Quem vê Luciana Oliveira de Souza, 44 anos, ajudando outras mulheres, não imagina tudo que ela já viveu. Natural de Porto Alegre, a estudante do curso técnico em secretariado do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), que hoje tem estabilidade, já chegou a morar na rua. Casada e mãe de cinco filhos, reside em Venâncio Aires há quase 25 anos.
Quando nasceu, Luciana foi abandonada pela mãe no hospital e foi criada por uma senhora que faleceu sete anos depois. “Eu lembro muito pouco sobre minha infância”, comenta. Posteriormente, foi adotada por um casal de vizinhos. Foi com essa ‘família’ que ela sofreu violência verbal e física.
Pouco antes de completar 18 anos, decidiu fugir de casa. Nos meses que passou morando na rua, aprendeu a ir atrás de comida, lugar para dormir e de segurança. “Na rua tem muita violência, estupro, prostituição e drogas”, observa.
Luciana procurava locais que ofereciam alimentos, como casas espíritas e ONG’s, para conseguir sobreviver. Dormia atrás de paradas de ônibus para não ser achada por outras pessoas. “Tinha medo de apanhar e de ser estuprada. Então sempre dormia escondida”, lembra.
Mesmo morando na rua, ela não deixou de estudar. Frequentava a escola pela noite e pelo dia ficava pela capital. “As professoras sabiam que eu apanhava, mas como a família que me criava era muito conhecida, a escola não fazia nada. Me ajudaram quando eu tava na rua, com roupas e alimentos, mas tudo indiretamente.”
REVIRAVOLTA
Ainda com 18 anos, Luciana nunca tinha ido em um baile, então as colegas de escola a convidaram e levaram ela para a festa. Nesse dia, conheceu seu companheiro Marcos André Xavier. Em poucos dias, foram morar juntos. “Cheguei em Venâncio e me senti no paraíso. A cidade era pequena e me passava segurança”, explica.
Ela sempre sonhou em ser mãe e isso logo se tornou realidade. Luciana tem cinco filhos e quatro gestações foram próximas. “Passamos dificuldades durante a infância dos meus filhos, mas sempre trabalhamos, um de noite e outro de dia, para ter pelo menos arroz e feijão para as crianças”, conta.
“Eu queria entender o que é ser mãe e me realizei tendo filhos. Hoje sou feliz e o pouco que eu tenho é tudo, porque eu tenho uma família.”
LUCIANA OLIVEIRA DE SOUZA – Auxiliar de limpeza
Ela acredita que por não ter tido uma mãe por perto, sempre quis fazer esse papel com dedicação. “Eu sou ciumenta e grudenta com meus filhos.” Também ressalta que ficava feliz brincando com eles. “Eu fui mãe e filha ao mesmo tempo. Porque eu brincava e fazia bagunça junto com eles”, diz.
COLETORAS DE SONHOS
Luciana, que trabalha como auxiliar de limpeza no IFSul atualmente, é idealizadora e coordenadora do projeto ‘Coletoras de Sonhos’, que empodera mulheres em vulnerabilidade social do bairro Battisti. Para ela, ajudar outras pessoas é uma forma de agradecer por ter superado as dificuldades e construído uma família.
No projeto, as mulheres aprendem a fazer produtos de limpeza com itens mais baratos, assistem palestras, ganham ajuda para a saúde e são estimuladas a sonhar. Em quatro meses, ela já colhe resultados, pois algumas das participantes, que não tinham escolaridade, voltaram a estudar neste ano. “Quero ensinar que tudo que elas querem, elas podem se tornar.”
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