O parto normal ainda é um tabú para muitas mulheres, que possuem um certo receio de não estarem preparadas para encarar este momento, tanto psicológicamente como fisicamente. Além disso, vários temas do parto são discutidos e deixam as parturientes ainda mais inseguras. Tabus como circular de cordão no pescoço do bebê, falta de passagem e de dilatação ainda são assuntos amplamente difundidos como corriqueiros e impeditivos para que a mulher possa aderir ao parto normal.

Porém, através de estudos, estes tabus vêm sendo desmistificados e o pardo normal não é mais um empecilho como todas as mulheres imaginam. Aliás, o evento natural pode contribuir para a saúde do bebê e para a recuperação da parturiente.

 >> Circular de cordão

Você já deve ter ouvido falar que há possibilidade do cordão se enrolar no pescoço do bebê. Antes era preciso partir para a cesária de urgência para que isso não viesse a prejudicar a saúde do recém-nascido. Este tipo de situação não é um caso de vida ou morte como pode parecer, porque o bebê não respira pelo pulmão na vida intrauterina e, portanto, não pode ser enforcado. O cordão umbilical é formado por uma substância gelatinosa, maleável e elástica que protege os vasos sanguíneos que levam sangue e oxigênio para o bebê – ele pode ter até um metro de comprimento. O fato do bebê estar sempre se movimentando dentro do útero faz com que seja extremamente comum ele se enrolar no pé, nos braços, no pescoço e em outras partes do corpo sem que isso acarrete qualquer problema para o feto. Quando isso ocorre, basta o profissional desenrolar com cuidado o cordão. 

>> Falta de passagem

A falta de passagem leva muitas mulheres a optar pela cesária agendada, fique tranquila, nem sempre é motivo de desistir do parto normal. A falta de passagem se refere à desproporção cefálo pélvica e pode ser diagnosticada somente durante o trabalho de parto. Se antes do trabalho de parto, com 20 semanas, 32 ou 39, o obstetra tentar diagnosticar se seu corpo terá passagem, ele pode estar usando este argumento porque provavelmente quer conduzí-lo para uma cesárea. Essa condição só pode ser diagnosticada em trabalho de parto ativo, em geral a partir de 7 cm de dilatação, através de uma avaliação obstétrica quanto a ausência de evolução do trabalho de parto. Nesse caso, é indicado uma cesariana intraparto (realizada durante o trabalho de parto), mas esta é uma situação bem rara e mesmo que isso ocorra, nada impede de que a próxima gestação seja com parto normal. 

>> Falta de dilatação

O processo de dilatação varia de mulher para mulher, não há um tempo predeterminado que possa especificar precisamente a dilatação. É preciso avaliar o contexto: como está o colo do útero, a posição do bebê, a dilatação, o coração do bebê? Há quantas horas a mulher está dilatando e com contrações? Como são as contrações? É o contexto que dá sinais da progressão do parto. Na maior parte das vezes que ouvimos relatos de falta de dilatação, a mulher não estava de fato em trabalho de parto ativo – contrações efetivas, vindo com uma frequência de pelo menos três a cada 10 minutos, durando a partir de 40/50 segundos cada e bastante intensas. Por isso, não é necessário tomar decisões às pressas, o médico terá conhecimento e experiência para identificar a hora de intervir com segurança.

>> Medo da dor do parto

Esta preocupação traz muita insegurança às futuras mamães, mas sentir medo do desconhecido é natural. A dor do parto geralmente ocorre durante as contrações, mas é importante diferenciar a dor fisiológica do parto do que a dor causada por procedimentos desnecessários como ocitocina de rotina, Kristeller, episiotomia. O ambiente hostil e as exigências de jejum podem contribuir para a sensação de dor da mulher. Porém, em alguns casos, a gestante pode se movimentar e se alimentar livremente, e ter acesso à métodos não farmacológicos de alívio da dor (ou até mesmo farmacológicos, se for necessário), a dor será lembrada apenas como um detalhe diante de um momento tão único e intenso.

>> Bolsa rota

 A maioria dos trabalhos de partos se iniciam com contrações e só depois a bolsa estoura. Nos casos em que a bolsa estoura antes do início do trabalho de parto, ou seja, antes de contrações regulares e efetivas, acontece a bolsa rota. A gestante deve comunicar a equipe médica e observar a cor do líquido e movimentação fetal. Nesses casos, cada profissional irá trabalhar com o protocolo que se sente mais seguro, mas o fato é que a grande maioria das gestantes entrará em trabalho de parto em até 24 horas de bolsa rota. Depois desta etapa é preciso ter cuidados mais específicos. De acordo com a preferência da mãe e o consentimento da equipe médica, é possível aguardar por mais tempo o início das contrações.

>> Demora no trabalho de parto

O trabalho de parto pode ser longo ou curto (com apenas quatro horas) e pode seguir o padrão – o trabalho de parto propriamente dito para primíparas (grávidas do primeiro filho) pode durar cerca de 8 a 12 horas. Mas, há exceções nos dois extremos, ou seja, partos que duram de 1 hora a alguns dias. Por isso, não vale a pena se apegar a ideia de que você vai levar dias para parir e que será uma dor insuportável marcada por gritos – e que, por isso, a cesárea eletiva é a melhor escolha. Não é. A recomendação para lidar com um trabalho de parto extenso é descansar e dormir no intervalo das contrações tanto quanto conseguir. As dores são mais extremas durante as contrações, que duram cerca de um minuto, havendo intervalos de descanso.

>> Mecônio, o vilão

Visto como vilão, o mecônio é a primeira eliminação fecal do bebê. Em alguns casos, isso pode acontecer durante a gestação. Há dois motivos para acontecer a eliminação meconial: maturidade intestinal do bebê ou sofrimento fetal. No primeiro caso, o mecônio não deve necessariamente ser encarado como um problema, desde que a quantidade de líquido esteja adequada (para que dilua o mecônio e este não se torne espesso) e os batimentos cardíacos do bebê estejam dentro dos padrões de normalidade. Se a causa do mecônio for sofrimento fetal, isso será atestado através da alteração da frequência cardíaca fetal, e a cesariana pode ser indicada.

>> Cesárea não é parto

A indústria de nascimento e a mecanização do parto seguem como campeões sob uma prerrogativa de menor dor, mais agilidade e modernidade – não é à toa que Brasil é campeão em cesáreas agendadas. É importante ter em mente, porém que cesárea não é parto, o que não garante à parturiente um carimbo de mãe melhor ou pior. O que há, de fato, são duas vias de nascimento: cesárea e vaginal (ou parto normal). 

>> Confie no seu corpo

Os tabus em torno do parto, desmistificados, demonstram que a cesárea é uma cirurgia que salva vidas quando bem indicada. Porém, o mais indicado pelos médicos é o parto normal, tanto para o bebê, quanto para a mamãe, que terá uma recuperação mais rápida. Não deixe a dor do parto dominar a sua decisão. Mas é possível no Brasil, que a parturiente possa optar por realizar uma cesárea eletiva a partir da 39ª semana, o que garante a ela domínio sobre seu corpo – é essencial que a parturiente esteja consciente sobre os desdobramentos de uma cesárea eletiva e as potenciais consequências das intervenções que decorrem da cesárea. Para quem toma esta decisão, é preciso ter paciência, entrega ao desconhecido, confiança em seu corpo e na equipe médica – e informação, claro.