A fama de comilões compartilhada entre os trabalhadores das redações de jornais é conhecida por todos. O que poucos sabem é que, no caso da Folha do Mate, essa tradição de comilanças começou junto com a própria história do jornal, lá na década de 1970, e quase causou uma tragédia.
Na época, o jornal já estava no seu terceiro endereço. Após funcionar por algum tempo junto à rádio e nos fundos da paróquia, nos mudamos para um prédio na Rua Reinaldo Schmaedecke, onde hoje funciona uma loja de eletrodomésticos.
Ali, naquele velho casarão, não tínhamos sequer fogão, que dirá uma cozinha. Apenas um liquinho em cima de uma mesa cumpria as diversas tarefas do dia-a-dia, como esquentar água para o chimarrão e, no inverno, cozinhar o bom e velho pinhão. O problema é que naquele liquinho, a panela ficava logo acima do botijão de gás.
éramos apenas uma meia dúzia de funcionários na época. Eu já trabalhava a algum tempo no jornal. Como de costume, em um dia frio alguém resolveu fazer uma panelada de pinhões. Enquanto cozinhava, todo mundo voltou para o trabalho.
Quando achamos que estava quase pronto, demos uma pausa no trabalho e fomos até a sacada. Após tomar um pouco de ar fresco, eu resolvi voltar para a redação. Mas no instante que passei pela porta vi uma labareda de fogo azulado voando na minha direção.
Só foi preciso um grito de “fogo” para que todo mundo corresse. No meio da confusão, não lembro quem apagou o fogo. Mas lembro bem do botijão de gás, com a mangueira ainda em chamas, voando sacada afora.
Comilões como sempre fomos, claro que alguém lembrou de salvar a comida. Os pinhões ficaram intactos, ainda na panela com água fervendo. Só com o princípio de incêndio controlado percebemos a maior perda do dia: os pinhões ainda estavam crus.
