Nesta semana, a produção do BBB17 teve que tomar uma atitude depois que Marcos agrediu verbalmente a sister Emilly, deixando-se levar por um comportamento abusivo e intimidador. O gaúcho participante do reality show foi expulso do programa depois que especialistas, policiais e o público, interferiram nesta questão.
Para quem é do Rio Grande do Sul, e com frequência defende o tradicionalismo, fica a dúvida: será que a cultura gaúcha, muitas vezes tachada de machista, se reflete no comportamento do médico?
Associar a cultura gaúcha ao machismo e à dominação ocorre devido a um perfil grosseiro e agressivo, ligado às tradições que vem das lides campeiras, dos tropas, e de um cenário histórico em que, assim como em muitas culturas, a mulher cuidava da casa, enquanto o homem saía para guerrear e trazer o sustento da casa. No folclore regional, isso se reflete através do vocabulário áspero, da maneira figurada ao falar, e em especial, nas composições tradicionalistas que insinuam o machismo e o preconceito de gênero.
A percepção de que o gaúcho, em alguns casos, age com desrespeito à figura da mulher, é visível através da composição de suas músicas. Esse assunto foi levantado, inclusive, pela cantora e apresentadora Shana Müller, que no site do programa Galpão Crioulo, criticou os trechos de música nos quais a mulher é vista pelos homens como um objeto.
“E nem mesmo paramos para pensar o quanto estes gestos incentivam o menosprezo e alimenta o subconsciente que incentiva a violência contra a mulher. Devemos refletir neste comportamento grosseiro que está configurando o preconceito de gênero. Talvez ainda não tívessesmos nos dado conta de que, alguma forma as letras são incentivadoras do machismo”.
Não é preciso ir longe para perceber o quanto estas composições estão inseridas no nosso dia a dia. O trecho ‘churrasco, bom chimarrão, fandango, trago e mulher. é disso que o velho gosta, é isso que o velho quer!’ já significa o menosprezo com o gênero feminino.
O simples fato de cantar ou ouvir uma música com letra que induz o machismo, já reflete a nossa posição diante desta questão. Nós mesmos estamos incentivando e encorajando situações de violência e maus tratos contra a mulher. Devemos repensar em nossas atitudes para não sermos coniventes com a desvalorização da imagem feminina. Algumas composições tradicionalistas nos fazem rever estes valores, de que a mulher não pode ser vista como um ‘bicho’ ou objeto, mas sim, como um ser humano que merece respeito.
Relacionando esta reflexão da cantora Shana Müller, com o episódio envolvendo o gaúcho Marcos no BBB17, é possível questionar se letras como a citada acima, ou mesmo outros comportamentos enraizados na cultura gaúcha, não fazem com que homens pratiquem a violência física e psicológica contra mulheres?
Conforme a declaração que Marcos deu em sua conta no Twitter após a expulsão do programa, não é difícil imaginar que, muitas vezes, atitudes de violência são praticadas de forma incosciente e, até mesmo, vistas de forma natural, tanto pelo agressor, como pela vítima:
— Marcos Harter 🚑 (@marcos_harter) April 11, 2017
Vale lembrar que a cultura gaúcha é bastante conservadora em certos aspectos, mas tem acompanhado as evoluções socioculturais, e pensamentos antes vistos como ‘normais’ estão tomando novas dimensões.
A mulher que antes era vista como dona de casa e que deveria estar a disposição do marido, está tomando uma outra posição diante deste egocentrismo. O gênero feminino passou a ganhar mais espaço na cultura gaúcha e atualmente realiza as mesmas atividades antes dominadas apenas pelos homens. Hoje as mulheres realizam as lides campeiras, compõem músicas tradicionalistas e são totalmente independentes.
Apesar do impacto negativo que o comportamento do sul pode transparecer aos outros, o gaúcho antigo sempre prezou pelo respeito e a forma gentil ao tratar as outras pessoas, espelhado em uma base ética e moral. A atração pela montaria e o vocabulário mais firme não faz de uma pessoa mau caráter.
E você, acredita que nossos valores culturais podem ser refletidos no comportamento machista?


