Farmacêutica, a venâncio-airense Ana Cristina Diefenthaler, 41 anos, que tem formação no Brasil, estuda para conseguir a validação de seu diploma e ter a oportunidade de atuar na área, em Toronto, no Canadá. Ela conta que, na verdade, sua mudança para a América do Norte, que ocorreu há cerca de cinco anos, deu-se por conta de seu marido, que recebeu uma transferência de trabalho. 

Ana Cristina conta que, no Canadá, o profissional de sua área atua em farmácias e hospitais, ajudando a prevenir malefícios à saúde dos pacientes.

“O farmacêutico tem restrita relação de cooperação com outros profissionais, como, por exemplo, médicos e enfermeiros, e o processo para se conseguir trabalhar como farmacêutico no Canadá é extremamente difícil, já que é preciso se equiparar ao estudo de graduação daqui”, explica ela.

Com uma rotina variada, que inclui cuidar da casa e da filha, a venâncio-airense também participa de um curso específico para a prova do IELTS (que mede o nível do inglês) de uma a duas vezes por semana, pois precisa provar sua proficiência na língua inglesa no final do processo das provas. “E, quando tenho tempo, procuro fazer coisas que me fazem relaxar, como cozinhar, por exemplo”, revela Ana Cristina. Desta forma, aliás, ela acaba fazendo tortas, cupcakes e brigadeiros para festas infantis dos filhos de suas amigas.

Foto: Divulgação / Arquivo PessoalDe acordo com Ana Cristina Diefenthaler, o governo canadense preocupa-se bastante com o dia a dia das mulheres
De acordo com Ana Cristina Diefenthaler, o governo canadense preocupa-se bastante com o dia a dia das mulheres

>> SOBRE AS MULHERES NO PAíS

– Como é o acesso à educação para as mulheres?

A educação é gratuita a partir dos quatro anos de idade. Todos têm direito a ela sem distinção. Convivem numa mesma sala de aula, crianças de diversas nacionalidades, etnias e crenças. O acesso à universidade ainda é caro. Muitas mulheres imigrantes não conseguem atuar nas mesmas profissões que trabalharam no país de onde vieram e acabam optando pelos ‘colleges’, que são cursos mais profissionalizantes e de curta duração.

– Como é o mercado de trabalho para mulheres no país?

O rendimento médio das mulheres em todos os postos de trabalha (em porcentagem dos salários dos homens) foi de 68,4% , uma diferença de mais de 30%. A mulher que trabalha no Canadá representa 2/3 dos trabalhos part-time (meio turno), isso quer dizer que, como mães, podemos acompanhar o crescimento dos nossos filhos até os quatro anos, sem precisar trabalhar o dia todo. A licença maternidade poderá também ser estendida em até um ano, atualmente. Posso observar, no dia a dia, que a mulher imigrante está inserida nos postos de trabalho, mas, muitas vezes em função da língua, ocupam posições não tão favorecidas. As mulheres trabalham trajando suas vestimentas próprias, segundo suas crenças religiosas.

– Como as mulheres encaram o casamento no país?

Como todos sabem, o Canada é destino para muitas mulheres tanto para o estudo como trabalho. Muitas veem já casadas, outras constituem família aqui. Muitas mulheres estudam para o marido trabalhar ou vice-versa. Outras sustentam suas famílias aqui enquanto seus maridos ainda permanecem nos seus países de origem, esperando uma oportunidade de trabalho para imigrarem também. Ou também fica com seus filhos no país de origem e os maridos já estão aqui, carregando o fardo pesado de sustento da casa.

Foto: Divulgação / Arquivo PessoalHá cinco anos, a venâncio-airense reside no país com o marido e a filha, de três anos
Há cinco anos, a venâncio-airense reside no país com o marido e a filha, de três anos

– Qual é o papel da mulher na família, nos afazeres de casa e criação dos filhos?

A mulher continua sendo a responsável pela criação dos filhos. Em dados de 2010, a mulher gastou em média 50,1 horas (não remuneradas) por semana enquanto o homem somou 24,4 horas por semana em trabalhos domésticos. A mulher gasta mais tempo do que o homem no trabalho doméstico.

– Você considera que o país enxerga as mulheres com igualdade de oportunidades?

Em relação à representatividade política canadense, no total dos eleitos no parlamento, somente 26% são mulheres. O governo, aqui, acredita que a chave para resolver problemas são os jovens, meninos e meninas que podem inspirar ações e criar uma sociedade mais igualitária. O governo canadense incentiva a denúncia contra o assédio e violência sexual contra a mulher.

– Como é a realidade das mulheres estrangeiras no país?

Acredito que os maiores desafios são a adaptação ao idioma e a reinserção no mercado de trabalho. Além disso, a criação de um filho numa cultura completamente diferente da sua é desafiador. Em relação à vida doméstica, a mulher não conta com ajuda de doméstica ou secretária do lar; o marido assume a participação nas tarefas diárias da casa.