uma importância entre o equilíbrio do corpo e mente, e para gerarmos saúde para nós mesmos, o que importa é buscar por aquilo que nos deixa bem, nos faz sentir bem”, afirma a psicóloga. Segundo ela, a autoaceitação, seja do corpo ou de qualquer coisa, passa por um processo complexo onde o autoconhecimento é imprescindível. Ela acrescenta que, nem sempre aquilo que nós pensamos é o que o outro pensa. “A psicanálise nos ensina há muitos anos que a felicidade é um problema individual, portanto, não há padrão algum capaz de nos propor esse estado”, conclui.
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Enquete: Qual é a sua neura sobre o corpo de praia?