Muitas dúvidas costumam surgir quando se trata do assunto ‘desenvolvimento infantil da fala’, ou mais especificamente, sobre a aquisição de linguagem.

As mais frequentes perguntas são:

“Meu filho ainda não fala!”

“Meu filho fala pouco!”

“Meu filho fala errado, não consigo entendê-lo”!

“Meu filho não fala frases!”

“Meu filho não fala como as outras crianças da mesma idade!”

“Meu filho fala de um jeito estranho!”

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De uma forma geral, a aprendizagem da fala se desenvolve durante os dois primeiros anos de vida do bebê. Durante este tempo, o bebê será capaz de identificar e dar nomes a alguns objetos. A partir dos 2 anos, já podem começar a formar frases curtas e perguntas simples. Claro que estes dados são apenas de orientação, já que existem situações especiais pelas quais passam muitas crianças e que, de uma forma ou de outra, podem afetar o desenvolvimento da sua fala, por isso, cada caso é um caso e a avaliação individual é imprescindível.

As habilidades verbais do bebê vão progredir por etapas, a medida que seu mecanismo vocal amadurece e ele se relaciona com o seu ambiente. Em primeiro lugar, o nascimento dos sons de vogais são com ‘coos’ e ‘goos’ quando ele tiver de 2 a 3 meses. Balbuciação começa em torno de 4 meses. As primeiras experiências incluem, muitas vezes, sons com ‘p’, ‘b’ e ‘m’, que são produzidos só de colocar os lábios juntos. Então, costuma se ouvir um monte de ‘puh puh puh, buh buh buh’ e ‘muh muh muh’ soando no começo.

Há muitas coisas que se pode fazer para ajudar no desenvolvimento da fala e da linguagem do bebê:

– Envolver-se em uma conversa ao falar com o bebê;

– Dar um tempo para ele processar suas palavras e ‘responder’;

– Usar diferentes tons e sílabas quando falar de modo que ele possa imitar e aprender novos sons;

– Explicar o murmúrio para o bebê. Se ele diz ‘ba ma ma ba’ ao olhar ao redor, você pode dizer: ‘Oh, você está procurando sua garrafa? Onde é que a garrafa está?’

Bandeiras vermelhas

Lembre-se: as crianças são diferentes e desenvolvem habilidades em momentos diferentes. Enquanto a tagarelice de um bebê está progredindo e ele interage com as pessoas, principalmente com os pais, isso não quer dizer que não é preciso se preocupar. Se o discurso do bebê e o seu desenvolvimento da linguagem para ou regride a qualquer momento, se ele não está balbuciando e fazendo contato com os olhos ou gestos, ou se as palavras não surgem até seus 15 meses, é um sinal de alerta.

A fala da criança de 0 a 2 anos

A forma de comunicar dos bebês nos seus primeiros meses é mais de reação. O bebê reage aos diferentes sons que residem ao seu redor. Consequentemente, o bebê pode mexer os olhinhos, a cabecinha, chorar, mover as pernas… 

Mas a medida que vai crescendo, pode que a partir do oitavo mês, o bebê possa produzir alguns sons labiais e guturais para logo conseguir emitir alguma ‘palavra’, na parte mais anterior da boca. O surgimento dos dentes vão ajudá-lo neste sentido. O bebê soltará alguns gritinhos para chamar a atenção. Perto do primeiro aninho de vida, o bebê poderá dizer algumas palavras como ‘papá’, ‘mamã’, ‘popó’, ‘aua’… A partir deste momento, não demorará muito para dizer palavras como ‘bola’, ‘rua’, ‘gagau’, ‘dá’, ‘olá’, etc.

Perto dos dois aninhos, o bebê poderá emitir fonemas/sílabas, combinar imagens com vocalizações ou palavras (animais, por exemplo), fazer perguntas, e dizer o seu nome, o nome de papai e de mamãe, e inclusive frases repetidas.

3 anos: Consegue repetir  partes de uma história que lhe foi contada, produz frases com 4 a 5 palavras, com períodos de coordenados (“essa boneca chóia e fazi xixi” ). Inicia, mantém uma conversação, mas não por muitos turnos, pode se dispersar.

Canta canções/músicas infantis. Também nessa idade é a fase dos “por quês?”. Aprende a falar “eu”.

4 anos: Elabora frases com 5 a 6 palavras; faz perguntas “quem?/ por que?”; fala de situações imaginárias. Narra uma história conhecida sem ajuda do outro. Reconhece cores, formas geométricas. 

5 anos: Define objetos, conhece relações espaciais, conta histórias, usa corretamente os principais tempos verbais (passado, presente e futuro), pede informações, utiliza orações com períodos simples e compostos. Léxico: mais de 6000 palavras. 

6 anos: Possui uma articulação correta da maioria dos sons da fala. Relata fatos com frases gramaticalmente estruturadas. Narra com detalhes histórias conhecidas, inventa propositalmente histórias com coerência entre os fatos. Léxico acima de 10.000 palavras. Consegue manter uma “conversa” com o adulto. Reconhece letras, escreve palavras simples.

Como estimular a fala do seu pequeno?

A família tem um papel fundamental no desenvolvimento da linguagem na infância e é muito importante estimular, desde cedo, a fala da criança. Segue algumas dicas que podem ajudar você a estimular a fala do seu filho:

– Converse sempre com seu pequeno, pronunciando as palavras da forma correta;

– Brinque com criança, imitando sons de animais, contando historinhas e cantando músicas infantis;

– Nomeie objetos e ações, isso amplia o vocabulário da criança;

– Ouça com atenção aquilo que a criança tem a lhe dizer.

>> Algumas dicas do que NÃO fazer:

Antes mesmo do seu filho começar a emitir os primeiros sons, algumas atitudes devem ser evitadas. Entenda quais são os principais erros cometidos e aprenda a evitá-los.

Não repita a palavra errada

Um dos equívocos mais comuns dos pais é repetir a palavra errada que o filho disse antes de corrigí-lo. Por exemplo se a criança disser ‘pato’ em vez de ‘prato’, os pais não devem dar respostas como não é ‘pato’, é ‘prato’. A melhor opção é somente repetir a palavra correta ~ de maneira exagerada, se necessário: ‘Ah, você quer o prato? A mamãe vai pegar o prato para você’. Nunca dê o modelo errado.

Evite o tatibitate

Trocar as consoantes e abusar dos diminutivos, dizendo sempre ‘ti nenê bonitinho da mamãezinha’ em vez de ‘que nenê bonito da mamãe’, também atrapalha o desenvolvimento da linguagem infantil. Ao conversar com os filhos que ainda não sabem o som correto das palavras, é melhor não usá-las sempre no diminutivo. O ideal é empregar o vocabulário adequado desde a chegada do bebê, já que ele está desenvolvendo a fala durante os primeiros anos de vida.

Fale na altura da criança sempre que possível

É muito importante aos pais ficarem na mesma altura da criança ao se comunicar com ela. Ou seja, abaixar para conversar e olhar no olho da criança é muito importante, para que ela tenha esse modelo visual. Poder observar os movimentos da boca do adulto colabora bastante para o desenvolvimento da fala infantil. Por isso, crianças com dificuldade visual por exemplo rotineiramente também têm dificuldade de linguagem.

Não use palavras substitutas

Falar sempre corretamente com a criança é a melhor escolha que os pais podem fazer, embora às vezes pareça difícil. Falar errado ou substituir palavras por outras inexistentes, mas mais fáceis ~ como mamadeira por ‘tetê’ ~ pode parecer uma mão na roda, mas não é. Como a palavra certa é outra, a criança tem que aprender duas vezes. Como a criança tende a se espelhar no adulto, se eles falarem errado, ela será influenciada.

Não antecipe nem interrompa a criança

Quando a criança está com dificuldades para completar uma frase, não a apresse. É preciso deixá-la falar no tempo dela, e os pais não podem competir com isso. Se os pais se habituarem a antecipar o discurso, a criança sempre vai esperar que alguém fale por ela. O problema se agrava na fase da gagueira, comum por volta dos três ou quatro anos de idade. Nesta época costuma haver um aumento repentino do vocabulário e a elaboração mental não acompanha a elaboração motora e por isso ela acaba gaguejando, atropelando as palavras e se repetindo. Interromper as crianças o tempo todo também faz com que elas se estressem.

Não aceite a linguagem gestual

Muitas crianças usam gestos para conseguir o que querem. A linguagem gestual pode ser uma ponte, mas deve ser superada. Se os pais sempre entregam ao filho um objeto simplesmente apontado, a criança se habitua e não aprende a pedir o que quer. Isso cria a substituição da linguagem oral pela gestual. Embora a criança ainda não fale, o pai deve explicar o que é aquilo. Por isso, no momento em que o filho apontar a mamadeira, é indicado que os pais digam: “Ah, você quer a mamadeira? Papai vai te dar a mamadeira”.

Chupeta

Existem demais situações que acontecem, como o uso de chupeta principalmente durante o dia, faz até que a criança deixe de falar, pois tem algo literalmente atrapalhando, sem contar demais estragos que faz com a dentição e respiração. Além disso, a falta de valorização na fala da criança, ou seja, ela não ser ouvida, além de ser algo que prejudique sua estima, faz com que não sendo dada essa importância, a fala será de qualquer forma, pois não existe motivação para que ela exista. Então, a chupeta é indicada até os 2 anos de idade, e o quanto antes melhor será!

Dica de especialista:

A principal dica que eu dou é o brincar, brincar com as palavras, cantar com a criança, propiciar momentos felizes com a criança, passear em lugares diferentes, com estímulos diferentes, ir com a criança ao supermercado com tempo para dar a atenção que ela vai exigir, quanto maior a sua experiência, maior costuma ser seu vocabulário, e uma das formas de trazer tudo isso é a leitura, que irá permear todos esses espaços, sem sair do lugar, diariamente pode fazer com que a criança desenvolva uma fala com vocabulário muito expressivo, porém importante atender a leituras de acordo com a faixa etária, pois a criança pode ficar com fala de adulto! O que vai causar estranhamento com as demais crianças!

A dúvida do R: Último som a ser adquirido

Abaixo, uma referência do que esperar quanto à produção dos fonemas, de acordo com a idade, segundo Wertzner, 2000.

* Idade e fonemas referente às letras

3 anos

p, t, k, b, d, g,f, s, x, v, z, j,l, r (arara)m, n, nh

4 anos

lh, s (ao final da sílaba ex, pasta, festa)

4 – 5 anos

r em encontro consonantal (ex. Prego, frio)

4 – 6,6 anos

l em encontro consonantal (ex. planta, clube)

5,6 anos

R (ao final da sílaba ex, carta, perto)Esta tabela deve ser consultada como uma referência, não uma regra. Casos que se distanciem das idades apresentadas devem procurar uma avaliação fonoaudiológica completa, pois diversos fatores podem levar a um atraso na aquisição dos sons da fala. Pequenos ajustes na rotina e no brincar da criança podem promover importante avanço no desenvolvimento da linguagem.