Toda criança quando nasce precisa ser adotada. Nem para toda a criança que nasce, nasce uma mãe ou um pai. Para nascer um pai e uma mãe é preciso que ‘alguém’ se coloque nesse lugar. Eu e o Régis viemos alguns meses nos preparando para ‘adotar’ o segundo filho, nosso segundo presente de Deus.

Foto: Divulgação / Tudo & Todaskkkk
A presença do pai traz segurança e estabilidade nesta fase de adaptações 

 

Cada preparativo, cada consulta, cada exame, cada assunto relacionado ao bebê nos aproxima da realidade daquilo que viemos sonhando e imaginando por todo o tempo da gestação. Aos poucos vamos nos colocando enquanto pais de dois. A Melissa numa fase de conquistas de muitas autonomias, onde sozinha já vemos seu caminhar, que nos orgulha, mas que ainda precisa das nossas mãos com as dela (mãos que estarão sempre juntas, mas que serão capazes de se unirem e se afastarem sem receios ao longo do amadurecimento de cada um). O Matheus no início da trajetória da construção da sua vida e da nossa, quando a dependência mãe e filho ainda é imprescindível.

A rotina que envolve o bebê pode construir essa função e oportunizar esse lugar à uma mãe e à um pai. Porém, é preciso desejar esse lugar e se permitir estar nele. Nos primeiros momentos a função materna ocupa um lugar maior em função de todas as questões psíquicas relacionadas aos primeiros meses de vida de um bebê. Nem por isso a função paterna é menos importante, muito pelo contrário, ela é complementar. A função paterna é mental, é relacionada ao que o outro faz e não necessariamente ocupada pelo pai biológico ou gênero especifico. Ela tem a ver com a disponibilidade de um outro para tal função. Pessoas, independentes de quem sejam, transitam e executam essas funções. Uma mãe pode ter função paterna, como um pai função materna. Outras pessoas podem absorvê-las também.

 

Foto: Divulgação / Tudo & TodasA família tem todo um preparo psicológico para se preparar para a chegada do novo membro
A família tem todo um preparo psicológico para se preparar para a chegada do novo membro

 

Quando nasce um bebê, a função paterna auxilia na possibilidade de oferecer segurança, apoio e estabilidade a este momento de muitas mudanças e adaptações na vida de toda família, principalmente para a mãe. É importante termos com que contar para nos dar esse suporte. Me sinto acolhida com que todo amparo que o Régis me oferece, e tenho certeza de que meus filhos também irão sentir os reflexos disso. Porém, não é porque alguma organização familiar seja diferente, porque muitas são, que esses momentos não possam ser tranquilos e acolhedores. Em muitos casos, quando o bebê nasce o amor entre o casal já acabou, ou então nem começou. Mas nem por isso não pode existir cumplicidade, disponibilidade e desejo com o novo ser que chega ao mundo, cada um oferecendo o melhor que pode no momento. Cabe a gente perceber e permitir que a sensibilidade desse alguém ou de um outro alguém adote esse “filho” com a gente. Sempre tem alguém com um coração grande, disponível e disposto a fazê-lo.

Porém, acredito que não exista um jeito certo, e sei que nem sempre as circunstâncias em que as coisas acontecem são como imaginávamos, mas deixar de lado algumas expectativas e viver as coisas como estas se apresentam, no aqui e agora, as vezes pode nos oferecer uma dose surpreendente de outras possibilidades, boas e felizes também. Que a maternidade, a paternidade e todas as outras importantes funções que desempenham e desempenhamos uns na vida dos outros, possam nos conectar e criar laços lindos de amor. Afinal é o que realmente importa, o amor para todos nós.

 Quanto escrevo, me preparo para em poucas horas ter o Matheus em meus braços. Com certeza sentir que todos estão dispostos e cheios de entusiasmo por estarem nos seus ‘lugares’, como mãe, pai, irmã, avós, dindos e afins, tornam esse momento ainda mais mágico. Matheus, estamos todos ansiosos para conhecê-lo e recebê-lo neste mundo, meu filho.