Também conhecido como derrame cerebral, o AVC ocorre quando há o entupimento ou rompimento dos vasos que levam sangue ao cérebro – o que pode provocar paralisia da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea adequada. Para ter uma ideia, projeções baseadas em dados do Ministério da Saúde apontam que, aproximadamente, 60% dos cerca de 285 mil brasileiros que passaram pelo problema, 50% desenvolverão alguma sequela. Por isso, muito mais do que prevenir é importante o conhecimento dos cuidados essenciais para aqueles que sobrevivem à doença.
O que acontece depois de um AVC?
O nosso cérebro está dividido em áreas, ou seja, grupos de células que são responsáveis por uma ou mais funções. Por exemplo, existem áreas específicas para andar, falar, engolir, mexer o dedo, movimentar os lábios para dar um beijo… Tudo é controlado por áreas específicas do nosso cérebro.
Depois de um AVC, existem áreas cerebrais lesadas e, portanto, consoante ao tipo e localização da lesão, poderemos ter várias funções alteradas. Por exemplo, podemos assistir à dificuldade na marcha, manter o equilíbrio, em movimentar o braço, etc.
Outras alterações podem incluir a incapacidade de comer ou beber adequadamente (disfagia) e dificuldades de comunicação, que podem afetar, tanto a expressão, quanto a capacidade de compreensão da linguagem.
As alterações são permanentes?
As alterações podem ser temporárias ou permanentes, e esta questão dependem de vários fatores que influenciam o prognóstico, como a idade da pessoa, o tipo de AVC, a extensão da lesão, o acesso a serviços de reabilitação, medicação, entre outros.
Qual o papel do fonoaudiólogo no tratamento do AVC?
– Avaliar se a pessoa tem alterações da fala, linguagem, motricidade orofacial e/ou deglutição;
– Intervir de acordo com as necessidades identificadas na avaliação, quer diretamente com o paciente, quer com a família/cuidador;
– Definir as modificações de dieta necessárias, em termos de consistência dos alimentos, que garantam uma deglutição em segurança, nos casos de disfagia.
– Fornecer estratégias facilitadoras da comunicação, se for o caso;
– Implementar meios aumentativos de comunicação, se o paciente apresentar uma perturbação grave da comunicação.
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Considerando o alto comprometimento das funções neuromuscular, motora, sensorial, perceptiva e cognitivo-comportamental, o fonoaudiólogo irá propiciar a reabilitação das funções comprometidas parcialmente ou totalmente, dependendo do grau de comprometimento da área afetada.
Vale ressaltar que o fonoaudiólogo na reabilitação de pacientes portadores de AVC atua de forma multidisciplinar, garantindo uma melhor qualidade de vida do paciente. Profissionais como médicos neurologistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, nutricionistas e psicólogos atuam intensamente em parceria com fonoaudiólogo, com o objetivo de adequar o mais breve as funções alteradas.
Lembrando que cada paciente apresenta seu próprio limite de resposta ao tratamento, limite esse que deve ser respeitado pelo profissional em parceria com a família.
O que inclui a intervenção do fonoaudiólogo?
A intervenção pode ser direta ou indireta.
Na intervenção direta, são realizados exercícios personalizados de acordo com a necessidade do paciente. Com base nos resultados da avaliação, são traçados objetivos a curto e longo prazo. A intervenção pode incluir (não necessariamente):
– Exercícios dirigidos à mobilidade da face e das estruturas orais (lábios, língua, palato mole, mandíbula);
– Ensino e treino de técnicas facilitadoras da comunicação;
– Implementação de sistemas aumentativos de comunicação;
– Treino de estratégias de articulação que tornem o discurso mais perceptível, apesar da fraqueza muscular;
– Exercícios de promoção da compreensão verbal e não-verbal;
– Ensino e treino de manobras que tornem a deglutição mais segura;
A intervenção indireta envolve o suporte, ensino e treino à família e/ou cuidador. Neste caso é de suma importância o cuidado em engajar o paciente junto a família e criar uma boa relação com o terapeuta, principalmente respeitando a forma do paciente pensar, apresentar um contexto semelhante às suas vivências, para que se aproxime ao máximo da sua realidade, dessa forma é muito mais fácil um bom resultado.
A atuação fonoaudiológica concomitante ao trabalho multidisciplinar é de fundamental importância para os pacientes acometidos por AVC, visando a reabilitação, a reinserção deste indivíduo na sociedade, valorizando a humanização pela vida e o respeito mútuo, proporcionando melhoria na qualidade de vida.
Pensando em prevenção, seguem algumas informações importantes referente ao AVC e a forma do seu acometimento:
O AVC é de início súbito, atenção sintomas:
– Fraqueza ou formigamento na face, braço ou perna, especialmente em um lado do corpo;
– Confusão, alteração da fala ou compreensão;
– Alteração na visão (em um ou ambos os olhos);
– Alteração do equilíbrio, coordenação, tontura ou alteração no andar;
– Dor de cabeça súbita, intensa, sem causa aparente.
A Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares recomenda:
1. Conheça os seus próprios fatores de risco: hipertensão arterial, diabetes, colesterol alto.
2. Seja fisicamente ativo.
3. Evite a obesidade.
4. Limite o consumo de álcool.
5. Evite o fumo do cigarro.
6. Aprenda a reconhecer os sinais de alerta de um AVC.
Qual é o momento de procurar um fonoaudiólogo?
Assim que o paciente estiver estável e do ponto de vista médico apto deve-se iniciar o atendimento fonoaudiológico, os médicos costumam solicitar avaliação ainda enquanto o paciente está internado, e dessa forma continuam quando o paciente estiver de alta hospitalar, os estudos demonstram que quanto mais cedo a intervenção fonoaudiológica iniciar, melhores são os resultados e as chances de recuperação. Devo lembrar que AVC pode acontecer em todas as idades, apesar do risco aumentado em determinadas doenças, mas não tão raro acometem bebês e/ou crianças em período de aquisição de linguagem e/ou alfabetização escolar, dessa forma, o quanto antes a intervenção, com alta frequência semanal, melhores serão os resultados.